Forçada a se casar com o primo ainda na adolescência, Val deixou o interior de Minas para reconstruir a própria vida em São Paulo.
por
Nicolly Novo Golz
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30/05/2025

Por Nicolly Golz

 

Valdete, ou simplesmente Val, nasceu entre plantações de milho e cheiro de terra molhada, na pequena São João do Pacuí, no norte de Minas Gerais. Em um lugar onde o tempo parecia andar mais devagar, o destino das meninas era quase sempre o mesmo: casar cedo, ter filhos e servir à lavoura. A tradição era regida tanto pelos costumes familiares quanto pela força da religião, Val e sua família são da Congregação Cristã no Brasil, onde o silêncio das mulheres é um mandamento e o casamento é, mais que um compromisso, uma sentença perpétua.

Val era a filha do meio de cinco irmãos. Seus pais, primos entre si, se casaram aos 13 anos e iniciaram uma vida pautada pela roça e pela rigidez religiosa. Naquela casa de chão batido e paredes frágeis, estudar não era prioridade. Mas Val tinha outros planos, com a ajuda de um padrinho persistente, convenceu os pais a deixá-la ir para a escola. Caminhava mais de 10 quilômetros para pegar o ônibus, e só faltava quando o pai a obrigava a trocar os cadernos pela enxada. Mesmo assim, estudou e se tornou a única alfabetizada de sua família. Porque entendia que a educação era sua única chance de escapar.

Mas escapar não seria tão simples. Aos 17 anos, Val foi forçada a se casar com um primo, como tantos antes dela. A justificativa era religiosa, cultural e inevitável. Com ele, teve dois filhos: Miriam e Lucas. E foi por eles que, anos depois, encontrou forças para dar o passo que mudaria sua história. Ela já tinha aceitado o próprio destino, acreditava ser mais uma mulher marcada pela invisibilidade, pelo silêncio, pela submissão. Mas quando viu seus filhos crescendo, percebeu que ainda havia tempo para mudar o curso deles, e talvez o seu também. Pegou o pouco que tinha e partiu para São Paulo.

Chegou à capital com uma mala pequena e um coração em pedaços. Dormiu no chão de casas emprestadas, dividiu espaços com desconhecidos e trabalhou no que apareceu: faxineira, cozinheira, babá, cuidadora de idosos. Com fé em Deus e força nos braços, reconstruiu sua rotina sem nunca deixar que o cansaço a definisse. Em uma de suas primeiras faxinas em São Paulo foi chamada para limpar uma mansão em um bairro nobre da zona sul. Ao entrar, seus olhos se perderam entre os detalhes: a piscina de azulejos claros, o chão de mármore, uma geladeira maior que o quarto onde dormia. Ali, pela primeira vez, viu um vaso sanitário aquecido e uma máquina de lavar louça. E também ali, pela primeira vez, entendeu que a desigualdade não era apenas econômica era estrutural, cotidiana e cruel.

Val teve que levar Miriam para o trabalho um dia, por não ter com quem deixá-la. Enquanto limpava o chão da sala, ouviu risadas vindas do quarto das crianças. Miriam brincava com a filha da patroa. Minutos depois, a patroa a chamou em voz baixa, com um sorriso gelado. Pediu que, por favor, não levasse mais a filha. E, dias depois, mandou Val embora. Disse que "não estava dando certo". Val entendeu o recado. Não era só o olhar torto. Era o prato separado, o copo de plástico, os talheres guardados em um armário diferente. Era a desconfiança velada, o “você pode esperar na área de serviço”, o “não precisa entrar”, e entender que sua presença era tolerada. E mesmo assim, ela permaneceu. Por necessidade, por orgulho, por amor aos filhos. Miriam e Lucas cresceram vendo a mãe sair antes do sol nascer e voltar exausta, mas ainda sorrindo, ainda tentando. Val se recusava a ser reduzida ao estigma de “mais uma empregada”. Por isso, foi atrás de cursos. Queria se profissionalizar, entender técnicas, estudar padrões de organização. Descobriu que era apaixonada por isso, por transformar o caos em ordem, o excesso em funcionalidade. Já fez mais de dez cursos, pagou cada um com suor e fé. E não para de estudar.

Seu trabalho hoje é em Mogi das Cruzes, onde conquistou uma clientela fiel como personal organizer. Uma antiga patroa, sensibilizada pela sua dedicação, pagou a última mensalidade do curso e a indicou para outras mulheres. A agenda de Val cresceu e com ela, a sua autoestima. Mas nem tudo está resolvido.

O marido, com quem foi obrigada a se casar, vive encostado. Não trabalha, não ajuda, não participa. Val sustenta a casa sozinha e ainda não conseguiu se divorciar. A religião que sempre lhe deu força, hoje também é sua prisão. A Congregação Cristã não aceita o divórcio. Dentro dela, mulheres como Val devem suportar caladas. Val, no entanto, vive uma batalha íntima, silenciosa, mas diária. Ela sabe que precisa se libertar desse casamento. E está decidida a fazê-lo. A fé, para ela, não está na instituição, mas em Deus. Val não perde um culto. Vai de cabeça coberta, Bíblia na bolsa e joelhos prontos para dobrar. É nas orações que encontra fôlego. Conversa com Deus a todo momento no ônibus, na limpeza, ao organizar uma gaveta. Sente a presença de Deus em tudo. E é essa presença que a mantém firme, mesmo quando o mundo parece desabar.

Hoje, aos 43 anos, Val vive com os filhos em uma casa simples, mas só dela. Decidiu que não vai mais se curvar para sobreviver. Quer viver com dignidade, com escolha, com liberdade. Ainda enfrenta preconceito, ainda batalha por respeito, mas não aceita mais ser silenciada. Val não é exceção. É o retrato de milhares de mulheres negras, pobres, invisibilizadas. Mas o que ela construiu com fé, estudo e força ninguém tira. Sua história é sobre coragem não a coragem de quem vence tudo, mas a de quem continua mesmo quando tudo conspira contra, Val sempre sendo simplesmente Val. 

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Em diferentes setores, relatos revelam o impacto direto da automação na vida de profissionais dispensados após a chegada da inteligência artificial.
por
Arthur Rocha
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20/06/2025

por Arthur Rocha

As luzes de São Paulo, em sua dança incessante, sempre foram um palco para sonhos e desassossegos. Mas nos últimos anos, uma sombra sutil, quase invisível, começou a alongar-se sobre o horizonte de concreto e vidro: a sombra da Inteligência Artificial. Não a IA dos filmes, com robôs a caminhar entre nós, mas uma presença silenciosa, um código a reescrever destinos, a destecer carreiras.

Pedro Vasconcelos, aos 42 anos, era um artista das cores e das formas. Seus 15 anos como designer gráfico na agência "Conceito & Traço", de médio porte na Vila Olímpia, eram uma tapeçaria rica de campanhas visuais, logotipos que cantavam e layouts que seduziam. Ele amava a tangibilidade de seu trabalho, o toque da caneta na prancheta, o ritual de dar vida a uma ideia. Seu escritório era seu santuário, um refúgio da agitação urbana, onde a criatividade fluía como um rio calmo.

No entanto, o rio da sua vida profissional estava prestes a encontrar uma barragem digital. Era março de 2024 quando o e-mail, frio como metal polido, pousou em sua caixa de entrada: "Reestruturação Departamental". A linguagem burocrática mascarava a verdade brutal: uma ferramenta de IA generativa assumiria as tarefas repetitivas e de alta demanda visual. A promessa era clara: redução de custos e agilidade sem precedentes. Pedro, um dos três designers, foi "realocado para o mercado".

Pedro diz que sente como se anos de experiência, de noites em claro para um cliente exigente, de cada linha traçada com intenção, tivessem sido reduzidos a um mero comando. Ele observa o horizonte de sua pequena varanda na Lapa, onde o cheiro de pão fresco se mistura ao burburinho da cidade. A notícia doeu mais que um corte. Doeu na alma. Ele não é um caso isolado. Pesquisas indicam que 53% dos empregos no Brasil podem ser alterados pela IA, com setores como o de serviços criativos, atendimento ao cliente e análise de dados entre os mais vulneráveis. Globalmente, o Fórum Econômico Mundial projeta que a automação pode substituir 85 milhões de empregos até 2025, uma onda silenciosa que avança.

Os primeiros dias foram um vácuo. Pedro acordava sem um propósito claro, o corpo ainda acostumado ao ritmo frenético da agência. A raiva deu lugar a uma angústia profunda, um desamparo quase existencial. Ele se questionava como sua arte e sua identidade poderiam ser replicadas por um conjunto de algoritmos. Os dados da Robert Half, que revelam que mais de 70% das empresas brasileiras já utilizam ou planejam utilizar IA em suas operações, eram agora uma estatística fria que o atingia em cheio.

O dinheiro da rescisão, antes um pequeno alívio, tornou-se uma contagem regressiva. Com o custo de vida crescente em São Paulo, o orçamento apertou. Pedro relata que cortou tudo que não era essencial, desde ir ao cinema até o café especial de sábado, que se tornaram luxos. Ana Clara, sua esposa, professora em uma escola pública, sentiu o peso e precisou assumir mais responsabilidades. A casa, antes um porto seguro de prosperidade compartilhada, agora ecoava uma tensão silenciosa. Pedro tentou se candidatar a vagas similares, mas percebeu que o mercado buscava algo mais: profissionais com competências digitais avançadas, familiaridade com as novas IAs. A consultoria Korn Ferry alerta que o Brasil pode enfrentar uma escassez de talentos qualificados em tecnologia em paralelo a um excedente de profissionais com habilidades desatualizadas. Pedro era uma dessas estatísticas vivas.

