Discursos extremistas por motivação política têm sido cada vez mais parte do dia a dia do brasileiro, mesmo fora do período eleitoral. Segundo Monitoramento da Violência Política do do jornal O Estado de São Paulo, até julho deste ano, o Brasil já havia contabilizado 26 assassinatos de políticos, maior número registrado desde a redemocratização. As vítimas englobam lideranças e integrantes do polo adversário.
A polarização, isto é, quando dois ou mais lados opostos se dividem em grupos com ideias contrárias ou conflitantes, não é novidade, muito menos no âmbito político. Nos últimos anos, entretanto, os embates se intensificaram e duas frentes opostas surgiram com mais força desde o período eleitoral de 2018. Composta por turbulências acerca das opiniões políticas e pessoais do candidato Jair Bolsonaro (na época, PSL), a primeira eleição depois da explosão da operação Lava-Jato gerou movimentação entre os simpatizantes da nova extrema direita e aqueles que enxergavam perigo no discurso do candidato.
Para Victor Marques Varollo, Bacharel e Licenciado em Ciências Sociais, Mestre em Educação e Políticas Públicas pela PUC Campinas, o termo “polarização” não vem sendo bem aplicado nas últimas análises políticas.
“Na eleição de 2022 tivemos um lado defendendo o rompimento institucional e o outro, fazendo uma frente ampla pela democracia. O erro em utilizar o termo é que se pode pressupor que temos uma ‘extrema-direita’ e uma ‘extrema-esquerda’, em polos distintos. Isso não acontece”, afirma, sobre a comparação, em sua opinião, equivocada entre os lados. “Na eleição tivemos um lado defendendo o rompimento institucional e o outro fazendo uma frente ampla pela democracia”.
Apesar de muitos estudiosos não acreditarem na ideia de contrários nas últimas duas eleições brasileiras, a polarização é evidente – ainda que, muitas vezes, o termo seja mal aplicado, como comenta Varollo. O período foi marcado por violências e expôs uma outra face da divergência política, chamada de “ultrapolarização”
Eleições ultrapolarizadas
Marcada por turbulências, uso da força e até conflitos externos, o excesso da polarização (ou sua ultralização), compromete as bases da democracia e torna-se uma imposição de ideais. Afinal, sociedades ultrapolarizadas que discordam entre si tendem a usar a violência no lugar do debate.
É o que diz Victor Mendes, mestrando em relações internacionais pela USP e pesquisador na área de instituições internacionais e governança global. “A polarização deixa de ser saudável quando ultrapassa o debate político saudável e passa a se sustentar à base de ameaças, informações falsas e violência.”
Para Vera Lucia Michalany, doutora em ciência política pela Universidade de São Paulo (USP), a polarização em si já engloba sentimentos como ódio, medo, ressentimento, vingança e desqualificação do outro, e deixa de ser saudável quando interesses políticos interferem na vida pessoal – corroborando para conflitos familiares, por exemplo.
Segundo Michalany, as manifestações de 2013 e 2014 também foram agentes importantes no fortalecimento da extrema direita, também visto como protagonista de atos antidemocráticos após o resultado das eleições de 2022: “as eleições de 2018 e 2022 reproduzem as ações e as disputas presentes no seio da sociedade.”
Alguns dos últimos casos que ilustram este fenômeno podem ser exemplificados pela violência armada que teve palco em um bar no interior do Ceará, na cidade de Cascavel, quando um indivíduo perguntou quem era eleitor de determinado candidato, para então, desferir tiros e matar aquele que ele considerava como “oponente”. Ou mesmo com o assassinato do tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT) Marcelo Aloizio de Arruda em sua própria festa de aniversário, e uma briga com motivação política em bar de Santa Catarina, Dona Emma, no Alto Vale do Itajaí, onde um dos envolvidos não resistiu após ser esfaqueado.
Nasce, então, a linha tênue que separa a polarização saudável (polos direita e esquerda, por exemplo) e a ultrapolarização (as ‘extremidades’). Michalany, em sua avaliação, diz não encontrar diferença entre ambos, pois os extremos também fazem parte do conceito originário de polarização.
Onde está o perigo?
