
As eleições deste ano no Estado de São Paulo apresentaram o maior número de candidatos com deficiência no Brasil - 11 candidaturas. Entretanto, nenhum deles foi eleito para Câmara dos Deputados ou Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). A deputada eleita Andrea Werner (PSB) é a única política em São Paulo com pautas voltadas a esse público.
No Brasil foram 448 pessoas disputando cargos, entretanto, em números gerais isso representa somente 1,6% das 28.790 candidaturas do país inteiro. A principal candidatura ficou por conta de Mara Gabrilli (PSDB), candidata à Vice-Presidência de Simone Tebet (MDB).
Participação política das pessoas com deficiências
Os partidos com candidatos que possuem algum tipo de deficiência foram: PSB com duas candidaturas a deputadas estaduais (Luciana Trindade e Talita Cadeirante); PSOL com uma candidata a deputada federal, Tetê, e um coletivo formado por 9 pessoas (“Coletivo de PCD do PSOL”, com 7 pessoas com deficiência); REDE Sustentabilidade com uma candidatura a deputado estadual (Tuca Munhoz); e o PT com uma candidatura a deputada estadual (Vanessa Cornélio).
Mesmo com um considerável número de políticas que visam à inclusão, não existe uma representação desse público no Legislativo e no Judiciário, com apenas 0,5% de parlamentares que possuem algum tipo de deficiência. Um dos problemas apresentados está no cumprimento das leis já existentes, como a Lei das Cotas e a Lei da Inclusão.
Na opinião de Jeniffer Farias, mestre em Psicologia e Desenvolvimento de Políticas Públicas e uma das ex-candidatas da Bancada do PSOL, não adianta criar leis visando atender a população com deficiência de forma geral, deve-se olhar cada caso e região com olhares diferentes
“Uma das principais questões às quais estávamos atrelados era a fiscalização. Queríamos fortalecer os conselhos municipais, porque cada região funciona de uma forma. Algumas coisas funcionam bem em uma região, mas em outras não”, afirma Jeniffer Farias, mestre em Psicologia e Desenvolvimento de Políticas Públicas e uma das ex-candidatas da Bancada do PSOL.
A busca pela transversalidade era outro ponto que a bancada buscava abordar. Farias explica que a opressão é ainda maior para aqueles que se encontram em mais de um grupo considerado minoria como negros, LGBTs e indígenas.

Jacqueline Bezerra, psicóloga e escritora, conta que mesmo com as diversas leis que já possuímos em nosso país, dentre elas a Lei de Cotas e a Lei de Inclusão, existe um problema invisível para grande parte da população.
“Até que ponto os cargos disponibilizados para pessoas com deficiências têm perspectiva de crescimento? Muitas vezes a pessoa acaba recrutando por conta de uma lei, não para realmente incluir. Não existe uma confiança na capacidade daquele indivíduo”
A psicóloga lembra que segundo o IBGE, 24% da população brasileira possui algum tipo de deficiência, portanto, ao contrário do que muitos pensam, a necessidade de melhorias em questões estruturais não deveria ser um privilégio.
Bezerra finaliza explicando que ter alguém em cargos políticos, revistas, mídias digitais, televisão e ver como essas pessoas estão sendo aceitas na nossa atual sociedade é algo de extrema importância, pois ela se torna alguém para se admirar e inspirar.
“É um auxílio para combater esse capacitismo internalizado, que é quando a própria pessoa com deficiência possui um preconceito consigo mesmo. Eu finalizo com uma frase internacional, que acho muito importante: ‘Nada sobre nós, sem nós’.”

Luciana Trindade, coordenadora do PSB Inclusão e que também lançou candidatura na última eleição, explica que o partido passou por uma reestruturação visando à presença de pessoas com deficiência em todos os capítulos e leis.
“Incentivamos a nossa militância a participar dos conselhos e organizações que atuam com diversas pautas que não só a para a pessoa com deficiência. Um exemplo são os conselhos de saúde, conselho da mulher, Fundo de Desenvolvimento Urbano (Fundurb), etc”, afirma.
Uma das possíveis soluções para a falta de representação no Legislativo, na opinião da coordenadora, é a criação de uma cota para as cadeiras nos níveis municipal, estadual e federal. O PSB tem como meta apresentar um projeto de lei para a Câmara dos Deputados em 2023, com o objetivo de que no próximo pleito de 2024 uma possível lei já esteja publicada e em prática.
“Enquanto ainda formos vistos como incapacitados não nos será dada a oportunidade de protagonizar e fazer a transformação social necessária. A ausência de pessoas com deficiência em espaços de poder implica na falta de informação e logo a de produção de políticas públicas”, diz Luciana.