Hoje, nove meses após a demissão, Pedro está em um limbo. Ele fez cursos online sobre ferramentas de IA para designers, buscando entender como a tecnologia pode ser uma aliada. Ele explora a ideia de se tornar um "prompt engineer" – alguém que sabe dar as instruções certas para a IA. Para ele, não é mais sobre "criar do zero", mas sobre "dialogar com o que já existe" e refinar. Ele também busca refúgio em nichos que valorizam o toque humano insubstituível: design de experiência do usuário (UX), que exige empatia, e branding conceitual, onde a estratégia e a alma de uma marca ainda dependem de uma mente humana. Pedro afirma que é uma corrida contra o tempo e que precisa aprender a usar essas ferramentas para não ser completamente engolido, para achar sua voz de novo, enquanto esboça novas ideias em seu tablet, agora com a ajuda de um software de IA.

Clara Rezende, aos 35 anos, era uma analista de dados brilhante. Sua mente trabalhava com a precisão de um relógio suíço, transformando planilhas complexas em insights acionáveis para a "Synapse Consultoria", uma grande empresa na Berrini. Ela amava a lógica, a beleza dos padrões ocultos nos números, a sensação de desvendar mistérios através da matemática. Seu trabalho era seu orgulho, sua torre de babel construída em códigos e relatórios que orientavam decisões corporativas de milhões.

Em outubro de 2024, a notícia chegou como um raio em céu azul, sem a menor previsão em seus modelos estatísticos. O diretor do departamento anunciou um novo "parceiro estratégico": um sistema de IA capaz de processar volumes massivos de dados, identificar tendências e gerar relatórios preditivos em uma fração do tempo que um humano levaria. "Otimização de processos" foi a palavra-chave. Clara, juntamente com metade da equipe de análise de nível júnior e pleno, foi dispensada.

Clara relembra, com um tom de voz ainda carregado de uma incredulidade amarga, que lhe disseram que suas tarefas eram "rotineiras demais", que a máquina faria isso com mais "eficiência". Ela, que dedicou anos a aprimorar seus modelos e a entender as nuances dos dados, viu seu conhecimento ser sumariamente descartado. A ironia era cruel: ela própria, com sua expertise em sistemas, havia ajudado a construir plataformas que agora a substituíam. Pesquisas indicam que a IA tem potencial para impactar significativamente 2,4 milhões de empregos no Brasil nos próximos três anos, com o setor financeiro e de serviços sendo altamente expostos.

O desemprego para Clara foi um choque que reverberou em cada aspecto de sua vida. Acostumada à estrutura e à clareza dos dados, ela se viu em um mar de incertezas. A rotina desabou. As manhãs, antes preenchidas por reuniões e algoritmos, agora se estendiam em uma busca incessante por vagas. As ofertas, quando surgiam, eram para salários muito menores ou exigiam habilidades que ela não possuía, como "engenharia de prompt" ou "ciência de dados com IA generativa", áreas que sequer existiam em sua formação inicial.

O impacto financeiro foi imediato e severo. Clara, que sempre foi independente, viu suas economias minguarem rapidamente. Ela teve que se mudar do seu apartamento confortável nos Jardins para um menor e mais distante, no Tatuapé. Ela tenta racionalizar, dizendo que é um recuo, um passo para trás para talvez poder dar um passo para frente, mas a frustração transborda. A pressão social, o olhar dos amigos que ainda estavam empregados, era um peso invisível.

Clara, em sua jornada, abraça a complexidade. Ela mergulhou em cursos de machine learning e ética em IA, buscando entender não apenas como as máquinas operam, mas quais são suas limitações e vieses. Ela se matriculou em um bootcamp intensivo de programação avançada, um caminho difícil, mas que ela vê como sua única saída. Seu objetivo é ser uma cientista de dados com especialização em IA responsável, atuando na fiscalização e aprimoramento dos próprios algoritmos que um dia a demitiram. Ela reflete que, por ironia, precisa entender o "inimigo" para poder vencê-lo, ou, pelo menos, para conviver com ele de forma mais justa. Ela colabora com um grupo de estudos online que discute o futuro do trabalho e a necessidade de regulamentação da IA, buscando uma voz coletiva em meio à sua luta individual.

As histórias de Pedro Vasconcelos e Clara Rezende não são apenas sobre desemprego. São sobre a resiliência humana diante de um futuro incerto, sobre a busca por propósito em um cenário profissional que se reinventa a cada dia. Elas são um espelho das transformações digitais que afetam milhões, e um lembrete de que, mesmo quando os algoritmos reescrevem o mundo, a capacidade de adaptação e a busca por um novo sentido ainda pertencem aos humanos. A questão não é se a IA substituirá empregos, mas como as pessoas como Pedro e Clara se reinventarão para coexistir e prosperar, desenhando novos caminhos em uma tela que nunca para de mudar.

 

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Olhares podem determinar o que a avenida mais movimentada de São Paulo é...
por
Vitor Bonets
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12/06/2025

Por Vitor Bonets


Ande. Passeie. Pedale. Dirija. Trabalhe. Viaje. Venda. Compre. Veja, faça ou seja arte. Seja paulista ou turista, a Avenida é a mesma, mas cada olhar determina o que ela é de fato. Ao andar pela famosa “Paulista” é possível ver de tudo, desde o homem que se equilibra em pernas de pau na frente do farol até a mulher que equilibra os produtos em cima da cabeça. O empresário engravatado que carrega a vida dentro de uma pasta embaixo do braço até o morador de rua que carrega seu mundo de papelão na palma das mãos. Nenhum deles debaixo do mesmo teto, a não ser que estejam por algum motivo abaixo do MASP. Porém, todos em cima da mesma calçada. Para alguns, um solo sagrado. Para outros, um solo sangrento. E para todos, a mesma Avenida. 

Cerca de 1,5 milhão de pessoas passam pela Paulista todos os dias. 63% estão na avenida a trabalho. 14% escolhem a região para atividades de lazer. Seis em cada dez frequentadores são mulheres. 60% são da classe emergente. 73% dos adultos que transitam pela avenida - sete em cada dez - têm até 35 anos. Apenas 1% dos visitantes tem acima de 56 anos. Sabe o que esses números significam? Nada. 

A não ser que sejam acompanhados de uma história. Números são só números. Histórias são mais que histórias. Assim como a de Gerson, que conta a sua e canta a de outros cantores. O homem, de 36 anos, faz o papel de quem dá luz à Avenida mais iluminada de toda a cidade de São Paulo. Com apenas um cavaco e um banquinho, vestido com sandálias da humildade e travestido de Zeca Pagodinho, Gerson canta como se fosse estrela, em uma noite estrelada na capital, a música “Naquela Mesa”, de Nelson Gonçalves.  Ele cantava a história, que hoje na memória todos que estavam ao redor quase sabiam de cor. Ao invés da mesa, ele juntava gente na frente do banco, seja no que ele estava sentado ou no Santander que figurava atrás de seus ombros, para ouvir em alto e bom som a música. E nos seus olhos era tanto brilho, que nem os postes da Avenida entendiam de onde vinha tanta luz. Gerson e seu chapéu para as moedas estão no mesmo ponto desde 2022. Uma hora na cabeça, outra no chão, o amuleto que carrega os trocados está sempre presente. O cantor usa o acessório que ganhou do pai para recolher o dinheiro de quem passa e tem os ouvidos agraciados com as canções. Graça mesmo sente o artista, que abre um belo sorriso quando o faz-me-rir é depositado no protetor de sonhos. 

Nascido em 1979, 20 anos após o ídolo Jessé Gomes da Silva Filho, Gerson teve tempo suficiente para aprender o que Zeca tinha para ensinar. Deixou a vida lhe levar, até que ela a levou de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, até o ponto principal da Metrópole. A Avenida Paulista. Ali, ele encontrou tudo aquilo que ainda não tinha visto. E já que o camarão que dorme a onda leva, ele decidiu ficar sempre de olhos abertos no meio desse mar de gente. Mar esse que parece não dar trégua para ninguém que se atreva a pegar uma onda. Mas Gerson subiu na prancha e dominou a praia paulista cheia de prédios comerciais altos e com banhistas que te olham de cima a baixo se você estiver com “roupas inadequadas”. E como todo bom artista, o cantor não está nem aí para as vestes e faz questão de ser olhado. Porém, ainda sente que só te olham, mas não o veem. Aliás, se sente surpreso quando alguém pergunta seu nome e quase que em tom de esperança entoa que se chama “Gerson da Paulista”. 

Se a Bahia é de todos os santos, se todos os Zecas têm um quê de Rio de Janeiro, a Paulista tem algo para chamar de seu também. Ou melhor, a Avenida tem o seu artista e vice-versa, assim como versa Gerson. 

Foi na Paulista que Gerson se viu como parte do todo. Com tantas pessoas que passavam em sua frente desde o primeiro dia em que lançou os dedos sob o cavaco, ficou fácil para o músico escolher onde queria ficar. Ele faz da calçada seu “palco a céu aberto” e dá um show para quem quiser parar e ouvir o que o cantor tem a cantar. Sem ingresso para entrar e sem área vip para assistir, são todos um só conectados apenas pela voz de quem “dá uma palinha”. 

