Trends nas redes oferecem riscos para os adolescentes

Mesmo parecendo inofensivas, trends nas redes sociais podem esconder armadilhas que afetam a segurança e o bem-estar emocional de crianças e adolescentes.
por
João Paulo Di Bella Soma
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21/05/2025

Por João Paulo Soma

 

No cenário digital atual, as redes sociais desempenham um papel central na vida dos jovens, oferecendo não apenas entretenimento, mas também um espaço de expressão e pertencimento. Dentro desse universo, as chamadas trends, tendências passageiras que ganham popularidade em plataformas como TikTok, Instagram e X (antigo Twitter), se destacam como fenômenos de engajamento coletivo. Elas surgem em formatos variados, como danças, desafios, músicas ou memes, e rapidamente se espalham entre os usuários, especialmente os mais jovens.

Embora muitas dessas tendências sejam vistas como simples brincadeiras ou formas de lazer, há um lado menos visível, porém preocupante, nesse comportamento digital. O que parece apenas um desafio divertido pode, na prática, esconder riscos significativos. Entre os principais perigos estão comportamentos que incentivam a exposição excessiva, práticas perigosas e até a aproximação de pessoas mal-intencionadas, tudo sob o disfarce de uma modinha inofensiva.

O desejo de aceitação e a pressão por pertencimento social, tão comuns na adolescência, tornam esse público particularmente vulnerável. Muitos jovens aderem às trends como uma forma de se integrar, conquistar curtidas ou aumentar a visibilidade nas redes. No entanto, essa busca pode vir acompanhada de consequências sérias, como riscos físicos, exposição a conteúdos impróprios e impactos emocionais duradouros.

É nesse contexto que surge a necessidade de um olhar mais atento, tanto por parte dos próprios jovens quanto de pais, educadores e sociedade em geral. Compreender o que motiva a adesão às tendências digitais e quais são os possíveis efeitos dessas práticas é um passo fundamental para promover o uso mais consciente e seguro das redes sociais. É o caso de Enzo, que com 14 anos não imaginava a situação perigosa que estava se envolvendo depois de fazer uma trend famosa do Tik Tok.

Enzo nasceu e cresceu no bairro de Perdizes, na zona oeste de São Paulo, e estuda desde pequeno no Colégio Alfredo Castro. Desde os 8 anos, cultiva uma verdadeira paixão pelo universo do anime Pokémon, o que o levou a iniciar uma coleção de cartas que, com o tempo, se transformou em um hobby sério e constante.

Como muitos adolescentes da sua idade, Enzo passa grande parte do tempo livre conectado às redes sociais. No TikTok, criou um perfil voltado exclusivamente para sua coleção de cartas Pokémon. Ali, ele compartilha vídeos mostrando seus itens mais raros, conta curiosidades sobre as cartas e tenta atrair interessados para vendas ou trocas.

Foi nesse ambiente digital que Enzo se deparou com uma trend chamada “Sobre mim!”, que incentivava os usuários a revelarem informações pessoais, como idade, altura, signo e local favorito. Vendo na tendência uma oportunidade de atrair mais visualizações para seu perfil, ele decidiu participar.

Apesar de o vídeo não ter viralizado, a publicação atraiu novos seguidores. Um deles, com o nome de usuário “nagoyyan”, chamava atenção por postar cortes de episódios de Pokémon. A princípio, a troca de mensagens entre os dois era inocente e girava em torno das cartas. Com o tempo, no entanto, o conteúdo das conversas começou a mudar. O usuário passou a fazer perguntas mais específicas sobre a idade de Enzo e o local mencionado no vídeo. Em seguida, sugeriu um encontro presencial para realizar uma possível troca de cartas.

Empolgado com a possibilidade de concretizar uma negociação, Enzo comentou com o pai sobre o convite. Foi então que a situação tomou um rumo diferente. Ao analisar a conversa com mais atenção, o pai identificou sinais claros de perigo e imediatamente interveio: impediu o encontro, bloqueou o perfil suspeito e denunciou o usuário à plataforma.

A crescente presença de crianças e adolescentes nas redes sociais tem levantado sérias preocupações quanto à segurança digital desse público. O caso de Enzo Rodrigues, um adolescente que quase caiu em uma armadilha ao tentar marcar um encontro com um seguidor do TikTok, ilustra de forma alarmante como a interação aparentemente inocente nas plataformas digitais pode rapidamente se transformar em uma situação de risco. Foi apenas graças à intervenção atenta do pai que a situação não evoluiu para algo mais grave, um alerta claro para os perigos que espreitam sob a superfície de conteúdos aparentemente inofensivos.

Esse episódio não é isolado. Tendências virais como a chamada “Trend do Carregador” evidenciam como certos conteúdos populares podem assumir significados ocultos, usados por criminosos para se aproximar de jovens desavisados. O que começa como uma simples foto de um carregador de celular pode, na verdade, servir como código para indicar a abertura à troca de imagens íntimas, algo extremamente preocupante quando se considera o número de crianças e adolescentes envolvidos nessas práticas sem ter consciência do que está em jogo.

Dados recentes reforçam a gravidade do problema. Segundo uma pesquisa da TIC Kids Online Brasil, realizada entre março e julho de 2023, 16% dos jovens brasileiros entre 11 e 17 anos já receberam mensagens com teor sexual pela Internet. Esse número alarmante não apenas evidencia a exposição precoce a conteúdos inadequados, mas também escancara a vulnerabilidade dessa geração diante dos riscos do ambiente digital.

A responsabilidade por mudar esse cenário precisa ser compartilhada. Plataformas como o TikTok já possuem diretrizes para coibir conteúdos abusivos, mas sua eficácia depende diretamente do engajamento dos usuários em denunciar comportamentos suspeitos. No entanto, confiar exclusivamente nos mecanismos de controle das redes sociais é insuficiente.

O papel das famílias é fundamental nesse processo. Pais como Fernando Carvalheiro, que procura acompanhar de perto o que o filho acessa online e mantém um diálogo constante sobre os perigos nas redes, mostram que a prevenção começa dentro de casa. Não se trata de vigiar, mas de orientar. Ferramentas de controle parental, conversas francas e incentivo ao pensamento crítico são estratégias essenciais para fortalecer a autonomia digital dos jovens e protegê-los de situações de risco.

Em última instância, a construção de um ambiente digital mais seguro exige ação conjunta: das plataformas, que devem aprimorar seus sistemas de proteção; das autoridades, que precisam agir com rigor diante de denúncias; e, sobretudo, das famílias, que devem se posicionar como a primeira linha de defesa no cotidiano digital dos filhos. Porque, mais do que curtidas e seguidores, o que está em jogo é a segurança e o bem-estar de uma geração inteira.

 

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