No entanto, não são só os políticos com deficiências que possuem propostas que visam abordar essas questões. A deputada estadual eleita Andrea Werner (PSB), Thífany Félix (REDE) e outras duas pessoas do Coletivo de PCD do PSOL foram candidatas que buscaram defender o tema.
“Uma das propostas que eu pretendo levar para a Assembleia Legislativa, tem em vista o apoio a políticas de inclusão de pessoas com deficiência, não apenas em âmbito estadual, mas no municipal também” diz Andréa Werner, fundadora do Instituto Lagarta Vira Pupa - rede de apoio para mães e famílias com deficiência - e mãe atípica, mães de crianças com algum tipo de deficiência, de Theo, um menino com espectro autista.
Werner tem como prioridade a criação de um programa de renda mínima para mães e cuidadoras de pessoas com deficiência. A decisão de abordar esse tema em sua campanha veio do seu dia a dia e com o contato com outras mães, que igual ela, têm filhos com algum tipo de deficiência.
“Não é apenas uma questão de ‘dar voz’, mas sim, de levar essa voz a sério, para se ter a informação e a consciência de como abordar essas pautas” complementa a deputada.
Sobre o assunto, Jacqueline Bezerra explica que não é somente a vida da criança que é alterada por conta da deficiência apresentada, muitos pais acabam sendo excluídos do mercado de trabalho, além de desenvolverem a Síndrome do Cuidador, quando por conta dos impactos emocionais, sociais e físicos causados por um nível de cuidados, a pessoa se sente sobrecarregada
Dificuldades invisíveis
As leis voltadas para pessoas com deficiência já vêm sendo criadas desde 1989, quando o então presidente José Sarney criou a Lei 7.853 que passou a obrigação de defender os direitos das pessoas com deficiência para o Ministério Público.
A “Lei de Cotas” de 1991, que visa a inclusão no mercado de trabalho, e a “Lei Brasileira de Inclusão” de 2015, que traz um conjunto de direitos, são alguns desses exemplos. O grande problema está na falta de fiscalização por parte do Estado no cumprimento delas.
“Com a tentativa de diminuição do Estado, existe uma redução de funcionários que seriam necessários para fiscalização da execução dessa legislação, e não apenas da destinada às pessoas com deficiência, mas de forma geral”, explica Luciana.
Uma das principais dificuldades que a pessoa com deficiência enfrenta é a falta de informações que outras pessoas têm em relação a ela. Muitos continuam as vendo como “coitadinhos” ou até mesmo um super-herói, não conseguindo enxergar além da deficiência.
“É uma coisa que incomoda demais, porque é mais ou menos assim: ‘Sabe o PCD da área X ou PCD da área Y?’. Não é o João, o Pedro, a Maria, o Paulo ou o profissional em si, sempre a pessoa é atrelada à deficiência. Na sala de aula, por exemplo, o professor fala que tem 20 alunos e 3 inclusões”, afirma Marinalva Cruz, graduada em diretora de Relações Governamentais e Empregabilidade da ONG Turma do Jiló - organização da sociedade civil que busca desenvolver em escolas e empresas projetos que capacitem todos a desenvolverem planos para cada pessoa, possuindo uma deficiência ou não.

A questão da acessibilidade, não só a de estrutura física, mas também de formas de comunicação e meios tecnológicos que possibilitam uma igualdade dentro da sociedade, é outro ponto de dificuldade enfrentado, “sem acessibilidade nunca haverá uma inclusão verdadeira de todas as pessoas com deficiência”, completa Marinalva.
Por muitas vezes existe um preconceito onde acham que essas pessoas apenas têm interesse em pautas onde o tema principal é a deficiência, sendo que também buscam falar sobre economia, política, engenharia e outros temas.
“Falta um olhar transversal, mesmo que em um primeiro momento não pareça ser uma pauta relacionada a pessoas com deficiência, é preciso entender que existem pessoas transexuais, LGBTs, pessoas pretas, pardas com deficiência. É só mais uma característica entre outras”, conclui a diretora.
Gregory Mankiw, David Romer e David N. Weil, são economistas renomados que possuem respeito e altos reconhecimentos da área, eles mostram que os países com os maiores níveis de escolaridade são os que têm melhores condições de bem-estar e crescimento econômico.
Após vencer a eleição para governador no segundo turno, Tarcísio de Freitas do partido Republicanos, conhecerá o desafio de melhorar o ensino do estado para que esses avanços aconteçam.
Segundo o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), São Paulo ocupa o 6º lugar na classificação das escolas estaduais. Dentro das classificações de escolas, é possível notar que as instituições com uma classificação pior estão em lugares desfavorecidos e possuem uma clara falta de investimento em pontos importantes, como a infraestrutura.