E não são poucos que param para apreciar sua arte. Principalmente nas noites em que a cidade não dorme, forma-se um público ao redor do banquinho do cantor. E que sorte de quem acompanha o espetáculo. Pedro é um deles. Impressionantemente, o jovem de apenas 19 anos, sabia todas as músicas que Gerson puxava. Desde o samba do mais velho até o pagode do mais novo. Só não colocou a ginga para jogo, porque não nasceu com o samba no pé, mas pelo menos estava com o ritmo na palma da mão. 

Pedro, após mais uma grande apresentação foi agradecer pelo show proporcionado. E como forma de retribuição, estendeu a mão ao artista, colocou uma onça-pintada no chapéu do artista e fez um pedido especial. Agora, não era para que outra música fosse tocada, mas sim para que ele pudesse dar um abraço em Gerson. O jovem arrancou um sorriso do cantor que nenhuma nota, seja qual fosse o valor, poderia arrancar. O abraço foi dado, o público em volta aplaudiu e talvez o artista tenha ganho um dos seus maiores cachês de todas as noites de apresentação na Paulista. Gerson fez um amigo com uma onça e não um amigo da onça como muitos que existem por aí. 

Após o show, as estrelas se recolhem no céu e na calçada. As únicas luzes que continuam a iluminar a Avenida são as dos edifícios e é difícil não reparar em como elas não se apagam. A paulista sempre tão movimentada, de madrugada deixa só que alguns “gatos pingados” andem por ela. E se há gato, há rato. Alguns, de cinza, sempre estão pelo local, já que para eles os Gerson’s que estão pelas ruas são criminosos. E para eles, infelizmente, não é por roubarem a atenção dos que passam pelo local com a família. 

A Paulista que nunca dorme, virou mais uma noite. Ao raiar do sol, já se viu lotada novamente. Cheia, quase entupida de tanta gente, trouxe a velha máxima de que mesmo que esteja apertada, sempre cabe mais um.  Seja a passeio ou a trabalho, a calçada é a mesma. Seja como caminho para o trabalho ou casa, a calçada é a mesma. Seja como vitrine ou palco, a calçada ainda é a mesma. A Avenida Paulista é para todos, por bem ou por mal. Sagrada ou sangrenta. Tudo depende dos olhos de quem olha, dos pés de quem anda, dos ouvidos de escuta ou da voz de quem canta. 
 

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Palavras tem o poder tanto de preservar a vida de alguém como ajudar a afundar uma. Essa, é uma virtude e o maior sufoco de uma pessoa que trabalha diariamente tentando preservar vidas
por
Beatriz Alencar
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20/06/2025

Por Beatriz Alencar

 

A cada dia, em média, 34 pessoas tiram a própria vida no Brasil. Por ano, são registrados 14 mil ocorrências. Apesar de um assunto banalizado, não é uma atitude pensada de repente. O suicídio é o último pedido de ajuda daqueles que mais querem viver. Encarando esse cenário diariamente, Rosa* (*nome inventado para poupar a identidade verdadeira da entrevistada), que faz parte de um Centro de Valorização da Vida, um instituto que tem como função prestar apoio emocional para prevenção de suicídios, declara que uma das lições mais importantes que aprendeu trabalhando com isso, é que palavras tem o poder tanto de preservar a vida de alguém como ajudar a afundar uma.

Nos primeiros meses de trabalho, Rosa prestava apoio apenas através do telefone. Mas era difícil ajudar ainda tendo em pensamento que a vida era valiosa e que dar fim a ela não acabava com o sofrimento, só gerava outros em quem ficava. Porém, esse conceito mudou depois de uma ligação. Rosa explica que a identidade dela ou de quem atende pode ser preservada caso queiram. Ela não tinha o costume de trocar o próprio nome, mas em um atendimento específico, nem teve a chance de dizer.

A pessoa do outro lado da linha chorava muito. Rosa apenas conseguia pedir para respirar fundo. E permaneceu assim por minutos. Até que ela conseguiu dizer que tinha tentado mas nem isso conseguia fazer dar certo. Às vezes, a pessoa tem que lutar tanto pela vida que nem sobra tempo para viver. Nosso sistema nos diz que podemos ser grandes vencedores, mas não nos contam a respeito das misérias, dos suicídios ou do terror de uma pessoa sofrendo sozinha em um lugar qualquer. E no fim, criam uma população frustrada.

Parte disso passou na cabeça de Rosa ao ouvir aquela frase de um desconhecido que tinha ela como confidente. Ela sabia dessa versão "sombria" da vida, mas confessa que se assustou ao lembrar que teve que atender, em um único dia, mais de 5 ligações. Ao longo da chamada, a pessoa do outo lado da linha revelava cada ponto da vida dela, tentando achar uma explicação do porquê se sentia assim e por que tinha ligado, mesmo achando que o suicídio era a melhor solução. De acordo com Rosa, isso era comum.

A pessoa também contou já ter beijado mais bocas de garrafas do que pessoas, e como cada memória de momentos bons da sua jornada não era uma bênção. Isso, porque as lembranças vinham como flashes incovenientes que surgiam sem nenhum consentimento. Como algo que deveria ajudar ele a viver, só dava mais desespero? Para Rosa, vida é um ato de desapego. E o que mais dói é não reservar um momento para se despedir. Por mais que falasse desejar acabar com a vida, a pessoa do outro lado da linha ainda não tinha se despedido dela.

Rosa entendeu que aquela ligação não exigia mais do que seu ouvido. Só se fosse pedido. E ela sentiu esse querer em um suspiro. A pessoa do outro lado da linha declarou que sabia o porquê tinha ligado: depois de desligar, tudo ia ser esquecido. E ele também. Rosa não podia deixar a pessoa desligar.

Foi quando declarou: "eu vou me lembrar de você".

Depois de um silêncio, a pessoa agradeceu. Mas Rosa não conseguiu ser tão bendita quanto a morte, que é o fim de todos os milagres.

O último som que conseguiu escutar foi um grito seguido de um estalo. Ela o perdeu. E passou meses se culpando e sonhando com aquela voz do outro lado da linha. Por conta dessa ligação, Rosa demorou para começar os atendimentos presenciais, mas conta que, quando iniciou o trabalho tendo contato com as pessoas e a imagem de um rosto real, ficou muito mais fácil de controlar o próprio desespero.

Rosa já foi a parapeitos, casas de repouso, em ruas consideradas perigosas e centros de detenção. Ela revela que o medo do lugar nunca passou pela cabeça, mas sim, o receio de ir até alguém que não conseguisse segurar sua mão. O que já aconteceu algumas vezes, mas preferiu não comentar os casos isolados.

A vida pode ser emocionante e magnífica e, essa, é a sua maior tragédia. Sem a beleza, o amor, o perigo e as expectativas, seria mais fácil de viver. Rosa teve que lidar com perdas mas também guarda vezes em que foi capaz de preservar uma vida. Às vezes, se via até mesmo encarando em como lidar com a própria e se esse era seu objetivo. Ela ficou o quanto pôde, considerando as limitações da idade, então diz que hoje, sabe que, pelo menos uma das metas, foi cumprida.

Com o tempo, as vivências de Rosa se assemelharam ao dia a dia de alguém que trabalha no setor da saúde: com situções difíceis de lidar, mas corriqueiras o suficiente para não absorver o sofrimento. Mas para isso foi preciso acumular muitas histórias.

No fim do dia, conseguimos suportar muito mais do que pensávamos e, no fim da vida, guardamos tudo o que dela nos foi proporcionado.

As cicatrizes não precisam de "porquês", e o suicídio também não. A cura não vem do esquecer, vem do lembrar sem sentir dor. É um processo que nem todos estão dispostos a encarar sozinhos. E essa era a função que Rosa desempenhava.

Como tudo começou

Rosa entrou para esse meio em uma fase que todos compartilhamos em comum em algum momento da vida: no auge dos seus 20 anos, precisando de um emprego e com dificuldades para encontrar um. Não se identificava com muitas das opções do mercado de trabalho mas, mesmo assim, esperava um retorno das empresas das quais, diariamente, entregava currículos.

Foi então que esbarrou em um CVV. Depois de andar por todos os cantos procurando uma chance de ganhar alguma renda, encontrou uma oportunidade a poucas quadras de casa. No curso de treinamento, ela aprendeu diversos conceitos, como a importância de escutar, mas não achar que isso é a única solução; a necesidade de mostrar para as pessoas que, independente das escolhas dela, a vida dela é tão importante como qualquer outra; além do poder do afago, da palavra e, sobretudo, a falta de julgamento. 

Rosa perdeu as contas de quantas ligações atendeu, de quantas reunões frequentou, lugares visitou e de quantas pessoas que ajudou encontrou por acaso na vida. De acordo com ela, todas essas experiências a fizeram ter uma relação diferente com o que chamam de destino e final. Aprendeu que as emoções que ficam muito tempo guardadas, ao invés de serem esquecidas, devem ser reiventadas. Mas é sempre cristalino como a força de alguém aumenta quando percebe que ela está segura, quando é notada e quando percebe que pode e deve ser amado.

Rosa não trabalha mais diretamente com o CVV, mas é sócia de uma instituição sem fins lucrativos que acolhe pessoas em profundo estado de depressão e as ajudam a retornar a viver sem culpa. Ou, como ela mesma declara, voltar a enxergar prazer nas pequenas coisas e agradecer até em sentir um pingo de chuva no cabelo que acabou de passar chapinha.