Além de se mostrar uma ameaça física aos envolvidos diretos, períodos políticos ultrapolarizados são marcados por notícias falsas, ameaças e abandono de consciência política e social, comuns de ganhar cunho criminoso, segundo Josue de Oliveira Rios, doutor em direito pela PUC-SP. “Quando isso [a polarização] se junta com a desinformação e a invenção de mentiras, impossibilita a população de elaborar uma consciência política e refinamento de informação. Fica apenas um clima de que guerra é guerra.” explica.
Esse aspecto foi visto no último período eleitoral, marcado pelo assédio no ambiente corporativo e até na boca das urnas, como exposto na reportagem feita pelo “Profissão Repórter”, da TV Globo, que foi ao ar no dia 1 de novembro e flagrou uma convocação dos beneficiados pelo Auxílio Brasil e ouviu moradores sobre suposto assédio eleitoral no local; ou como também abordagens menos discretas, como no caso em que uma empresária de Santa Catarina teve de assinar um Termo de Reajuste de Conduta (TAC) e se retratar em vídeo após pedir que clientes “não contratem nordestinos” que votem em determinado candidato.
“Isso tem a ver com o ‘vale tudo’, o clima de guerra. Se eu tenho poder, eu vou usar todos os caminhos para vencer. Esse nível de embate só é visto em eleições ultrapolarizadas, onde tem essa ideia de que não basta vencer, é preciso impor novos valores, uma nova verdade.” explica Rios, sobre a ausência de um cenário civilizatório.
Além dos conflitos internos, Mendes também pontua as consequências da radicalização política no cenário externo, bem como a relação do Brasil com outros países. “Por questões de diplomacia, os países evitaram realizar comentários incisivos sobre os assuntos domésticos no Brasil, que deixou a sua posição de protagonista global, especialmente entre países em desenvolvimento.” explica.
Para ele, a polarização em si serviu apenas para gerar apreensão sobre os resultados da eleição, além de olhares atentos sobre a sustentabilidade da democracia brasileira. “Um exemplo disso foi a aprovação, nos Estados Unidos, de uma recomendação do Senado para que Washington rompesse as relações com o Brasil em caso de golpe. Para a comunidade internacional já não é mais tempo de se permitir incursões que vão contra os valores democráticos.”
Imagem de capa: Marília Castelli | Unsplash
Em sintonia com o que aconteceu no congresso, em que elegeu apenas 3
deputados federais, o Partido Novo teve o número de deputados estaduais em São
Paulo reduzido. Se em 2018 a sigla ocupava 4 cadeiras na Alesp, agora vai possuir
apenas uma - a de Leo Siqueira.
Nas eleições de 2022 como um todo, o Novo amargou resultados ruins. A queda na
Câmara dos Deputados fez com que o partido não atingisse a cláusula de barreira,
que coloca como meta um número mínimo de votos e deputados eleitos para dar
acesso ao fundo eleitoral e à propaganda eleitoral.
Além disso, Felipe D'Ávila, candidato à presidência, teve apenas 0,47% dos votos
válidos. O resultado é pior do que em 2018, quando João Amoêdo, o então
candidato do Novo e um de seus fundadores, atingiu a porcentagem de 2,5%.
No caso específico de São Paulo, a queda na Alesp vem logo após uma crise que
ocorreu no partido durante as eleições para prefeito na capital. Na ocasião, o
postulante ao cargo Filipe Sabará teve sua candidatura suspensa pela própria sigla
após serem apontadas uma série de inconsistências em seu currículo. Porém, antes
disso, Sabará já havia entrado em conflito com Amoêdo e outras lideranças do
partido por fazer defesas ao presidente Jair Bolsonaro.
Outro episódio que mostra a discórdia instaurada dentro do partido é a briga entre
duas vereadoras do Novo dentro da Câmara Municipal de São Paulo. Um vídeo
mostra Cris Monteiro (Novo) e Janaína Lima (Novo) se desentendendo atrás da
Mesa Diretora da Casa.
O conflito foi provocado por uma questão de tempo do microfone durante a votação
da Reforma da Previdência e resultou em diversas agressões físicas de uma contra
a outra. Após o ocorrido, ambas foram suspensas pelo partido.