Os números também mostram que os estudantes negros e de baixa renda não recebem o aprendizado adequado nas matérias de Matemática e Português. Seguindo a tabela do Ideb, os números que representam o aprendizado dos jovens negros nestas disciplinas e de baixa renda na matéria de humanas é de 31%, enquanto para a de exatas é de 4%.
Enquanto os alunos de alta renda e brancos ficam com números acima dos jovens que não fazem parte da mesma classe social e racial, em português ficam entre 48% e 50%, enquanto na matéria de matemática ficam entre 11% e 13%.
Os números apresentam os problemas das escolas periféricas, que são praticamente esquecidas pelo estado e por seus governadores.
Professores querem ensino melhor
A escola Professora Zoraide de Campos Helu fica no bairro do Jardim Jaraguá, localizada em região periférica do estado de São Paulo. A instituição detém o título de pior escola no Enem de 2017 e continua sendo classificada como uma das piores do estado pelo Ideb.
O professor *Leonel Gonçalves* leciona dentro da instituição e relata que a escola passa por problemas que a partir de suas análises, são erros de seus administradores que não acatam as soluções que são passadas pelos profissionais.
Ele disse que as deficiências partem desde a segurança do próprio professor, até a parte estrutural que não entrega um ambiente favorável para os alunos aprenderem, e nem suporte para as aulas.
Dentre os diversos relatos do educador estão: falta de apoio, estrutura ruim, falta de material de apoio, aprovação de alunos que não aprenderam nada.
Quando solicitada, a escola não respondeu.
Aversão da APEOESP a escolas cívico-militares
A APEOESP (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), contou que o próximo governante deve ser alguém que entregue uma boa educação a todos "Educação Básica é essencial e deve ser pública, de qualidade e universal e deve ser administrada pelo governo, com competência",respondeu em entrevista por e-mail.
"Professoras e professores são imprescindíveis na tarefa de resgatar o Brasil e o estado de São Paulo de projetos nefastos, como a transformação de escolas regulares em escolas cívico-militares", pronunciou a APEOESP, demonstrando aversão às falas do candidato Tarcísio Freitas que esteve de acordo com o projeto de escola cívico-militar.
Escolas cívico-militares são um padrão diferente da escola militar, que é totalmente administrada pelo Exército. Esse novo projeto é composto por ex-militares ocupando cargos das áreas administrativas das escolas, por isso os professores se opõem a esse tipo de administração escolar.
O sindicato ainda levanta o fato de educação ser um direito de todos, e que os governantes trataram até aqui com descaso. A desvalorização dos professores também é levantada como uma pauta que necessita de atenção, por conta dos salários baixos e falta de segurança.
A necessidade dos alunos
Geovanna Camile Moretto é uma estudante da E.E. Professora Aracy Leme da Veiga Ravache localizada no Jardim Novo Carrão Zona Leste de São Paulo, uma das escolas que está na parte de baixo da tabela do Ideb, classificada entre as piores do Estado.
A representante do grêmio conta que um dos maiores problemas enfrentados em sua escola é a falta de material adequado em sala de aula. A aluna relata que a falta de professores também está no conjunto de barreiras dentro da sua realidade educacional.
A estudante do ensino médio também bate no ponto da falta de uma boa infraestrutura e faz críticas contra a aprovação automática, em que os jovens passam sem aprender os conteúdos que fazem parte da grade de ensino.
A falta de material e a desvalorização dos professores foram dois destaques negativos citados pela estudante.
O que pode ser feito?
Rodrigo Ratier, professor de Jornalismo na USP (Universidade de São Paulo), possui Doutorado em Pedagogiapela faculdade que leciona. Já foi professor de ensino médio e foi um dos fundadores do Projeto Redigir, curso voluntário de redação e cidadania na ECA-USP.
Ratier evidencia que a proposta que seria mais completa era a do Fernando Haddad, uma vez que, poderia trazer maiores benefícios para o setor da educação. Rodrigo completa dizendo que para existir uma melhoria da educação é necessária uma ação com o olhar multifatorial: "O maior investimento deve ser na condição docente, ou seja, no que diz respeito, a salário, carreira, formação inicial e formação continuada".
Entre as características das piores escolas de São Paulo, a evasão escolar por conta da necessidade de trabalhar, é uma realidade. A Plataforma Juventude, Educação e Trabalho apontou que no Brasil, 39,1% dos jovens entre 14 e 29 anos abandonam os estudos para trabalhar.
Segundo o Ideb, em São Paulo no ano de 2020, 16% dos alunos nascidos em 2003 e matriculados em escolas públicas, abandonaram os estudos, essa porcentagem representa 1520 estudantes, número agravado por conta da pandemia.