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Tido como foragido por um erro na Justiça, Victor Lopes Centeno viveu um pesadelo por quase 7 anos
por
Julia Quartim Barbosa
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12/06/2025

Por Julia Quartim Barbosa

 

Em agosto de 2018, Victor conversava com amigos em uma rua perto de casa quando a polícia apareceu. Entre as agressões e o algemamento, os policiais perguntavam onde estavam as chaves, que mais tarde Victor descobriria serem de um veículo roubado a 2 quilômetros dali, encontrado na mesma rua. Uma amiga da família viu a situação e correu para chamar Ivanilda, a mãe de Victor, que agora era tido como assaltante.

 Victor foi apontado pelas vítimas como o responsável pelo roubo e reconhecido por uma foto, porém, voltaram atrás. Um vídeo de câmera de segurança ajudou a comprovar sua inocência, no entanto, a imagem, que mostrava o carro roubado passando pela rua enquanto ele caminhava ao lado de um colega, não foi suficiente, e as evidências de sua inocência não impediram que o rapaz ficasse mais de três meses preso.

Em novembro do mesmo ano, o caso foi a julgamento e ele foi absolvido por falta de provas, porém, esse não era o fim da história de Victor com o erro da justiça. Mesmo depois do alvará de soltura, Victor ainda foi detido injustamente outras 10 vezes. Isso porque, até maio de 2025, quase 7 anos depois, o mandado de prisão ainda seguia ativo.

Detido em casa, no trabalho e até mesmo diante de seu filho, na época, Victor perdeu seus dois empregos e juntou dinheiro para comprar uma moto, que até hoje utiliza para trabalhar como motoboy. O problema, é que os radares inteligentes dispostos pela cidade acionavam a polícia assim que o rapaz, tido como foragido, passava por um deles. 

Depois da sétima prisão, a advogada de Victor entrou com um pedido para que determinassem a baixa definitiva do mandado de prisão e a comunicação urgente a todos os órgãos públicos competentes para eliminação de qualquer registro de procurado junto com uma atualização cadastral. A solicitação seguiu sem resolução até o dia 13 de maio deste ano, dois dias depois da exibição do caso no domingo à noite, em um programa da TV aberta, quando ele recebeu a notícia de que, finalmente, poderia viver tranquilo.

O sistema judiciário brasileiro, em sua complexidade e morosidade, é palco de diversas injustiças que afetam diretamente a vida dos cidadãos. Na edição de 2024 do “Rule of Law Index”, publicado pela World Justice Project, o Brasil ocupava a 80º posição no ranking global de Estado de Direito entre 142 países. Entre as categorias analisadas pelo índice, o Brasil teve seu pior desempenho no campo da justiça criminal, disputando o primeiro lugar de judiciário mais parcial do mundo com a Venezuela.

Um levantamento realizado pelo jornal O Estado de S. Paulo em fevereiro de 2024 com informações da Base Nacional de Dados do Poder Judiciário, mantida pelo Conselho Nacional de Justiça, revelou que 40 milhões de processos no país contêm algum tipo de erro, evidenciando falhas que vão desde a coleta de informações até a análise de provas. Esses erros, por sua vez, contribuem para condenações equivocadas, prisões indevidas e a perpetuação de ineficiências que minam a confiança da população no sistema. 

Um dos aspectos alarmantes se manifesta nos problemas relacionados aos mandados de prisão. De acordo com uma pesquisa da Innocence Project Brasil, mandados com erro e falhas no reconhecimento já levaram quase 2 mil inocentes ao cárcere.

Devido a falhas na base de dados ou falta de atualizações no sistema, mandados já cumpridos, revogados ou com informações errôneas permanecem ativos. A gravidade é tamanha que advogados chegam a recomendar que seus clientes, mesmo sem pendências, portem um habeas corpus no bolso para evitar prisões injustas. Essa foi a realidade de Victor Lopes Centeno, de 25 anos, por quase sete anos. O caso de Victor é um entre os 40 milhões de processos com algum tipo de erro e se junta às quase 2 mil prisões de inocentes já identificadas no Brasil por falhas em mandados ou processos de reconhecimento. Para além de uma falha burocrática, a advogada do rapaz entende a situação como uma grave violação da dignidade da pessoa humana, e uma violação à honra e à imagem.

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Desde março deste ano, diversas operações policiais acontecem na região para combater o tráfico de drogas no Centro de São Paulo. O foco era dispersar a Cracolândia da Praça Júlio Prestes; agora, os usuários estão espalhados em pelo menos 16 pontos da cidade
por
Gabriella Maya, Giovanna Crescitelli, Guilherme Campos e Julia Nogueira
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08/12/2022

A Cracolândia em São Paulo voltou a ser pauta de propostas de “resolução” no debate, a poucos meses da eleição tanto âmbito do Legislativo quanto do Executivo. Por conta das sucessivas tentativas de acabar com a situação, gerou-se uma nova dispersão dos moradores, piorando de forma abrupta a situação tanto das pessoas que ali vivem quanto a vida desta população excluída. 

Em junho deste ano, o vídeo de uma mulher sendo agredida por agentes da Guarda Civil Metropolitana a golpes de cassetete e gás lacrimogênio viralizou e gerou grande repercussão na mídia. O fato ocorreu na região da Santa Cecília, onde a Cracolândia se concentra após a última grande ação das polícias na cidade de São Paulo.

Violência policial se tornou um dos artifícios do Estado para tentar responder de maneira rápida às Cracolândias. Mas, como de acordo com a jornalista e doutora em Ciência Política pela PUCSP, Deysi Cioccari, tentar resolver pautas como essa de maneira rápida e sem “tratar a raiz” é um problema da política brasileira: “É um processo a longo prazo, social, e não do dia pra noite e isso não dá voto”, explica.

Fernando Haddad, do PT, defendeu durante os debates e em sua campanha que “o que tem dado certo no mundo é um programa que envolve teto, tratamento e trabalho”. O Programa de Braços Abertos, criado por ele, e posto em prática durante seu governo na Prefeitura de São Paulo em 2014, previa a oferta de moradia em primeiro lugar para os moradores da Cracolândia, sem nenhuma espécie de condicionante, e ofertava trabalho em alguns serviços de zeladoria, como a varrição de ruas.

O atual governador e candidato à reeleição, Rodrigo Garcia (PSDB), afirmou que a Cracolândia precisa de "ação e tratamento para dependentes químicos e ação policial".

Para Tarcísio de Freitas, do Republicanos, suas propostas aplicam uma política de "valorização do profissional de segurança pública, acolhimento, assistência jurídica, médica e habitacional, assim como a revitalização dos centros das cidades, e habitação". O candidato acredita que a o problema da Cracolândia é um problema do estado precisam de uma união de políticas públicas.

Como criar soluções eficientes para a questão?

Para Daniel Mello, militante d'A Craco Resiste - um coletivo autônomo que atua contra a violência policial na região - o projeto piloto da prefeitura do governo Haddad foi uma iniciativa pequena para o tamanho do problema. Daniel afirma que as propostas "têm que ocorrer na direção de cuidar das pessoas e não atacar as drogas. Essas propostas policialescas existem porque existe uma força política em torno disso”.

O coordenador do programa Pão do Povo da Rua - que atua distribuindo alimento para a população de rua -  Ricardo Mendes, diz que “soluções prontas e editadas para agradar e esconder para baixo do tapete a realidade, podem se tornar marketing eleitoreiro”.

Segundo Deysi Cioccari, pautas como essa acabam entrando num âmbito genérico, porque para entrar na especificidade do assunto, o candidato tem que mostrar se sabe do assunto ou não. Cioccari também relaciona o tema com a “espetacularização” da sociedade, e como a mídia com “programas específicos de televisão glamourizam a violência”.

O militante da Craco Resiste também aponta que resolver a Cracolândia passa por aspectos estruturais da nossa sociedade. Segundo ele, é preciso entendê-la não como necessariamente um espaço de uso de drogas, e relembra que “vão para Cracolândia pessoas que não encontram outros espaços na cidade”.
Uma pesquisa da Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas, realizada em 2019, mostrou que apesar dos 31,2% dos entrevistados afirmarem que estão na Cracolândia pela disponibilidade da droga, existem 13,2% de pessoas abandonadas pelas famílias.

Daniel complementa citando pessoas com transtorno mentais que não podem ficar com a família, pessoas que saem do sistema prisional e não têm oportunidade de emprego, ou que foram expulsas de casa.
Para o militante, tudo isso parte para uma situação de que quando a pessoa está na rua, a droga acaba substituindo a comida, por exemplo. E tentar resolver a questão somente como política de drogas não é o caminho: “Só tirar o crack não resolve nada”.

Em de julho de 2022, a prefeitura de São Paulo divulgou resultados da operação policial Sufoco. Segundo Ricardo Nunes, prefeito da capital, “os primeiros resultados da Operação Sufoco mostram que a ação também está sendo bem-sucedida. Com o pacote de modernização da PM e a ampliação do efetivo da GCM, com o concurso que está sendo realizado, além de outros investimentos, a cidade terá condição de atuar com ainda mais eficiência no combate ao crime e na proteção das pessoas". 

O que dizem os candidatos ao cargo de deputado (a) de São Paulo:

A candidata Carina Vitral, do PCdoB-SP, que defende bandeiras do campo da esquerda política, explica que esse “drama social” precisa ser combatido com múltiplas medidas que combinem redução de danos, acolhimento às vítimas e políticas sociais, educacionais, econômicas, ambientais, e outras que assegurem vida digna a toda a população.