Camila Rocha, autora do livro ‘‘Menos Marx Mais Mises: o liberalismo e a nova
direita no Brasil’’, explica o motivo de tantos desentendimentos internos dentro do
Novo: ‘‘Nunca existiu um consenso em relação a outras pautas para além da defesa
de um livre mercado radical. Eles não tinham um programa amplo o suficiente para
abarcar outras questões que não sejam a defesa de um liberalismo puro e simples’’.
Para Henrique Costa, mestre em Ciência Política e doutorando em Ciências Sociais
na Unicamp, o derretimento do Novo se deve a alguns pilares. Em primeiro lugar,
Costa afirma que as pautas liberais foram capturadas pelo bolsonarismo, que por
essência, é hegemonista, e que permite que o eleitor se alie apenas a ele de forma
submissa.
Além disso, o analista acredita que uma formação histórica do eleitorado brasileiro
pode contribuir para que o partido com cunho liberal e anti-populista não tenha
deslanchado. Para ele, a política brasileira carrega um histórico de um Estado muito
presente, tanto no sentido de políticas públicas, quanto no sentido de um
autoritarismo.
‘‘Em um certo sentido, o Novo seria um PSDB mais radical. O Novo tentou substituir
o PSDB no sentido de ser um partido de quadros, preocupado com o
desenvolvimento do país e que adota o neoliberalismo como forma de resolução
dos conflitos sociais, mas de uma forma muito mais aberta’’, explica Rocha.
Apesar do quadro geral negativo, o Novo foi capaz de reeleger um governador no
segundo maior colégio eleitoral do país, Minas Gerais. A pergunta que fica para o
partido agora é porque o sucesso de Romeu Zema não trouxe melhores resultados
para a sigla.
Para Costa, algumas das explicações passam pelo fato que o perfil do governador
foge do que é comumente visto dentro do partido: ‘‘Ele não parece um empresário
da Faria Lima, ele tem um carisma, uma maneira de se expressar que fala muito ao
interior de Minas’’.
A última grande polêmica envolvendo o partido foi a desfiliação de João Amoêdo
após o fundador declarar o voto em Lula no segundo turno das eleições. Grande
parte de seus aliados demonstrou descontentamento com a situação.
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Maurício Rappa, candidato do Novo para o cargo de deputado federal de São Paulo,
nos deu sua opinião sobre o tema da rejeição ao Lula e ao PT. “Votar no Lula é o
maior retrocesso que poderíamos ter. Por mais que o Amoedo tenha declarado
apoio a ele, precisamos basear nossas ideias nos principais líderes ativos do
partido, como o Zema, por exemplo”. Rappa admite que os valores de Bolsonaro
não são os ideais e que estão longe do que o Novo deseja para o país, mas que a
volta de Lula ao poder não é algo cogitável.
Com isso, a força do partido no cenário nacional vai diminuindo, fazendo com que
muitos se questionem qual será o futuro da sigla. O próprio Romeu Zema já falou
em uma possível fusão com outro partido.
Em entrevista ao Uol, Eduardo Ribeiro, presidente do partido, afirma que o Novo já
foi até procurado por outros partidos para uma fusão, mas no momento isso não
está sendo cogitado pelos líderes da sigla. Ribeiro afirma, no entanto, que estuda
formar um bloco com outros partidos para reforçar a atuação parlamentar.
O presidente considera fundamental a criação de novos diretórios em todo país,
para conseguir lançar o maior número possível de candidatos nas eleições
municipais de 2024. Assim, o partido poderia chegar com força nas eleições de
2026 para presidência.
Caso essa “reviravolta” não ocorra, o Novo corre o risco de perder Zema para uma
sigla mais forte, buscando maiores chances de se tornar presidente. Por enquanto,
ele ainda afirma que se sente confortável no partido e que não tem planos de
mudar.
Para o futuro, Camila Rocha acredita que a tendência da sigla é se fundir com
outros partidos menores por conta da cláusula de barreira, o que pode diminuir
ainda mais a projeção do Novo.
As eleições deste ano no Estado de São Paulo apresentaram o maior número de candidatos com deficiência no Brasil - 11 candidaturas. Entretanto, nenhum deles foi eleito para Câmara dos Deputados ou Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). A deputada eleita Andrea Werner (PSB) é a única política em São Paulo com pautas voltadas a esse público.