Ratier falou sobre o abandono como algo que deve ser tratado não apenas como um número a menos de alunos, mas comoum grande problema. Oferecer auxílios e programas que podem ajudar os alunos que precisam trabalhar é o ideal para que o número de abandono diminua.
Fernando Cássio especialista em políticas públicas de educação, traz a problemática da evasão escolar, e relembra o termo usado por Paulo Freire “a expulsão escolar”, o especialista usa o termo para apontar que o aluno que abandona a escola é desmotivado por ela. A falta de uma boa infraestrutura, falta de professores e aulas presenciais sendo substituídas por remotas, são grandes desmotivadores do ensino.
Cássio completa dizendo “é muito fácil para os governadores colocarem a culpa da evasão nos alunos, sendo que os mesmos desmotivam os jovens a estudarem”, sinalizando o fraco investimento nas escolas por parte dos administradores da educação. Investimentos como: Laboratórios, ambiente agradável, mobília escolar. Que estimulam os alunos a continuarem dando segmento na vida escolar, são pensamento utópicos que ficam longe da realidade.
*Indicação de nome fictício.
O percentual de negras na Alesp agora é de 5,32%. Em comparação ao que representam em relação ao total da população do Estado, contudo, a proporção é baixa. Em São Paulo, elas somam 12,5 milhões, ou 27,7% do total.
De acordo com Joana Coutinho, especialista em movimentos sociais e doutora em ciência política pela PUC as mulheres formam a maioria da população brasileira, mas sua representação é sub-representada. Negra, a especialista não se diz representada no meio político.
A trajetória das mulheres negras na política brasileira se iniciou em 1933, quando apenas uma mulher preta votou: Almerinda Farias. Foi a primeira negra a votar e a ser candidata no Brasil.
A primeira mulher negra a ser eleita para um cargo político no Brasil foi Antonieta de Barros, Partido Liberal Catarinense (PLC), em 1934. Professora, ela foi eleita deputada estadual em Santa Catarina. Na foto abaixo, das 19 pessoas, ela aparece como a única mulher e negra no meio de 18 homens brancos.
(Foto: Divulgação / Acervo USP)
Theodosina Rosário Ribeiro (MDB), professora, advogada e diretora escolar, foi a primeira mulher negra eleita vereadora para a Câmara Municipal de São Paulo. Já Laélia Alcântara (PMDB) foi a primeira negra a ocupar uma cadeira de senadora da República no Congresso Nacional.
Benedita da Silva foi eleita a primeira vereadora do PT e a primeira mulher negra a ocupar uma cadeira na Câmara de Vereadores da cidade do Rio de Janeiro.
Das precursoras na política brasileira, como Theodosina Rosário Ribeiro, Laélia Alcântara e Benedita da Silva, até mulheres trans e negras, como Kátia Tapety (PSB), Érica Malunguinho (PSOL), Carolina Iara (PT), Erika Hilton (PSOL), houve muita luta em busca da igualdade social. Kátia foi a primeira trans a se eleger para um cargo político no Brasil, em 1992. Érica foi a primeira mulher transgênero da Alesp, em 2018. Carolina, da Bancada Feminista do PSOL, foi a primeira mulher trans intersexo eleita para a Alesp, em 2022. Erika foi a primeira mulher trans a ser eleita deputada federal, em 2022.
Elas são importantes para a geração que chega na política e vem aumentando na disputa por cargos eletivos. Para que a Paula Nunes (PSOL), mulher negra e representante da Bancada Feminista, conseguisse ser a terceira mais votada para a Alesp neste ano, com 259.771 votos, Almerinda e Antonieta construíram um caminho importante para a presença de mulheres negras no mundo político.
Quando analisamos as propostas previstas nos projetos de campanhas destas candidatas, notamos algumas pautas em comum, como: a luta antirracista, defesa dos direitos das pessoas LGBTQIA+, defesa da democracia e dos direitos humanos.
Além da busca pelo rompimento da barreira do preconceito e falta de acesso dessa classe na política brasileira, essas mulheres lutam pelas classes sociais minoritárias, quando o assunto é políticas públicas.
“Ainda estamos na luta, estamos em processo de maior representatividade. É inegável a desigualdade que permanece quando comparamos o número de mulheres negras eleitas”, declara Leci Brandão, deputada estadual pelo PCdoB.
Melina de Lima, porta-voz do projeto Lélia Gonzalez Vive - criado para manter e honrar a memória e luta da ativista, socióloga e política Lélia Gonzalez, alega a importância da presença no mundo político:
“Estar no Congresso é essencial para colocar luz sobre esse problema estrutural. Precisamos apontar e combater o racismo e o machismo na nossa sociedade que fazem com que continuemos com esses tristes índices”.
