A tocofobia é um transtorno de ansiedade ainda pouco estudado. Foi classificada, pela primeira vez, apenas em 2000, em um artigo publicado no British Journal of Psychiatry, da Universidade de Cambridge. Essa fobia está relacionada ao medo excessivo de engravidar ou da dor proveniente do parto, possibilitando o distúrbio e inúmeras consequências na paciente.
Geralmente, a tocofobia está associada a algum trauma que marcou a vida daquela mulher, podendo ter relação com histórias de outras mulheres ou até mesmo com algum episódio em sua vida, que teve como ponto central uma criança. A falta de educação sexual e a desinformação são capazes de, também, fazê-la pensar na ineficácia dos métodos contraceptivos ou numa gravidez silenciosa, termo que surgiu nas redes sociais frente às gestações que não manifestam sintomas até o momento do parto.
“Na tocofobia, qualquer possibilidade vira probabilidade”, afirma a recém- formada médica Maria Julia Ferreira, mais conhecida como Maju nas redes sociais.
Em 2020, Maju decidiu criar conteúdos sobre saúde feminina e sexual na internet, dando suporte básico sobre a educação sexual para mulheres que tiveram pouco ou nenhum contato com o tema.
Segundo Maju, existem dois tipos de tocofobia: a primária e a secundária. A primária refere-se a uma mulher que nunca passou por uma gestação e abomina cogitá-la. Já a secundária acontece quando uma mulher já passou por uma gestação, seja ela bem-sucedida ou não, e que causou traumas psicológicos na paciente.
A mulher que possui tocofobia costuma ter crises de ansiedade, pânico, pesadelos com o assunto, falta de apetite e insônia. Apesar de, em algumas mulheres, a crise passar com o resultado negativo de um teste de gravidez, para outras, as provas reais não são o suficiente. Essas crises costumam vir em qualquer momento do cotidiano, mas, especialmente, após relações sexuais e ao ouvir histórias sobre gravidez inesperada, violência obstétrica ou complicações na mãe e/ou bebê.
Com a popularidade de apps de vídeos curtos, cada vez mais pessoas compartilham informações errôneas sobre gravidez. Muitas mulheres relatam nas redes sociais as gravidezes inesperadas que, em sua maioria, são descobertas na reta final da gestação ou, até mesmo, no momento do parto. Geralmente, o conteúdo se torna sensacionalista, com o intuito apenas de popularizar o criador e traumatizar as consumidoras de conteúdo.
“A internet nem sempre é uma fonte segura de informação. É preciso filtrar. No meu perfil, organizei os destaques de forma que os materiais estejam sempre disponíveis e possam ser acessados pelas pessoas facilmente”, ressalta a médica.
É importante destacar que é possível que a tocofobia se manifeste durante a gravidez. Uma gestante que desenvolve a fobia tende a rejeitar a gestação, fazendo com que seu corpo libere um número alto de hormônios, como cortisol e adrenalina, que prejudicam o desenvolvimento do feto. Os desdobramentos de problemas podem ir desde o risco na pressão arterial até o parto prematuro e dificuldades na amamentação, além de uma maior probabilidade de depressão pós-parto na mãe.
A tocofobia é uma condição complexa que merece compreensão e apoio adequados. É crucial abordá-la de maneira holística, considerando tanto os aspectos emocionais quanto os físicos. O apoio emocional por meio de terapia cognitivo-comportamental (TCC) pode ajudar a identificar pensamentos distorcidos e a desenvolver estratégias para enfrentar o medo. A educação sobre o processo de parto, com informações precisas e positivas, também desempenha um papel fundamental na redução da ansiedade.