No Brasil foram 448 pessoas disputando cargos, entretanto, em números gerais isso representa somente 1,6% das 28.790 candidaturas do país inteiro. A principal candidatura ficou por conta de Mara Gabrilli (PSDB), candidata à Vice-Presidência de Simone Tebet (MDB).
Participação política das pessoas com deficiências
Os partidos com candidatos que possuem algum tipo de deficiência foram: PSB com duas candidaturas a deputadas estaduais (Luciana Trindade e Talita Cadeirante); PSOL com uma candidata a deputada federal, Tetê, e um coletivo formado por 9 pessoas (“Coletivo de PCD do PSOL”, com 7 pessoas com deficiência); REDE Sustentabilidade com uma candidatura a deputado estadual (Tuca Munhoz); e o PT com uma candidatura a deputada estadual (Vanessa Cornélio).
Mesmo com um considerável número de políticas que visam à inclusão, não existe uma representação desse público no Legislativo e no Judiciário, com apenas 0,5% de parlamentares que possuem algum tipo de deficiência. Um dos problemas apresentados está no cumprimento das leis já existentes, como a Lei das Cotas e a Lei da Inclusão.
Na opinião de Jeniffer Farias, mestre em Psicologia e Desenvolvimento de Políticas Públicas e uma das ex-candidatas da Bancada do PSOL, não adianta criar leis visando atender a população com deficiência de forma geral, deve-se olhar cada caso e região com olhares diferentes
“Uma das principais questões às quais estávamos atrelados era a fiscalização. Queríamos fortalecer os conselhos municipais, porque cada região funciona de uma forma. Algumas coisas funcionam bem em uma região, mas em outras não”, afirma Jeniffer Farias, mestre em Psicologia e Desenvolvimento de Políticas Públicas e uma das ex-candidatas da Bancada do PSOL.
A busca pela transversalidade era outro ponto que a bancada buscava abordar. Farias explica que a opressão é ainda maior para aqueles que se encontram em mais de um grupo considerado minoria como negros, LGBTs e indígenas.
Jacqueline Bezerra, psicóloga e escritora, conta que mesmo com as diversas leis que já possuímos em nosso país, dentre elas a Lei de Cotas e a Lei de Inclusão, existe um problema invisível para grande parte da população.
“Até que ponto os cargos disponibilizados para pessoas com deficiências têm perspectiva de crescimento? Muitas vezes a pessoa acaba recrutando por conta de uma lei, não para realmente incluir. Não existe uma confiança na capacidade daquele indivíduo”
A psicóloga lembra que segundo o IBGE, 24% da população brasileira possui algum tipo de deficiência, portanto, ao contrário do que muitos pensam, a necessidade de melhorias em questões estruturais não deveria ser um privilégio.
Bezerra finaliza explicando que ter alguém em cargos políticos, revistas, mídias digitais, televisão e ver como essas pessoas estão sendo aceitas na nossa atual sociedade é algo de extrema importância, pois ela se torna alguém para se admirar e inspirar.
“É um auxílio para combater esse capacitismo internalizado, que é quando a própria pessoa com deficiência possui um preconceito consigo mesmo. Eu finalizo com uma frase internacional, que acho muito importante: ‘Nada sobre nós, sem nós’.”
Luciana Trindade, coordenadora do PSB Inclusão e que também lançou candidatura na última eleição, explica que o partido passou por uma reestruturação visando à presença de pessoas com deficiência em todos os capítulos e leis.
“Incentivamos a nossa militância a participar dos conselhos e organizações que atuam com diversas pautas que não só a para a pessoa com deficiência. Um exemplo são os conselhos de saúde, conselho da mulher, Fundo de Desenvolvimento Urbano (Fundurb), etc”, afirma.
Uma das possíveis soluções para a falta de representação no Legislativo, na opinião da coordenadora, é a criação de uma cota para as cadeiras nos níveis municipal, estadual e federal. O PSB tem como meta apresentar um projeto de lei para a Câmara dos Deputados em 2023, com o objetivo de que no próximo pleito de 2024 uma possível lei já esteja publicada e em prática.