Uma luta além da política
Joana alega que emergir em um cenário predominantemente masculino e, por vezes, misógino, é romper com a cultura histórica da sub-representação enfrentada por mulheres negras no âmbito político. Os números apresentados mostram o quão preocupante é essa pequena representação, visto que a política brasileira ainda tem maior presença de pessoas brancas, sendo que 54% da população é negra, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Ser minoria em qualquer espaço significa ter mais dificuldade para aprovar suas ideias e propostas. Algumas vezes, interesses que são contrários ao povo falam mais alto e, como minoria, não temos força para impedir".
(Foto: Alesp / José Antônio Teixeira)
“A sub-representatividade impacta na questão da violência policial contra negros e pobres, em políticas de saúde que atenda a especificações de grupos étnicos como negros e indígenas, por exemplo. E na questão da educação”, declara Joana.[
Paula Nunes,da Bancada Feminista (PSOL), Ediane Maria (PSOL), Mônica Seixas, do Movimento Pretas (PSOL), e Thainara Faria (PT) não responderam até o dia da matéria.
A representatividade no Congresso
Além da luta contra o machismo, as mulheres negras enfrentam um racismo enraizado nas relações sociais. Visando mudar o atual cenário, a sociedade começa a se conscientizar dos problemas enfrentados por certas minorias.
“Até hoje as relações sociais são permeadas pelos reflexos do período escravocrata. Mulheres negras amargam a falta de oportunidades, a violência e racismo enquanto batalham diariamente para transformar suas histórias”, explica a porta-voz do instituto Lélia Gonzalez Vive.
Joana expõe a necessidade de se ter mulheres nas esferas de decisões, mas acima de tudo, mulheres trabalhando em prol das classes menos favorecidas
Rachel Andrade, porta-voz da ONG #ElasNoPoder, que foca em viabilizar a entrada de mulheres na política, diz em entrevista ao Contraponto, que julga essencial a presença de negras no governo, para a busca de mais direitos e condições para mulheres pretas. Com isso, pede o ingresso de corpos para além dos brancos, cis e masculinos:
“Importa a presença de corpos cujas trajetórias carregam os atravessamentos da desigualdade social e que estimulam um olhar sensível ao combate a essa desigualdade”, diz.
Especialistas e outras ONGs, como a Think Olga, não responderam aos pedidos de entrevista até o momento da publicação da matéria.
João Doria, ex-governador de São Paulo, anunciou que estava se desligando do PSDB no dia 19 de setembro. A saída do ex-governador, da legenda, acompanha a queda do partido neste ciclo eleitoral. Pela primeira vez em 28 anos, os tucanos não estiveram presentes no segundo turno da votação para governador de São Paulo.
Isso é consequência direta da dispersão da base apoiadora, que desde o começo dos anos 2000, passando pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e o governo do presidente Jair Bolsonaro, foi de uma classe média progressista e moderada à extrema direita, como bem analisa o cientista político e membro da comissão de projetos especiais da ANPOCS ( Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais), Leonardo Belinelli.
Os resultados do PSDB no ciclo eleitoral de 2022 foram consideravelmente baixos. Apesar de serem a terceira maior bancada na Assembleia Legislativa de São Paulo, garantiram apenas nove cadeiras, a metade de nomes eleitos pelo Partido dos Trabalhadores (18). Os tucanos também não participaram da corrida presidencial, feito inédito desde a fundação do partido, em 1988.
Entre 2014 e 2018, o PSDB teve grande protagonismo político. Há quatro anos, Geraldo Alckmin (PSDB) governava São Paulo, cargo que seria assumido por Doria no próximo ciclo eleitoral, com 51,75% dos votos. Já na disputa presidencial de 2014, Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) protagonizaram uma das eleições mais acirradas desde a redemocratização.
Mas, nem o partido nem o clima político são os mesmos, e o que se vê hoje é o resultado do acúmulo de eventos internos e externos ao partido, observa Leonardo Belinelli “É um partido com muitas lutas internas e isso desgasta, acaba tendo muita dificuldade de caminhar”.
Joyce Leão Martins, professora de ciência política na Universidade Federal de Alagoas, aponta como um dos pivôs o choque de imagem entre os dois partidos hegemônicos durante esse período de eleição. “A queda do PSDB tem muito a ver, em um primeiro momento, com a Lava Jato. Quando a Dilma sofreu o impeachment, tivemos um grande crescimento do PSDB . Foi o partido que mais conseguiu prefeituras no Brasil. Mas os escândalos de corrupção acabaram chegando ao Aécio Neves, o que causou um grande dano à imagem do PSDB, símbolo do 'Anti-PT'” até então.
Martins ainda afirma que na sociedade atual, em que a imagem é de extrema importância, as polêmicas envolvendo corrupção fragilizaram o partido tucano como um todo.