A candidata Déia Zulu AfroFuturista, do PT, que diz que a Cracolândia, que deveria ser uma praça de eventos, acabou sendo “um ponto focal das dificuldades da cidade em resolver os seus problemas”. Déia critica os governos anteriores, e pontua que um governo que não olha para as pessoas piora isso situações como essa. “Nos governos Dória, Covas, Nunes, o que fizeram foi juntar GCM e a PM para jogar água fria nas pessoas durante o inverno. Eles precisam entender que é um problema de saúde pública.”

Como meios para solução, Déia Zulu afirma ser necessário realizar uma força-tarefa entre as assistências sociais da prefeitura e do estado, para conseguir ter acesso à dados, e saber da onde essas pessoas vieram, e tentar realocá-las num local de convivência. Déia ainda questiona o motivo de tanta demora para que isso seja feito, já que segunda ela, o centro da capital está com diversos prédios vazios, fechados e abandonados.

A mesma comenta ainda, sobre o rombo familiar existente naquele local:  “Tem gente que vai precisar se restabelecer, como pai, como mãe” E afirma que assistência social, que inclui psicólogos e médicos, é a primeira fase para a reestruturação social. “A gente não pode ter prefeitos e governadores que acham graça em jogar água fria numa pessoa que está morando na rua às 7:00 da manhã”, finaliza Zulu.

A cracolândia já afeta o estado há mais de 30 anos

Altair Moraes, candidato pelo Republicanos, diz à reportagem que a Cracolândia é um câncer social, e complementa dizendo que por diversas vezes a dispersão dos dependentes químicos não resolveu o problema. “Eles simplesmente se deslocaram para outras regiões próximas e continuaram se drogando e praticando crimes. Por isso, há necessidade de ações conjuntas da prefeitura e dos órgãos estaduais competentes para resolver o problema”. 

Rafael Moreno, do PMB, enxerga que a questão da Cracolândia envolve a polícia militar do estado de São Paulo, e diz acreditar que sem a internação compulsória, não há solução alguma, “Chega uma hora que a família perde o controle sobre eles. Não adianta, o único jeito é a internação compulsória”. Moreno ainda pontua que a Cracolândia não se trata apenas de uma questão de segurança pública. Para ele, o governo precisa fazer parcerias e arrumar empregos para que os dependentes saiam de lá trabalhando, e que tenham um recomeço. 

Para Alexandra Abreu, do Partido Novo, “não  tem mais como a cidade de São  Paulo  ficar nessa situação”. Segundo ela, a população da capital não pode mais andar tranquilamente pela cidade, com o medo constante de ser assaltado. Alexandra finaliza dizendo ser triste ver essas pessoas vivendo em situação de vulnerabilidade, e que é a “degradação do ser humano” que ali está naquele local. Assim como Moreno e Silmara, ela é adepta da internação compulsória e que depois de tratados, os usuários sejam qualificados, possam ter um trabalho e assim “conquistar o seu espaço”. 

Se as operações policiais são um sucesso ou não, depende. É fato que os conflitos desencadeados pelas ações policiais preocupam os moradores e os donos de comércios do centro, e muitos pensam em fechar as portas. À noite, relatos de grupos quebrando estabelecimentos e criando confusão são cada vez mais recorrentes.

Monica Seixas, candidata à reeleição do PSOL, diz que a questão dos dependentes químicos vai muito além da segurança pública, e se trata de uma questão de saúde pública que deve ser discutida em todas as esferas. “ Sabemos que essa é uma questão que não será resolvida a curto prazo. É preciso investir e cuidar da base da sociedade, desde a infância”. A mesma defende a criação de uma proposta de redução de danos, com a criação de centros de acolhimento aos usuários, e “tratar os dependentes químicos não com operações policiais, mas sim com ações cuja a base seja a assistência social”.

Alexandra Abreu, do Novo, complementa dizendo que só a política não acabará com a Cracolândia, e que é necessário “integrar as polícias civil, militar, a GCM, e combater o tráfico.” Além de acesso à saúde e assistência social para esses dependentes. 

O que vem sendo feito está gerando algum resultado positivo?

Em junho de 2021, a Polícia Civil deflagrou pela primeira vez a Operação Caronte no centro de São Paulo. O objetivo era combater o tráfico na região da Cracolândia, ou como ficaram conhecidos os bairros onde o consumo e o comércio de drogas acontece quase livremente. Um ano depois, em junho deste ano, a polícia realizou mais uma fase da operação com 75 mandados de prisão e prendeu 111 pessoas além de apreender toneladas de drogas.

Em maio deste ano, 650 oficiais participaram da sétima ação da operação Caronte, cujo único objetivo era tirar os usuários, e suas barracas, da Praça - apontada como nova Cracolândia. Vinte pessoas foram presas e levadas para a delegacia de Santa Cecília (77º DP). Na sexta ação, realizada em 14 de abril, 22 mandados de prisão e seis de buscas e apreensão foram autorizados na Praça. Desde o início das operações policiais, os usuários se espalharam em pelo menos 16 pontos da cidade.

“Fizemos apreensões expressivas aqui na seccional centro. Apreendemos 600 kg de cocaína que concluímos ser destinados ao abastecimento da Cracolândia”, afirma Roberto Monteiro Dias, delegado titular da 1ª Delegacia Seccional, responsável pela região central de São Paulo. Para sustentar essa tese, a polícia baseia-se também em prisões feitas nos últimos meses. 

O candidato Altair Moraes, que também é apresentador do quadro “Alto Aí” do Cidade Alerta, na Record TV, relata que acompanhou de perto o trabalho dos policiais civis e militares na Cracolândia, e que “é preciso aprender com os erros do passado'' e que não há como se ter uma ação única na Cracolândia.

Não é estranho que candidatos a deputados estaduais pelo estado de São Paulo, de diferentes espectros políticos, enxerguem que é necessário mudar a forma que o problema está sendo tratado. É fato que o problema da Cracolândia persiste, e, enquanto for tratado como área de lazer de criminosos, e não como real problema de saúde e segurança pública, estará longe de ser resolvido.

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Cresce o número de agentes policiais como candidatos nas eleições de 2022
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Carlos Gonçalves e Tomás Furtado
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08/12/2022

As eleições de outubro bateram o recorde no número de policiais e de oficiais de forças de segurança para disputar cargos políticos. Segundo o levantamento realizado pelo Tribunal Superior Eleitoral, foram mais de 1,8 mil candidatos registrados, o que representou um aumento de 27% em relação ao pleito anterior. Sendo impulsionados pela pauta de segurança encabeçada por Bolsonaro e a esperança de assegurar mais direitos, os que concorrem veem como uma oportunidade de conquistar um cargo na política e de melhorar as condições de trabalho dos policiais.

O impasse policial

Considerada como uma das profissões mais estressantes do mundo, o policial passa por constante pressão psicológica, baixos salários e hostilização por parte da sociedade. Segundo o 16º Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2021, houve 121 casos de suicídio entre policiais no Brasil, tendo um aumento de 55,4% quando comparado ao ano anterior. Em termos da média populacional, este número é quase oito vezes maior.

A constante exposição à violência, aliada ao elevado risco de morte e situações traumatizantes formam elementos que podem impactar diretamente a saúde mental dos policiais. Esses fatores podem torná-los mais vulneráveis, potencializando o surgimento de doenças psiquiátricas, como depressão e ansiedade; doenças que podem ser encaradas como sinais de fraqueza ou de falta de comprometimento profissional pela instituição.

O delegado Mario Palumbo, do MDB (Movimento Democrático Brasileiro), terceiro vereador mais votado em 2020, diz que: “há fortes restrições na corporação, no nosso serviço você consegue resolver alguns problemas até certo ponto, além disso, só é possível resolver entrando na política”.

O policial não pode entrar em greve, sofre com casos de corrupção, falta de infraestrutura e fornecimento de equipamentos de segurança, não podendo protestar fora das normas da corporação. Por ter autonomia limitada para resolver essas situações, acabam aceitando as condições impostas.

Com muitos se sentindo sob pressão, observados e julgados pelas suas ações, Palumbo diz que os policiais se sentem desrespeitados pela população: “daqui a pouco vão pedir para gente servir um café para quem você vai prender”. Por ser um consenso entre grande parte dos agentes, torna-se mais fácil para os policiais se agruparem, “todos estão passando pelo mesmo perrengue”, conclui.

A falta de representatividade e apoio institucional, fez surgir entre os agentes um crescimento natural do interesse pela política, sendo visto como a única saída para buscarem os seus direitos trabalhistas. Somado a extrema direita no poder, que traz pautas sobre armamentismo civil e segurança pública, surge para os policiais o terreno propício para recorrerem aos seus direitos.

Troca de valores na participação política

Como principal ferramenta para alavancar votos, o uso das redes sociais são utilizadas para impulsionar a popularidade dos agentes, autopromovendo a sua imagem como um bom representante político para defender os direitos da categoria. No entanto, além de desejarem assumir o papel de representante dos policiais, os candidatos priorizam o seu interesse pessoal em conquistar poder e influência no campo político.

Segundo Fábio Vasconcellos, cientista político e doutor pela UERJ, o fator da violência funciona como uma estratégia dos policiais como bandeira eleitoral. Utilizando o seu serviço em campo para fortalecer a sua imagem política, muitas vezes de forma não ética e desrespeitando o código judicial. “Esses candidatos apresentam características em comum, o discurso radical e o fato de usarem das prerrogativas concedidas pela sua posição pública em benefício próprio”.