“Enquanto ainda formos vistos como incapacitados não nos será dada a oportunidade de protagonizar e fazer a transformação social necessária. A ausência de pessoas com deficiência em espaços de poder implica na falta de informação e logo a de produção de políticas públicas”, diz Luciana.
No entanto, não são só os políticos com deficiências que possuem propostas que visam abordar essas questões. A deputada estadual eleita Andrea Werner (PSB), Thífany Félix (REDE) e outras duas pessoas do Coletivo de PCD do PSOL foram candidatas que buscaram defender o tema.
“Uma das propostas que eu pretendo levar para a Assembleia Legislativa, tem em vista o apoio a políticas de inclusão de pessoas com deficiência, não apenas em âmbito estadual, mas no municipal também” diz Andréa Werner, fundadora do Instituto Lagarta Vira Pupa - rede de apoio para mães e famílias com deficiência - e mãe atípica, mães de crianças com algum tipo de deficiência, de Theo, um menino com espectro autista.
Werner tem como prioridade a criação de um programa de renda mínima para mães e cuidadoras de pessoas com deficiência. A decisão de abordar esse tema em sua campanha veio do seu dia a dia e com o contato com outras mães, que igual ela, têm filhos com algum tipo de deficiência.
“Não é apenas uma questão de ‘dar voz’, mas sim, de levar essa voz a sério, para se ter a informação e a consciência de como abordar essas pautas” complementa a deputada.
Sobre o assunto, Jacqueline Bezerra explica que não é somente a vida da criança que é alterada por conta da deficiência apresentada, muitos pais acabam sendo excluídos do mercado de trabalho, além de desenvolverem a Síndrome do Cuidador, quando por conta dos impactos emocionais, sociais e físicos causados por um nível de cuidados, a pessoa se sente sobrecarregada
Dificuldades invisíveis
As leis voltadas para pessoas com deficiência já vêm sendo criadas desde 1989, quando o então presidente José Sarney criou a Lei 7.853 que passou a obrigação de defender os direitos das pessoas com deficiência para o Ministério Público.
A “Lei de Cotas” de 1991, que visa a inclusão no mercado de trabalho, e a “Lei Brasileira de Inclusão” de 2015, que traz um conjunto de direitos, são alguns desses exemplos. O grande problema está na falta de fiscalização por parte do Estado no cumprimento delas.
“Com a tentativa de diminuição do Estado, existe uma redução de funcionários que seriam necessários para fiscalização da execução dessa legislação, e não apenas da destinada às pessoas com deficiência, mas de forma geral”, explica Luciana.
Uma das principais dificuldades que a pessoa com deficiência enfrenta é a falta de informações que outras pessoas têm em relação a ela. Muitos continuam as vendo como “coitadinhos” ou até mesmo um super-herói, não conseguindo enxergar além da deficiência.
“É uma coisa que incomoda demais, porque é mais ou menos assim: ‘Sabe o PCD da área X ou PCD da área Y?’. Não é o João, o Pedro, a Maria, o Paulo ou o profissional em si, sempre a pessoa é atrelada à deficiência. Na sala de aula, por exemplo, o professor fala que tem 20 alunos e 3 inclusões”, afirma Marinalva Cruz, graduada em diretora de Relações Governamentais e Empregabilidade da ONG Turma do Jiló - organização da sociedade civil que busca desenvolver em escolas e empresas projetos que capacitem todos a desenvolverem planos para cada pessoa, possuindo uma deficiência ou não.
A questão da acessibilidade, não só a de estrutura física, mas também de formas de comunicação e meios tecnológicos que possibilitam uma igualdade dentro da sociedade, é outro ponto de dificuldade enfrentado, “sem acessibilidade nunca haverá uma inclusão verdadeira de todas as pessoas com deficiência”, completa Marinalva.
Por muitas vezes existe um preconceito onde acham que essas pessoas apenas têm interesse em pautas onde o tema principal é a deficiência, sendo que também buscam falar sobre economia, política, engenharia e outros temas.
“Falta um olhar transversal, mesmo que em um primeiro momento não pareça ser uma pauta relacionada a pessoas com deficiência, é preciso entender que existem pessoas transexuais, LGBTs, pessoas pretas, pardas com deficiência. É só mais uma característica entre outras”, conclui a diretora.