Belinelli comenta que o PSDB sempre teve conflitos internos por ascensão de cargos e candidaturas: “Assim que o segundo governo FHC terminou, em 2003, [a legenda] teve muita dificuldade de se articular em torno de uma liderança que fosse capaz de empregar rumo ao partido”.
A soma desses desentendimentos com os intensos protestos de junho de 2013 colocou o PSDB à mercê da polarização política, a base de apoio se desconcentrou da sigla e parte dela deu corpo à nova direita. Belinelli avalia que houve uma crise de ideologia na época em “um partido que quando surgiu pretendia apresentar um programa moderno, calcado nas classes médias progressistas e promovendo uma série de reformas econômicas e sociais”.
Apesar de distante do primeiro posicionamento, os integrantes do partido não demoraram a responder aos novos rumos. Rosemary Seguro, cientista social e professora de Ciência Sociais no Programa de Pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, avalia que Doria têm levado o PSDB mais para a direita “ele [Doria] vai levando a marca PSDB para uma extrema-direita, porém não há espaço para duas extremas-direita no cenário político nacional e ele, mais frágil nesse sentido [em comparação à onda bolsonarista], vai perdendo paulatinamente”, complementa.
O “Voto BolsoDoria”, slogan que o tucano escolheu para manifestar apoio à candidatura de Bolsonaro em 2018, nutriu, desde lá, essa proximidade com a vertente mais radical.
Quatro anos depois, Doria seria forte opositor à administração federal por considerá-la “contrária ao combate à pandemia”, como ele mesmo colocou em diversos discursos.

Mesmo tentando se adequar à classe média " peessedebista " que migrou para à extrema-direita, o partido não conseguiu quebrar com o velho jogo político. Belinelli avalia que tanto o PSDB quanto o seu rival PT representam um sistema político tradicional e o povo pedia por algo novo.
Orlando Silva, deputado federal pelo PCdoB, em entrevista ao Contraponto Digital, complementa dizendo que: “O apoio dos partidos de centro-direita às agendas ultraliberais, os quais retiraram benefícios dos trabalhadores e empobreceram o povo, estão por trás do avanço da extrema-direita”.
Bolsonaro foi escolhido como o representante da direita para carregar as esperanças contra o governo petista, se autointitulando “outsider”, alguém que poderia subverter a política tradicional. Essa afinidade foi o necessário para que Bolsonaro e seu vice, o ex-general do Exército Hamilton Mourão, se elegesse para a presidência em 2018 pelo PSL e que, o Partido Liberal (PL), legenda de Bolsonaro nessas eleições, conquistasse maioria na Câmara dos Deputados em 2022.
O PSDB, pela avaliação de Belinelli, sofreu o efeito colateral da polarização, apesar de não ter sido o objeto direto da retaliação bolsonarista, e perdeu a relevância que teve no passado.
O destino do partido ainda é incerto, e sua periferização abre espaço para agentes políticos mais perigosos, afirma Joyce Martins.“O bolsonarismo pegou um espaço que foi ficando vazio. A imagem do PSDB entra em erupção e depois do espaço da direita democrática ficar vazio, Bolsonaro pega o lugar de fala como o representante 'Anti-PT'”.
Martins acredita que a falta de participação na corrida para a Presidência não é necessariamente o motivo da derrota do PSDB nem o caminho de volta à soberania. Ela cita como exemplo o PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro), que não apresentou candidato ao cargo entre 1998 e 2014, se voltando para competições estaduais e federais e outras áreas da política.
“Nós votamos por imagem e isso está para debate, e cabe ao PSDB se reinventar e buscar resgatar seus eleitores”, finaliza.
A perda de protagonismo no Legislativo paulista contrasta com vitórias em Estados como Rio Grande do Sul (Eduardo Leite), Mato Grosso do Sul (Eduardo Riedel) e Pernambuco (Raquel Lyra).O deputado Marcos Vinholi (PSDB) relata à equipe do Contraponto Digital que confia nesses nomes para guiarem o partido.
“A renovação do PSDB será fundamental na democracia brasileira nos próximos anos. Eduardo Leite, Raquel Lira, Eduardo Riedel, Pedro Cunha Lima, Rodrigo Garcia serão nomes que terão grande protagonismo na política brasileira nos próximos anos”, afirma.
O deputado ainda se diz esperançoso sobre um recomeço sem esquecer das raízes do partido: “Sem dúvida, o PSDB é o partido com maior número de jovens promissores na política brasileira. Mas acredito que nossa renovação deve se dar no retorno às origens, na pauta da social-democracia, que nunca foi tão importante para o país.”
