Vida de atleta é espaço que combina sonhos com realidades

O contraponto entre Yago Mateus, um atleta de basquete e Nicolas Ronsini, atleta da vida
por
Vitor Coelho
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21/10/2024

Por Vitor Coelho

A jornada que separa Tupã, uma pacata cidade no interior de São Paulo, de Belgrado, a vibrante capital da Sérvia, parece uma distância intransponível. No entanto, para Yago Mateus dos Santos, nascido em 1999 em um lar humilde, essa distância representa não um obstáculo, mas um desafio a ser enfrentado. Sua trajetória no basquete é como uma montanha-russa, repleta de altos e baixos, vitórias e emoções intensas.

Com 1,78 m, Yago pode não ser o mais alto em quadra, mas sempre soube tirar proveito de suas habilidades. Em um esporte que frequentemente valoriza a altura, ele provou que tudo é uma questão de perspectiva. Com uma agilidade impressionante e uma visão de jogo que deixa muitos admirados, Yago dominou as categorias de base, primeiro no Palmeiras, seu clube do coração, e depois no Paulistano, onde finalmente teve a chance de se tornar um profissional.

A partir daí, sua carreira decolou. Depois de desbravar mais de 500 quilômetros em território brasileiro, ele teve uma experiência inesquecível na Summer League, a liga que prepara os novos talentos da NBA. Jogar nos Estados Unidos foi um divisor de águas, onde Yago aproveitou a oportunidade para mostrar seu talento. Logo depois, fez as malas para a Alemanha, onde se juntou ao ULM. E ele brilhou! Com performances excepcionais e uma paixão contagiante, Yago conquistou títulos e se tornou um verdadeiro ídolo da torcida, sendo ovacionado sempre que pisava na quadra.

Sempre com um tom tímido e uma atitude arrebatadora, ele consiga transmitir toda sua insegurança em países vizinhos e ambientes adversos ao mesmo tempo em que mostrava superação em quadra, seja para lutar contra o adversário, como com todas as condições adversas que enfrentou durante a vida. Com outros irmãos, ele nunca foi prioridade, até por que, quem seria a prioridade, em uma casa que a maioria não tem condições básicas para viver. 

Mas a vida, as alegrias, inseguranças e atitudes podem mudar tudo. Yago também demonstra empatia, pricipalmente com os "seus, àqueles que ficaram em sua terra, além dos que compartilharam seu crescimento, caso do personagem que, apesar de "jogador na reserva", também teve vivências parecidas na juventude.

Graças ao seu desempenho no ULM, ele ganhou uma nova chance de brilhar na Summer League e, em seguida, assinou contrato com o Estrela Vermelha, um dos clubes mais tradicionais de Belgrado. Agora, ele está escrevendo um novo capítulo emocionante em sua carreira, jogando em um dos cenários mais competitivos do basquete europeu.

No entanto, a história de Yago vai muito além dos troféus e das vitórias. É uma narrativa de resiliência e determinação. Ele enfrentou a pressão de ser a nova sensação e as dúvidas que surgem com a fama repentina. Em vez de se deixar abater, ele transformou cada desafio em uma oportunidade de crescimento. Yago se tornou uma referência para muitos jovens sonhadores, especialmente para aqueles que, assim como ele, vêm de pequenas cidades e acreditam que podem alcançar grandes coisas. Com garra, talento e um sorriso que ilumina a quadra, ele continua a escrever sua história, provando que, com esforço e paixão, a distância entre Tupã e Belgrado é apenas mais um passo em direção ao sonho.

O “Monstrinho” não inspira apenas a nova geração; ele também demonstra que, na vida, cada drible e cada arremesso são oportunidades de se aproximar de nossos objetivos. Sem dúvida, essa trajetória incrível está apenas começando. 

CONTRAPONTO INEVITÁVEL

A história de Yago Mateus dos Santos brilha intensamente para muitos jovens que sonham em se tornar atletas profissionais. Contudo, nem todos têm a mesma sorte. Nicolas Ronsini, um jovem de São Bernardo, é um exemplo perfeito de como o caminho para o sucesso no esporte pode ser complicado.