Gregory Mankiw, David Romer e David N. Weil, são economistas renomados que possuem respeito e altos reconhecimentos da área, eles mostram que os países com os maiores níveis de escolaridade são os que têm melhores condições de bem-estar e crescimento econômico.
Após vencer a eleição para governador no segundo turno, Tarcísio de Freitas do partido Republicanos, conhecerá o desafio de melhorar o ensino do estado para que esses avanços aconteçam.
Segundo o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), São Paulo ocupa o 6º lugar na classificação das escolas estaduais. Dentro das classificações de escolas, é possível notar que as instituições com uma classificação pior estão em lugares desfavorecidos e possuem uma clara falta de investimento em pontos importantes, como a infraestrutura.
Os números também mostram que os estudantes negros e de baixa renda não recebem o aprendizado adequado nas matérias de Matemática e Português. Seguindo a tabela do Ideb, os números que representam o aprendizado dos jovens negros nestas disciplinas e de baixa renda na matéria de humanas é de 31%, enquanto para a de exatas é de 4%.
Enquanto os alunos de alta renda e brancos ficam com números acima dos jovens que não fazem parte da mesma classe social e racial, em português ficam entre 48% e 50%, enquanto na matéria de matemática ficam entre 11% e 13%.
Os números apresentam os problemas das escolas periféricas, que são praticamente esquecidas pelo estado e por seus governadores.
Professores querem ensino melhor
A escola Professora Zoraide de Campos Helu fica no bairro do Jardim Jaraguá, localizada em região periférica do estado de São Paulo. A instituição detém o título de pior escola no Enem de 2017 e continua sendo classificada como uma das piores do estado pelo Ideb.
O professor *Leonel Gonçalves* leciona dentro da instituição e relata que a escola passa por problemas que a partir de suas análises, são erros de seus administradores que não acatam as soluções que são passadas pelos profissionais.
Ele disse que as deficiências partem desde a segurança do próprio professor, até a parte estrutural que não entrega um ambiente favorável para os alunos aprenderem, e nem suporte para as aulas.
Dentre os diversos relatos do educador estão: falta de apoio, estrutura ruim, falta de material de apoio, aprovação de alunos que não aprenderam nada.
Quando solicitada, a escola não respondeu.
Aversão da APEOESP a escolas cívico-militares
A APEOESP (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), contou que o próximo governante deve ser alguém que entregue uma boa educação a todos "Educação Básica é essencial e deve ser pública, de qualidade e universal e deve ser administrada pelo governo, com competência",respondeu em entrevista por e-mail.
"Professoras e professores são imprescindíveis na tarefa de resgatar o Brasil e o estado de São Paulo de projetos nefastos, como a transformação de escolas regulares em escolas cívico-militares", pronunciou a APEOESP, demonstrando aversão às falas do candidato Tarcísio Freitas que esteve de acordo com o projeto de escola cívico-militar.
Escolas cívico-militares são um padrão diferente da escola militar, que é totalmente administrada pelo Exército. Esse novo projeto é composto por ex-militares ocupando cargos das áreas administrativas das escolas, por isso os professores se opõem a esse tipo de administração escolar.
O sindicato ainda levanta o fato de educação ser um direito de todos, e que os governantes trataram até aqui com descaso. A desvalorização dos professores também é levantada como uma pauta que necessita de atenção, por conta dos salários baixos e falta de segurança.
A necessidade dos alunos
Geovanna Camile Moretto é uma estudante da E.E. Professora Aracy Leme da Veiga Ravache localizada no Jardim Novo Carrão Zona Leste de São Paulo, uma das escolas que está na parte de baixo da tabela do Ideb, classificada entre as piores do Estado.
A representante do grêmio conta que um dos maiores problemas enfrentados em sua escola é a falta de material adequado em sala de aula. A aluna relata que a falta de professores também está no conjunto de barreiras dentro da sua realidade educacional.
A estudante do ensino médio também bate no ponto da falta de uma boa infraestrutura e faz críticas contra a aprovação automática, em que os jovens passam sem aprender os conteúdos que fazem parte da grade de ensino.