“O PSDB que está emergindo não é um PSDB renovado dentro do seu escopo clássico. Porque sabem que se tomarem outra direção vão perder o pouco de base social que lhes resta, no interior de São Paulo, por exemplo. Eles se veem na contingência de acompanhar essa base social”, detalha Leonardo Belinelli.
Após divergência entre o que apontavam as pesquisas eleitorais e os resultados das urnas no primeiro turno no estado de São Paulo, foi gerado uma grande repercussão negativa por parte dos bolsonaristas em relação à falta de credibilidade das pesquisas. Em contrapartida no segundo turno, os grandes institutos acertaram. Porém, ainda assim, a discrepância alimentou um discurso que vem há tempos sendo perpetuado por Jair Bolsonaro.
Após as apurações das urnas no primeiro turno, Tarcísio de Freitas havia recebido 42,32% dos votos, Fernando Haddad 35,70% e o até então governador, Rodrigo Garcia, do PSDB, 18,4%. Mas nos levantamentos, o candidato apoiador do presidente Jair Bolsonaro se apresentava sempre abaixo de Haddad.
No Ipec, o petista estava à frente com 41% dos votos válidos e o carioca com 31%. O Datafolha e o Atlas também apontavam para a mesma média de porcentagem dos votos válidos para Tarcísio. Enquanto Haddad aparecia com uma média de 39% dos votos.
Glauco Peres da Silva, professor do Departamento de Ciência Política da USP, acredita que esses erros enfatizam ainda mais a perda de credibilidade das pesquisas por uma parcela da população, que apoia o atual presidente do Brasil. Afinal, as pessoas esperam que as pesquisas acertem o resultado, mas esquecem-se de analisar também o procedimento delas.
O incentivo para essa grande comoção contra as pesquisas surgiu de discursos de Jair Bolsonaro, que em diversas ocasiões afirmou que as pesquisas são fraudadas. Com isso, seus apoiadores agarraram essa narrativa e quando não recebem o resultado esperado por eles, começam a criticar o estudo e sua apuração.
O professor explica que compreender uma pesquisa de opinião não é fácil e compara a tarefa a um exame de sangue. “Você retira uma parte do sangue para ver seu estado de saúde, ninguém analisa ele todo. A mesma coisa acontece quando você vai fazer uma pesquisa, não dá para ouvir todo mundo”, diz. Ele complementa afirmando que muitos não conseguem entender que são procedimentos estatísticos complexos e com várias dimensões envolvidas.
Adrián Gurza Lavalle, professor de ciência política da USP e editor-chefe da Brazilian Political Science Review, acredita que um dos motivos para ter ocorrido esse erro nas pesquisas é que alguns institutos utilizaram o Censo de 2010, enquanto outros trabalharam com a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), que é mais atualizada. “Aqueles que trabalharam com o censo de 2010 representaram os grupos de baixa renda e isso produziu efeito na representação desses grupos nos resultados.”
Rafael de Paula Aguiar, pesquisador do Núcleo de Estudos em Arte Mídia e Política, da PUC-SP, afirma: "Essa discrepância pode ser compreendida. De fato, as pesquisas não erraram”. O cientista político deixa claro que não dá pra falar que não teve discrepância nas pesquisas e no resultado eleitoral, mas elas precisam ser interpretadas junto ao comportamento eleitoral.
Entre os fatores que interferiram no dia da votação do primeiro turno, ele lista que, primeiramente, existia uma porcentagem significativa de indecisos, que de última hora decidiram por um voto útil. Esses votos foram para o candidato Tarcísio. Rafael também reforça que o fato de o político ter associado a sua imagem a do atual presidente Jair Bolsonaro, também interferiu na sua popularidade.
Rosemary Segurado, cientista política e professora da PUC-SP, também faz essa pontuação. Ela explica que às vésperas da eleição eram visíveis, para o governo do estado de São Paulo, muitos indecisos, que não sabiam quem eram os candidatos e estavam com os olhos muito voltados apenas ao cenário nacional. A especialista aponta também que muitos eleitores de Bolsonaro optam por não responder às pesquisas, o que faz com que não consigam captar essa opinião.
Outro elemento importante citado por Aguiar é o de que a realidade do eleitor do Haddad e do eleitor do Tarcísio é diferente. A pesquisa Datafolha do dia 19 de setembro mostrou que Lula sustenta suas intenções de voto entre os eleitores mais pobres, com renda familiar de até 2 salários mínimos, obtendo 57% das intenções de voto desse grupo. Sendo assim, muitas vezes, o público petista que responde a pesquisa não vai às urnas por não ter condições de arcar com o custo da passagem. Essa problemática foi discutida, e para o segundo turno, todas as capitais do Brasil e mais 100 outras cidades ofereceram transporte gratuito para os eleitores.