Os membros das forças de segurança têm uma vantagem maior na questão da sua representação midiática, pois além de falarem para os colegas de trabalho, conseguem alcançar a população, “eles utilizam de discursos populistas que a sociedade se interessa, dizendo que vão prender mais criminosos e impedir o tráfico de drogas”, diz Vasconcellos. Aplicando também a narrativa de arriscar a vida para proteger a comunidade, sendo estratégias que funcionam para o ganho de votos.

Esse fenômeno da transformação do policial em figura de herói está sendo formado há décadas, desde os programas policiais que cobrem o dia a dia dos agentes até mais recentemente com o surgimento de celebridades policiais. Mario Palumbo, que também foi protagonista do reality show “Operação de risco”, diz que muitos policiais estão utilizando o poder que possuem para ganhar popularidade nas redes sociais: “não sou contra as forças de segurança usando esses veículos para fazer propaganda política”. O delegado enfatiza que este é o único jeito de competir contra o poder que os políticos detêm.

O tiro pode sair pela culatra

A organização militar identifica como problemática a figura do policial herói e mais especificamente o policial celebridade, que utiliza do seu status e suas histórias como munição para os seus interesses políticos. O deputado federal coronel Glauco Marcolino, observa que: “essa glamourização também causa problemas no comportamento dentro da instituição, criando mais abertura para a manipulação de evidências e politizando uma organização que precisa ser apartidária”.

Marcolino diz que: “nos estados de São Paulo e Santa Catarina, está sendo discutido entre os oficiais como limitar a apropriação da figura do policial”. A figura citada pelo coronel é referida aos símbolos da corporação, - a arma, o uniforme, ou distintivo, os seus títulos e as suas ações feitas no campo - benefícios que podem facilitar a entrada para a carreira política.

O delegado Carlos da Cunha (MDB) é um exemplo de quem gravava as suas operações policiais - algumas foram encenadas - e publicava na rede social Youtube para aumentar sua popularidade. As atitudes forjadas do ex-delegado, somada às declarações contra integrantes da instituição acarretaram na sua demissão, mas o efeito da divulgação midiática rendeu a ele o cargo de deputado federal em São Paulo com mais de 181 mil votos.

Katia Sastre, do PL (Partido Liberal), também utilizou da própria imagem para alavancar votos, utilizando de um registro de câmera onde ela dispara contra um criminoso em reação a um assalto. Ao final de sua propaganda eleitoral, ela aparece fardada e diz: “Atirei, e atiraria de novo. Coragem eu tenho”.

A estratégia surtiu efeito, sendo eleita deputada federal com mais de 264 mil votos. Ao estimular o ato violento, Sastre aprofunda a violência social, legitimando expressões como: “bandido bom é bandido morto” e fomentando que o cidadão armado também tem o direito de se defender.

O Instituto Sou da Paz, também demonstra interesse na questão. Seu intuito é propor formas que o policial consiga se representar e ser ouvido politicamente, sem que a politização afete a instituição em garantir a segurança pública. O instituto apresenta em seu podcast “Policialismo - A sua segurança é pública”, possíveis soluções para limitar o aproveitamento da imagem do policial para os ganhos pessoais sem ser hostil com a corporação e o serviço que ele presta à comunidade.

Para tentar combater essa distorção da atividade policial e manter um equilíbrio entre as forças de segurança e o aparelho político, é sugerido pelos especialistas do instituto e as forças armadas um leque de opções, tais como: estabelecer um período de quarentena para o membro das forças de segurança antes de se inscreverem no ramo da política. Assim como uma maior regulamentação das mídias sociais pelos membros da corporação, impedindo a presença de elementos da instituição em campanhas políticas.

Como dito no início de todos os episódios do podcast: “o policial ou qualquer oficial das forças de segurança, tem o direito de ter os seus interesses representados na política e ter as suas vozes ouvidas como qualquer cidadão que atua dentro de um sistema democrático”. O problema surge quando indivíduos dentro da corporação se aproveitam da imagem do policial para ganho pessoal, prejudicando a credibilidade de ambas as instituições. 

Alexandre Rocha, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, diz que esse comportamento de fé no policial não traduz os sentimentos de segurança da corporação, seja ele parte da polícia ou da política nacional. Segundo ele, não há correlação entre aumento de popularidade nas páginas de serviço público com a popularização de policiais influencers, sugerindo que muitas vezes esse valor não é compartilhado com a instituição: "muitas vezes a pessoa se vincula ao influenciador mas não se importa com a polícia. Então a segurança está depositada em quem? Na instituição ou no influencer?", conclui Rocha.

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Enquanto algumas famílias investem em grandes negócios empresariais e comerciais, outras se voltam totalmente para o meio político
por
Sofia Luppi
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07/12/2022

Alguns nomes como Jilmar Tatto, deputado federal por São Paulo e Eduardo Bolsonaro, também deputado federal pela maior metrópole do país, são bem conhecidos no cenário político de São Paulo. Isso porque eles não representam somente uma pessoa, mas sim uma família que atua de forma direta ou indireta na política paulista. O fato é que essas famílias, independentemente se são de esquerda ou direita, muitas vezes possuem grande influência dentro do cenário político brasileiro.  

Um clã pode ser definido com um conjunto de pessoas que por conta de algum parentesco em comum se mantém unido. E é isso que encontramos quando falamos dos irmãos Tatto e de Jair Bolsonaro e seus filhos em questões políticas. Ambas as famílias possuem cargos na câmara dos deputados e nas câmaras municipais. 

Outro fator em comum entre eles é o fato de que se fortalecem com a presença de seus membros. O sobrenome ganha uma força que supera as ideias e até mesmo os partidos políticos. O doutor em sociologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) Tiago Valenciano ressalta que existe esse empréstimo de sobrenome para que as campanhas eleitorais ganhem mais força e seja um atrativo para futuros votos.    

Apesar da frente política dos Tatto ser bem forte em São Paulo, principalmente na região de Capela do Socorro, na Zona Sul de São Paulo, os irmãos não possuem origem paulistana. A família migrou do interior do Paraná para o Estado mais populoso do país na década de 70.  

Arselino, Ênio, Nilto, Jilmar e Jair Tatto são os únicos dos 10 filhos de pequenos agricultores que entraram de cabeça no cenário político de São Paulo. Os Tatto estão tanto no governo estadual e federal quanto no municipal. 

Atualmente, Nilto e Jilmar foram reeleitos em 2022 para deputados federais por São Paulo, cargos esses que já estavam à frente desde 2006 e 2014, respectivamente. Já Ênio, que é deputado estadual desde 2006, se reelegeu para mais um mandato. No âmbito municipal, há Jilmar e Arselino como vereadores da cidade de São Paulo, ambos reeleitos na última eleição. Ambos estão no poder há mais de dois mandatos. 

Os irmãos também são peças-chave para a história do Partido dos Trabalhadores (PT). Todos eles são filiados ao partido desde suas primeiras candidaturas. Alguns deles, como Arselino e Ênio, participaram ativamente da fundação do PT. 

Um clã que, segundo Valenciano, em que o sobrenome vale muito mais do que o partido político é o da família Bolsonaro. Apesar de não terem São Paulo como seu maior foco, possui uma certa ramificação no Estado graças a Eduardo Bolsonaro, que já está em seu terceiro mandato como deputado federal pelo Estado. Essa influência se dá mais por ideias do que de fato por políticos.  

Ao contrário dos Tatto, os Bolsonaro tiveram origem paulista, uma vez que Jair Messias Bolsonaro nasceu em Campinas. O presidente que não conseguiu sua reeleição em 2022, construiu toda a sua carreira política no Rio de Janeiro. Ele foi vereador da cidade maravilhosa em 1989. Desde 1991, ano de sua primeira eleição como deputado federal, ele garantiu sete mandatos. 

Com exceção de Eduardo, os filhos de Bolsonaro Flávio e Carlos também são ativos no cenário político carioca. Seu filho mais novo, Jair Renan, já deixou claro que pretende entrar na política em 2028. 

A estrutura dos clãs políticos 

Mesmo o clã Bolsonaro sendo de extrema direita e os Tatto serem de esquerda, Valenciano ressalta que a estrutura de suas famílias na política é a mesma. A partir do momento em que um membro se torna uma figura pública, as chances de os demais conseguiram os mesmos feitos, apoiados em um sobrenome, são grandes. 

Essa situação fica clara com nomes de envergadura nacional, como no caso da família Bolsonaro. Isso se dá muito pela eleição de Jair Bolsonaro em 2018 à Presidência da República. Usar seu nome para angariar votos, segundo Valenciano, virou uma forte tática nas campanhas eleitorais, principalmente de seus familiares próximos. E não foi somente os filhos que se aproveitaram disso, as ex-esposas também aproveitaram esse benefício. 

Um exemplo desse empréstimo aconteceu nessas eleições. Cristina Bolsonaro, ex-esposa do atual presidente, se candidatou para o cargo de deputada distrital pelo Distrito Federal. Apesar de não ter sido eleita, ela usou o nome Bolsonaro como um “empurrãozinho” em sua campanha, para conseguir mais votos.  

Sérgio Praça, professor da Fundação Getúlio Vargas, apontou que o fato de pertencer a uma família com tradição política, aumenta não só as chances de um candidato ser eleito, mas também de entrar para o cenário político. Isso seria um dos principais motivos para que tanto os Tatto quanto os Bolsonaro tenham poder e influência nas mãos. 