A falta de material e a desvalorização dos professores foram dois destaques negativos citados pela estudante.
O que pode ser feito?
Rodrigo Ratier, professor de Jornalismo na USP (Universidade de São Paulo), possui Doutorado em Pedagogiapela faculdade que leciona. Já foi professor de ensino médio e foi um dos fundadores do Projeto Redigir, curso voluntário de redação e cidadania na ECA-USP.
Ratier evidencia que a proposta que seria mais completa era a do Fernando Haddad, uma vez que, poderia trazer maiores benefícios para o setor da educação. Rodrigo completa dizendo que para existir uma melhoria da educação é necessária uma ação com o olhar multifatorial: "O maior investimento deve ser na condição docente, ou seja, no que diz respeito, a salário, carreira, formação inicial e formação continuada".
Entre as características das piores escolas de São Paulo, a evasão escolar por conta da necessidade de trabalhar, é uma realidade. A Plataforma Juventude, Educação e Trabalho apontou que no Brasil, 39,1% dos jovens entre 14 e 29 anos abandonam os estudos para trabalhar.
Segundo o Ideb, em São Paulo no ano de 2020, 16% dos alunos nascidos em 2003 e matriculados em escolas públicas, abandonaram os estudos, essa porcentagem representa 1520 estudantes, número agravado por conta da pandemia.
Ratier falou sobre o abandono como algo que deve ser tratado não apenas como um número a menos de alunos, mas comoum grande problema. Oferecer auxílios e programas que podem ajudar os alunos que precisam trabalhar é o ideal para que o número de abandono diminua.
Fernando Cássio especialista em políticas públicas de educação, traz a problemática da evasão escolar, e relembra o termo usado por Paulo Freire “a expulsão escolar”, o especialista usa o termo para apontar que o aluno que abandona a escola é desmotivado por ela. A falta de uma boa infraestrutura, falta de professores e aulas presenciais sendo substituídas por remotas, são grandes desmotivadores do ensino.
Cássio completa dizendo “é muito fácil para os governadores colocarem a culpa da evasão nos alunos, sendo que os mesmos desmotivam os jovens a estudarem”, sinalizando o fraco investimento nas escolas por parte dos administradores da educação. Investimentos como: Laboratórios, ambiente agradável, mobília escolar. Que estimulam os alunos a continuarem dando segmento na vida escolar, são pensamento utópicos que ficam longe da realidade.
*Indicação de nome fictício.
O percentual de negras na Alesp agora é de 5,32%. Em comparação ao que representam em relação ao total da população do Estado, contudo, a proporção é baixa. Em São Paulo, elas somam 12,5 milhões, ou 27,7% do total.
De acordo com Joana Coutinho, especialista em movimentos sociais e doutora em ciência política pela PUC as mulheres formam a maioria da população brasileira, mas sua representação é sub-representada. Negra, a especialista não se diz representada no meio político.
A trajetória das mulheres negras na política brasileira se iniciou em 1933, quando apenas uma mulher preta votou: Almerinda Farias. Foi a primeira negra a votar e a ser candidata no Brasil.
A primeira mulher negra a ser eleita para um cargo político no Brasil foi Antonieta de Barros, Partido Liberal Catarinense (PLC), em 1934. Professora, ela foi eleita deputada estadual em Santa Catarina. Na foto abaixo, das 19 pessoas, ela aparece como a única mulher e negra no meio de 18 homens brancos.
(Foto: Divulgação / Acervo USP)
Theodosina Rosário Ribeiro (MDB), professora, advogada e diretora escolar, foi a primeira mulher negra eleita vereadora para a Câmara Municipal de São Paulo. Já Laélia Alcântara (PMDB) foi a primeira negra a ocupar uma cadeira de senadora da República no Congresso Nacional.
Benedita da Silva foi eleita a primeira vereadora do PT e a primeira mulher negra a ocupar uma cadeira na Câmara de Vereadores da cidade do Rio de Janeiro.