Apesar de muitos especialistas políticos entenderem que esse estudo não tem como ser 100% certeiro, pelo fato de os eleitores mudarem de opinião e decidirem seu voto de última hora, manipulação e fraude foram palavras muito citadas por bolsonaristas ao se referir às pesquisas eleitorais. Uma grande parte da população, como citado acima, acredita que as pesquisas foram divulgadas visando favorecer os candidatos do PT.
Resultados no 2º turno
No dia 30 de outubro, Tarcísio de Freitas, do Republicanos, foi eleito o governador de São Paulo com 55,34% dos votos válidos. Já Fernando Haddad, do PT, obteve 44,66%. O resultado foi o esperado de acordo com o que evidenciaram as pesquisas eleitorais, que apresentaram levantamentos semelhantes. As pesquisas analisadas foram: Ipec, Datafolha e Atlas Intel.
No último levantamento do Ipec, Tarcísio aparecia com 52% contra 48% de Haddad em votos válidos, ou seja, que não contam com brancos, nulos e indecisos. A pesquisa tinha uma margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Sendo assim, o resultado final poderia registrar 50% para cada um dos candidatos, ou 54% para Tarcísio e 46% para Haddad, esse segundo exemplo chegando bem perto da porcentagem das urnas.
O Datafolha e a pesquisa Atlas apresentaram resultados semelhantes ao Ipec, também levando em consideração a margem de erro. No Datafolha, Tarcísio aparecia com 53% e o petista, com 47% dos votos válidos. No Atlas, o republicano tinha 52,2%, e Haddad, 47,5%.
“As pesquisas eleitorais no segundo turno acertaram mais o resultado devido à população já estar mais decidida”, pressupõe Vera Lucia Chaia. Ela atua na área de ciência política, com ênfase em comunicação e comportamento político, ministrando aulas na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Para Gurza, a precisão nesse segundo turno se deu pelo menor número de abstenção, votos brancos e nulos. Ele diz que houve também ausência de voto útil e que o voto estava alinhado com as únicas opções em relação às quais os eleitores poderiam se manifestar na eleição. “No segundo turno, houve menos elementos de incertezas do ponto de vista meramente técnico.”
Devido ao maior acerto nesses resultados, houve menos manifestações em relação às pesquisas. Chaia diz que os políticos não as questionaram, dessa vez, pelo fato de terem sido eleitos pelo mesmo sistema eleitoral.
O editor-chefe da Brazilian Political Science Review sugere como alternativa, após essas pesquisas de intenção de voto, que os principais institutos componham uma comissão para revisar os critérios que estão sendo aplicados. “É preciso averiguar as deficiências que esses critérios podem eventualmente estar introduzindo na aferição das intenções de voto.”
No entanto, Lavalle ressalta que pesquisa de intenção de voto serve para imaginar cenários futuros a partir da tendência das pesquisas produzidas e que os resultados podem realmente não coincidir.
Criminalização dos institutos de pesquisa
Com a repercussão negativa sobre a grande diferença entre os resultados das pesquisas e os resultados das urnas, os institutos entraram na mira dos governistas. No dia 6 de outubro, o líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-PR), sem critérios definidos, apresentou um projeto de lei que visa punir institutos de pesquisas eleitorais e seus contratantes quando os resultados de levantamentos não forem similares aos das urnas.
O projeto propõe que os institutos que divulgarem pesquisas eleitorais publicadas 15 dias antes da data do pleito e que apresentem resultados diferentes, além da margem de erro, dos números apurados nas urnas devem ser punidos com penas de reclusão de até 10 anos e multa. Já no dia 18 do mesmo mês, a proposta foi aprovada no plenário da Câmara, tendo 295 votos favoráveis e 120 contrários.
O projeto trata de forma radical a forma que o governo irá lidar com os institutos de pesquisa, e a medida pode trazer sérios danos à democracia do Brasil.
Em relação a essa proposta, Aguiar comenta que é contraditório o governo apoiar um discurso de liberdade e ao mesmo tempo evitar que as pesquisas sejam feitas e divulgadas. Além de refletir sobre a importância das pesquisas para os próprios políticos, que precisam desse termômetro para dosar suas ações, propostas e campanhas.
Rosemary reforça que a medida é uma tentativa clara de criminalizar as pesquisas eleitorais, “eles propõem punições que são até mais altas do que para os crimes hediondos. Criam um processo de deslegitimação que é o mesmo que eles fazem com as urnas eleitorais”. A professora julga que esse processo é perigosíssimo. “Não é criminalizando a ação dos institutos de pesquisa que iremos gerar um debate para que haja um aprimoramento das formas de coleta dessas opiniões.”