Existe também a questão da credibilidade na hora de decisão dos eleitores. Se um eleitor se identifica com as pautas de um dos Tatto, é provável que ela vote em um deles ou nas indicações feitas por eles. Valenciano explica que, “em geral, o cidadão vota na família política, exatamente porque ele espera uma entrega de um resultado, com uma dominação que já vem de muito tempo.” 

Sob essa perspectiva, é possível perceber que essas famílias podem ter grandes influências nos bastidores do cenário político. O empréstimo de sobrenome é colocado em prática e acaba se tornando um tipo de marca. Ou seja, os candidatos que se apossam e se apoiam de nomes, acabam sendo relacionados diretamente às pessoas que já estão no meio político e tem alguma relevância, seja ela positiva ou negativa. 

O professor Ricardo Costa de Oliveira, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), afirma que “toda política brasileira é dominada por famílias ou clãs políticos, o que significa que todas as instituições políticas brasileiras são atravessadas por relação de parentesco”. Seguindo essa lógica, a ideia de que os clãs políticos realmente seriam uma espécie de grife se fortalece e confirma que pode existir candidatos novos em cada eleição, mas na realidade eles pertencem a grupos que já estão no poder. 

Oliveira ainda destaca que essas famílias acabaram se tornando uma instituição dentro do cenário político e que isso facilita que as futuras gerações desses clãs continuem perpetuando as ideologias desse grupo. 

O retorno financeiro 

Valenciano destaca que a política precisa ser tratada muitas vezes como uma empresa, uma vez que aqui no Brasil existe uma rede de pessoas que depende das grandes campanhas políticas e das equipes de gabinetes para sobreviver. Seguindo essa lógica, o especialista ainda ressalta que apesar de muitos clãs quererem ajudar a população e suas demandas, eles possuem um retorno financeiro ao serem ativos na política.  

Sob essa ótica, tanto Valenciano quanto Oliveira, revelam que não é somente os candidatos que lucram ao serem reeleitos em cada eleição, mas também quem participa de suas campanhas, que acaba garantindo de quatro em quatro anos uma renda.  Muitas vezes, existe uma única grande equipe por trás de um clã, algo que vimos nas últimas eleições com os Bolsonaro. 

Termos políticos sendo reeleitos por vários anos consecutivos já se tornou algo rotineiro no cenário de São Paulo. A força familiar nesse âmbito é renovada a cada eleição e a cada novo membro que adota um nome para entrar no jogo político. Apesar de não serem os mais importantes para o cenário político de São Paulo, os clãs possuem sua relevância ao manter a democracia viva, mesmo que para o próprio interesse.  

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Especialistas acreditam que o apoio de Bolsonaro levou à queda do tucanato em São Paulo
por
Ana Beatriz Assis, Danilo Zelic, Evelyn Fagundes e Maria Sofia Aguiar
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08/12/2022

Pela primeira vez em 28 anos, o PSDB foi derrotado nas eleições para o governo do Estado de São Paulo. Na disputa eleitoral entre Fernando Haddad (PT) e Tarcísio Freitas (Republicanos), a vantagem que levou o apoiador do presidente Jair Bolsonaro à vitória foi de 10,54%. Nesse sentido, especialistas acreditam que a ascensão de Tarcísio é explicada pela queda da importância do PSDB, em que os votos foram direcionados para uma direita mais conservadora.

No segundo turno da disputa, o candidato do Republicanos obteve 55,27% dos votos válidos contra 44,73% do petista. De acordo com dados do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP), foram 6,76% votos brancos e 4,04% nulos. Em relação à taxa de abstenção, o percentual caiu de 21,63% para 21,07%, do primeiro para o segundo turno da eleição deste ano.

Na cidade de São Paulo, o candidato pelo PT, Fernando Haddad, venceu por 44,38%. Já no interior do Estado, quem venceu foi Tarcísio de Freitas. Grandes cidades interioranas como Bauru, Campinas e São José dos Campos tiveram resultado favorável ao aliado de Bolsonaro: 50,95%, 46,13% e 53,45%, respectivamente.

 

Mapa de resultados de São Paulo no primeiro turno, via: O Globo
Mapa de resultados de São Paulo no primeiro turno, via: O Globo

Bolsonarismo conquista espaço do conservadorismo tucano

Pesquisadora sobre o conservadorismo no Brasil, a professora doutora na PUC-SP Katya Mitsuko acredita que o pensamento conservador nos dias atuais, liderado por Bolsonaro e seus aliados, é um dos fatores que levou Tarcísio a ser eleito. Katya acredita na existência de uma ampla substituição do poder político tucano pelo poder bolsonarista justamente pelo discurso “personalista” que utiliza o elemento da família para chamar os eleitores, uma característica do conservadorismo brasileiro.

De acordo com Katya, a denominação de família tradicional, por exemplo, foi criada para servir como um símbolo ao cidadão conservador, uma espécie de identificação global com os pares que se identificam com essa representação. Como símbolos da família tradicional, a professora descreve essa representação utilizando o homem, a mulher e filhos. Ao fazer um contraponto com o cenário nacional, ela afirma: “Mentira, a história do Brasil deixa isso claro”.

Segunda Katya, é difícil encaixar esse padrão da família tradicional na sociedade brasileira, lembrando que as pessoas podem ter vida fora do casamento. Toma como exemplo o período de escravidão no país onde “pessoas foram casadas e amantes dos seus escravos”. “O mundo não é assim, mas, no entanto, se cria uma tradição e se pauta todo um movimento social em cima de uma tradição criada”, afirma.

Esse viés ideológico se firmou como uma forma de resposta às mudanças, com o desejo por estabilidade na condição social e econômica. Nesse sentido, Katya afirma que o pensamento conservador muitas vezes parte de uma classe mais alta, que quer consolidar sua posição na elite.

Analisando o histórico paulista, ela acredita que a força política da direita também não é de hoje e houve um longo processo histórico que perpetuou a tradição conservadora. “No meu entender, isso está estabelecido desde as bases da cafeicultura dos primórdios do republicanismo paulista. Isso é muito antigo”, afirma.  Dessa forma, a pesquisadora aponta que, ao longo dos anos, apesar do conservadorismo ter se mantido presente no Estado, ele se alterou, pois é adaptativo.  “Não dá para dizer que nós estamos falando dos mesmos conservadores de 1920 e que um sujeito conservador é imediatamente fascista”, argumenta.

Katya é moradora do município de Cerquilho, a 137 km da capital, no interior paulista, - que IDH alto de 0,782, segundo o Censo de 2010. Ela destaca que a cidade é bonita, limpa, tem transporte público gratuito e na maior parte dos anos foi liderada por partidos de direita. Por isso, segundo ela, se gera uma sensação de estabilidade no munícipe em votar na direita.

“Uma das coisas que o cerquilhense diz é: ‘Ah, vai mudar partido, mas a cidade continua’. Então também tem essa ideia de que ‘Para que eu vou votar na esquerda?’”, afirma.

Segundo apuração da reportagem, a gratuidade do transporte em Cerquilho é parcial e se baseia no serviço de “Tarifa Zero”, implementado e bancado pela gestão municipal desde outubro de 2020 e direcionado para toda população cerquilhense, cerca de 52 mil habitantes, segundo estimativa do IBGE 2020. De acordo com a prefeitura, o serviço inclui apenas algumas linhas de ônibus e com horários tabelados, não contemplando todos os itinerários de transporte público do município.

A professora destaca a religiosidade como ferramenta amplificadora para o pensamento conservador nas eleições deste ano. Associando a sensação de nostalgia ao conservadorismo, ela acredita que essa vontade de estar no passado também está presente no discurso evangélico, em que se utiliza a fé como forma de manter o passado no presente. "Os reacionários do conservadorismo acham que podem fazer a marcha ré, 'a família tradicional é o homem, a mulher e os filhos", afirma.

Outro ponto que a pesquisadora aponta sobre o conservadorismo nas igrejas é em relação à capacidade de modernização do discurso. Analisando algumas correntes evangélicas dos Estados Unidos e do Brasil, Katya afirma que essas se fundam pela tradição, mas buscam constantemente se manter atuais. "O conservador nem sempre vai se apegar apenas ao velho, muitas vezes a ideia é ressignificar a tradição de modo que ela se apresente como nova. É por isso que temos sempre conservadores presentes, eles se refazem o tempo todo", diz.

A cientista política Maria do Socorro Sousa Braga, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), acredita que uma explicação para a direita estar muito presente no interior é a forma como o Estado desenvolve o seu crescimento econômico.

“O interior de São Paulo é muito rico. Recebe muito investimento. Tem várias empresas e, muitas delas, a direção apoia o atual presidente. Que, por sua vez, existe todo um trabalho para conseguir o apoio dos seus funcionários para o mesmo grupo político, que é o de Jair Bolsonaro”, ressalta Socorro.

Além disso, a cientista política reforça que a visão de estado mínimo agrada o conglomerado empresarial, e isso explica o motivo do antipetismo na região que, por tamanha força, representa o estado.

“A maior parte desse segmento empresarial apoia essa visão de Estado mínimo. Enquanto o PT, partidos de esquerda defendem um Estado provedor, de políticas sociais que abrangem a maior parte da sociedade, especialmente, as mais vulneráveis. Essa visão acaba se contrapondo a boa parte dos empresários que controlam as empresas no interior de São Paulo”, afirma Socorro. “Isso afeta o comportamento eleitoral dos trabalhadores dessas empresas, que podem temer seus empregos, caso venha uma força em outra direção daquelas que eles acreditam ser essencial para a continuidade da existência das empresas, o que não é verdade.”