Desde pequeno, Nicolas sempre se destacou em diversos esportes, mas foi no basquete que realmente encontrou sua paixão. Com o apoio da família, começou a jogar na escola e rapidamente chamou a atenção de uma treinadora, que o convidou para uma peneira no Palmeiras. Essa oportunidade trouxe ânimo, mas também novos desafios. Quando o clube decidiu encerrar seu time de basquete no NBB, Nicolas se viu em uma situação difícil. Aos 17 anos, optou por ficar no Palmeiras, acreditando na estrutura e no aprendizado que o clube poderia oferecer.

Aos 18 anos, ele foi convocado para a seleção de base brasileira, um grande feito que parecia promissor. No entanto, isso não garantiu a estabilidade que ele esperava. Depois, se transferiu para o Corinthians, na Liga Ouro, mas enfrentou dificuldades em conquistar tempo de jogo e também lidou com algumas lesões. A pressão aumentou quando o clube decidiu não renovar seu contrato. Com 22 anos e enfrentando vários desafios, incluindo a pandemia, Nicolas tomou a difícil decisão de encerrar sua carreira no basquete. A paixão pelo esporte pode ter um preço alto, e nem todos os sonhos se realizam.

A relação entre sonhos, vaidades e desejos é complexa. Compartilhar a quadra com uma futura estrela, destacar-se ao ponto de liderar o elenco e ser promovido a um dos maiores centros de formação do País — a academia de basquete do Palmeiras — era o sonho de muitos.

Para Nicolas, que perdeu a oportunidade de viver do esporte, isso se torna um 'desfalque'. A vaidade, especialmente na era das redes sociais, é um problema que atinge muitas pessoas públicas, que veem nesse meio uma oportunidade de manter a relevância, principalmente para acordos comerciais. A pressão é constante, e muitos sentem que precisam se mostrar o tempo todo.

Hoje, Nicolas compreende que todo o processo foi vantajoso, mas não esconde a frustração de ver seu amigo à frente. Ele valoriza a amizade que construíram ao longo dos anos, que se manteve forte mesmo com os caminhos distintos que tomaram. Da Sérvia, Yago vive o protagonismo, uma vida de rockstar, algo que parece impossível para um garoto de Tupã, que treinava de chuteira na esperança de se destacar em qualquer modalidade.

Enquanto Yago brilha em Belgrado, a trajetória de Nicolas lembra que o basquete, assim como a vida, tem seus altos e baixos. As escolhas que fazemos muitas vezes não são reconhecidas profissionalmente, mas a jornada de Nicolas, assim como a de Yago, deixa marcas. Ele aprendeu que, mesmo quando as coisas não saem como planejado, cada passo tem seu valor.

 

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"O esporte é essência, seja ele em quadra ou na alma. E, sempre claro para todos, avante Palmeiras" (Foto: Arquivo Pessoal)

No fundo, a vida de ambos é entrelaçada por sonhos e desafios. Mesmo que seus caminhos tenham se distanciado, a amizade e o respeito que construíram ao longo do tempo são eternos. Ao olhar para trás, ambos reconhecem que os treinos, as risadas e até as derrotas os moldaram de maneiras profundas.

Nicolas destaca que mesmo as dificuldades trouxeram aprendizados. Ser amigo de alguém que está realizando o sonho que ele também tinha é um sentimento agridoce, uma lembrança de que a vida pode seguir direções inesperadas. Ambos continuam a se inspirar um no outro, mesmo em situações diferentes. Yago representa para Nicolas um exemplo de que a determinação pode levar a grandes conquistas.

Ao final, tanto Yago quanto Nicolas demonstram que a verdadeira importância não está apenas nas vitórias, mas nas lições que aprendemos ao longo do caminho. A vida é cheia de reviravoltas, e cada drible e cada arremesso se tornam oportunidades para crescer.

Enquanto Yago continua a brilhar nas quadras da Europa, Nicolas carrega consigo as memórias e os ensinamentos de sua jornada. Eles podem ter seguido caminhos diferentes, mas a amizade que construíram é uma lembrança constante de que, independentemente das circunstâncias, sonhar e lutar pelo que se ama é o que realmente importa.

Assim, suas histórias continuam a ressoar nas quadras, inspirando jovens a sonhar e acreditar que é possível superar obstáculos. E, mesmo que seus destinos sejam distintos, a conexão que compartilham é um testemunho de que, no grande jogo da vida, a verdadeira vitória pode estar nas relações e experiências vividas.

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