Das precursoras na política brasileira, como Theodosina Rosário Ribeiro, Laélia Alcântara e Benedita da Silva, até mulheres trans e negras, como Kátia Tapety (PSB), Érica Malunguinho (PSOL), Carolina Iara (PT), Erika Hilton (PSOL), houve muita luta em busca da igualdade social. Kátia foi a primeira trans a se eleger para um cargo político no Brasil, em 1992. Érica foi a primeira mulher transgênero da Alesp, em 2018. Carolina, da Bancada Feminista do PSOL, foi a primeira mulher trans intersexo eleita para a Alesp, em 2022. Erika foi a primeira mulher trans a ser eleita deputada federal, em 2022.
Elas são importantes para a geração que chega na política e vem aumentando na disputa por cargos eletivos. Para que a Paula Nunes (PSOL), mulher negra e representante da Bancada Feminista, conseguisse ser a terceira mais votada para a Alesp neste ano, com 259.771 votos, Almerinda e Antonieta construíram um caminho importante para a presença de mulheres negras no mundo político.
Quando analisamos as propostas previstas nos projetos de campanhas destas candidatas, notamos algumas pautas em comum, como: a luta antirracista, defesa dos direitos das pessoas LGBTQIA+, defesa da democracia e dos direitos humanos.
Além da busca pelo rompimento da barreira do preconceito e falta de acesso dessa classe na política brasileira, essas mulheres lutam pelas classes sociais minoritárias, quando o assunto é políticas públicas.
“Ainda estamos na luta, estamos em processo de maior representatividade. É inegável a desigualdade que permanece quando comparamos o número de mulheres negras eleitas”, declara Leci Brandão, deputada estadual pelo PCdoB.
Melina de Lima, porta-voz do projeto Lélia Gonzalez Vive - criado para manter e honrar a memória e luta da ativista, socióloga e política Lélia Gonzalez, alega a importância da presença no mundo político:
“Estar no Congresso é essencial para colocar luz sobre esse problema estrutural. Precisamos apontar e combater o racismo e o machismo na nossa sociedade que fazem com que continuemos com esses tristes índices”.
Uma luta além da política
Joana alega que emergir em um cenário predominantemente masculino e, por vezes, misógino, é romper com a cultura histórica da sub-representação enfrentada por mulheres negras no âmbito político. Os números apresentados mostram o quão preocupante é essa pequena representação, visto que a política brasileira ainda tem maior presença de pessoas brancas, sendo que 54% da população é negra, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Ser minoria em qualquer espaço significa ter mais dificuldade para aprovar suas ideias e propostas. Algumas vezes, interesses que são contrários ao povo falam mais alto e, como minoria, não temos força para impedir".
(Foto: Alesp / José Antônio Teixeira)
“A sub-representatividade impacta na questão da violência policial contra negros e pobres, em políticas de saúde que atenda a especificações de grupos étnicos como negros e indígenas, por exemplo. E na questão da educação”, declara Joana.[
Paula Nunes,da Bancada Feminista (PSOL), Ediane Maria (PSOL), Mônica Seixas, do Movimento Pretas (PSOL), e Thainara Faria (PT) não responderam até o dia da matéria.
A representatividade no Congresso
Além da luta contra o machismo, as mulheres negras enfrentam um racismo enraizado nas relações sociais. Visando mudar o atual cenário, a sociedade começa a se conscientizar dos problemas enfrentados por certas minorias.
“Até hoje as relações sociais são permeadas pelos reflexos do período escravocrata. Mulheres negras amargam a falta de oportunidades, a violência e racismo enquanto batalham diariamente para transformar suas histórias”, explica a porta-voz do instituto Lélia Gonzalez Vive.
Joana expõe a necessidade de se ter mulheres nas esferas de decisões, mas acima de tudo, mulheres trabalhando em prol das classes menos favorecidas
Rachel Andrade, porta-voz da ONG #ElasNoPoder, que foca em viabilizar a entrada de mulheres na política, diz em entrevista ao Contraponto, que julga essencial a presença de negras no governo, para a busca de mais direitos e condições para mulheres pretas. Com isso, pede o ingresso de corpos para além dos brancos, cis e masculinos:
“Importa a presença de corpos cujas trajetórias carregam os atravessamentos da desigualdade social e que estimulam um olhar sensível ao combate a essa desigualdade”, diz.
Especialistas e outras ONGs, como a Think Olga, não responderam aos pedidos de entrevista até o momento da publicação da matéria.