Socorro menciona que a existência de igrejas tanto católicas como evangélicas também pode influenciar no comportamento eleitoral.

Para Monica Muniz, professora do departamento de sociologia da PUC-SP, esse conservadorismo também é representado, principalmente, pela questão fundiária, simbolizada por uma elite agrícola do interior do Estado.

Essa perspectiva contrapõe-se à visão que a maioria do eleitorado conservador tem sobre as pautas de esquerda nesse campo, como, por exemplo, o Movimento Sem Terra (MST), afirma. “Coloca muito medo nessa elite do interior. É uma elite que está enraizada e tem muito temor ligado ao discurso da reforma agrária ou do MST”, diz a professora ao CP Digital.

A queda do PSDB 

De acordo com o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP), nas eleições de 2022, 39 cidades da região metropolitana somaram 16,4 milhões de eleitores, e os 606 municípios do interior, 18,2 milhões. Tarcísio de Freitas venceu na maioria das cidades do interior. Ele perdeu para Haddad na capital do Estado.

Em 2018, na disputa entre Márcio França (PSB) e João Doria (PSDB), o tucano foi eleito no segundo turno com 51,7%. França teve 56,1% dos votos da Grande São Paulo e 41,2% do restante do Estado.

Em 2010, Geraldo Alckmin venceu no primeiro turno, com 50,6% - 46,4% na capital e 54,6% no interior. Em 2014, foi reeleito, vencendo em todas as cidades paulistas, com exceção de Hortolândia.

Anteriormente, em 2006, 2002, 1998 e 1994, foram eleitos José Serra, Geraldo Alckmin e Mário Covas (dois mandatos), respectivamente. Todos do PSDB.

Maria do Socorro comenta que, quando Mário Covas (PSDB) foi eleito em São Paulo ao mesmo tempo em que Fernando Henrique Cardoso (PSDB) foi eleito presidente, teve início a força do partido no Estado, o princípio de um apoio contínuo que a região teve ao PSDB. Essa "dobradinha" entre o diretório estadual e nacional fez com que o interior de São Paulo tivesse muitos ganhos. Houve muito investimento no interior de São Paulo.

Mas em 2022 a hegemonia do partido nas eleições do Estado chegou ao fim. Socorro aponta que a derrocada ocorre paralelamente ao crescimento do bolsonarismo no interior de SP, sinalizando a piora do PSDB no Estado. Ela explica que o fim do PSDB já podia ser visto desde a união "bolsodoria". No segundo turno das eleições de 2018, o então candidato ao Estado João Doria se aproximou de Jair Bolsonaro (PL) em uma aliança política batizada de “bolsodoria” para angariar mais votos do eleitor de direita.

A cientista política argumenta que a aliança de parcela do PSDB com o bolsonarismo construiu uma barreira entre quadros mais velhos do partido, conhecidos como “cabeças brancas”. A ala de deputados jovens do partido que apoiavam Doria votava alinhados ao presidente Bolsonaro em muitas pautas no Congresso, contrapondo-se o posicionamento dos integrantes mais velhos da legenda.

Para Maria do Socorro, essa heterogeneidade do próprio partido foi um dos fatores responsáveis pelo seu declínio. A falta de um consenso de seus membros e de uma unidade que minimizasse os problemas internos da sigla, revelou que o PSDB não deu conta de se manter popular, em comparação com outras legendas de mesma estatura e história. Socorro resume a situação do partido na seguinte expressão: “cavou a sua cova". declara Socorro.

O pensamento conservador, segundo análise de Monica Muniz, professora do departamento de sociologia da PUC-SP, é regido por uma mudança social interpretada como um termômetro que serve de orientação a esse grupo. Como lembra a professora, a história mostra que o lema ‘Deus, Pátria, Família’, utilizado como slogan político pelo bolsonarismo, esteve presente em momentos significativos no país: no movimento Integralista de 1930; na Ditadura Militar de 1964; e no atual debate político.

As transformações sociais, políticas e econômicas que ocorreram durante esses períodos, impactaram na maneira como a parcela da população que se identifica como conservadora, e seus representantes políticos, age de acordo com o momento. “É a mudança que traz essa reação. Ficam todos desesperados e vão em busca da ordem”, aponta Muniz.

 

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De boicotes a ataques aos institutos de pesquisas a tentativas de punir legalmente os que não acertem o resultado, a democracia novamente vem sofrendo ataques
por
Andre Nunes Rosa e Silva, Helena Monteleone Sereza e Hiero (Nina) de la Vega de Lima
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08/12/2022

As pesquisas de intenção de voto para a eleição ao governo do Estado de São Paulo apontavam um empate técnico entre o segundo e terceiro colocados – o candidato bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o atual governador paulista, Rodrigo Garcia (PSDB). Os resultados, contudo, apontaram grande vantagem para Tarcísio. Em um cenário de desconfiança em relação ao sistema democrático brasileiro, é importante pontuar a atuação dos institutos por trás dos resultados nas pesquisas de 2022.

As pesquisas de intenção de voto têm o objetivo de projetar possíveis resultados para as eleições. Felipe Nunes, CEO da Quaest e doutor em ciência política pela Universidade da Califórnia, em Los Angeles, diz que o maior desafio dos institutos foi não ter conseguido estimar adequadamente o grau de abstenção eleitoral. Ele afirma já estar acostumado a ataques, principalmente de grupos que estão perdendo. 

Nunes acredita que, para reverter essa situação, o único caminho é investir em uma educação que explicite as reais expectativas que a população deve ter a respeito do papel dos institutos. “Pesquisas são prognósticos, e não diagnósticos. Serve para retratar um dado momento da opinião pública brasileira, não devendo ser utilizadas para fins de previsão” diz, em entrevista ao Contraponto.

Segundo o Conselheiro Estadual da OAB/SP e doutor em direito das relações sociais pela PUC-SP Alexandre Rollo, os grandes perdedores nas eleições do Estado de São Paulo foram as pesquisas eleitorais.

O especialista ainda argumenta que existem explicações sobre os resultados coletados. Os fatores que podem ter alterado os dados, de acordo com o advogado, podem ter sido a falta da coleta do Censo antes do período eleitoral, organizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou o boicote por parte dos apoiadores de Jair Bolsonaro às pesquisas eleitorais.

Em entrevista ao UOL News, a presidente do Datafolha, Luciana Chong, defendeu a tese de que houve uma dificuldade em coletar as intenções de votos bolsonaristas. Segundo ela, os ataques hostis à imprensa e, em especial, aos institutos de pesquisa, alteraram as proporções dos dados captados.

“No último mês, os ataques em relação às pesquisas, aos institutos, ao Datafolha especialmente, moldaram um clima de hostilidade e agressividade em relação aos pesquisadores. Em um ambiente normal, com outras condições, a gente teria captado algo mais do Bolsonaro na véspera."

Já Andrei Roman, cientista político e CEO do Instituto AtlasIntel, destacou para o jornal Correio Braziliense que existiu dificuldades em realizar cortes de rendas eficientes, além da dificuldade em registrar o "voto envergonhado", quando o eleitor não divulga seu voto até o momento da eleição por medo de represálias ou linchamento político.

Segundo a especialista em ciência de dados pela USP Paula Oliveira, os institutos devem investir no aprimoramento dos seus métodos, e assumir maiores custos operacionais para oferecer mais qualidade e confiança aos eleitores.

Boicote às pesquisas

Em 1986, o então candidato a prefeito para a capital paulista Franco Montoro (PSDB) pediu para que seus eleitores não respondessem às pesquisas eleitorais. Na época, empresas e institutos de pesquisa apontavam a vitória de Fernando Henrique Cardoso, que então estava filiado ao PMDB.

Algo similar aconteceu nas eleições para presidente de 2022, onde blogueiros e políticos próximos a Bolsonaro incentivaram a fraude das pesquisas. Durante o período eleitoral, o Ministro das Comunicações Fábio Faria clamou por boicote publicamente. “Quero dizer ao povo brasileiro: não respondam mais nenhuma pesquisa desses institutos de pesquisa, nem Datafolha nem Ipec”, diz em vídeo publicado em suas redes sociais.

Foi protocolado, neste ano, o Projeto de Lei, na Câmara de Deputados, que previa punição para institutos de pesquisa que não acertassem o resultado das urnas. Segundo a proposta, enviada pelo deputado Ricardo Barros (PP-PR), a punição é de 4 a 10 anos de prisão para líderes de grupos de coleta de dados eleitorais. 

Rollo também afirma que a criação de um crime para institutos que erram resultados não é a solução, já que o crime apenas existiria como “prova de dolo de falsear” um levantamento de intenção de votos, que não se parece com o cenário atual, segundo ele.

Outros especialistas também apontam que a falta de regulamentação dos institutos de pesquisa podem causar dúvidas e questionamentos na população, porém acham o projeto de lei inconstitucional.

Segundo Turno

Sobre os resultados nas urnas, o doutor em direito constitucional pelo Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa de Brasília (IDP/DF) Acacio Miranda afirma que o reconhecimento dos resultados é, inegavelmente, mais importante para a democracia brasileira do que manter o foco sobre os erros das pesquisas eleitorais.

“Zelar pela Constituição significa reconhecer o resultado divulgado pela justiça eleitoral, seja qual for o resultado. Eventuais questionamentos posteriores são legítimos, mas eles passam, necessariamente, por um primeiro reconhecimento que é essencial para a pacificação social”, afirma o especialista.

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