Por Lorrane de Santana Cruz
Ainda pequena ela via seus pais trabalharem na roça. Junto dos irmãos, a realidade simples era encarada como dura, mas feliz. Nascida e criada no interior da Bahia, Magna do Nascimento Mendes, quando criança estudava e ajudava sua mãe a cuidar de seus irmãos, além de lidar das tarefas domésticas. Começou a trabalhar cedo para ajudar sua família.
imagem: arquivo pessoal
Ela acordava cedo e se preparava para começar o dia, se levantava, pedia a benção a seu pai e sua mãe, se arrumava e tomava um café da manhã simples. E só depois, ia a caminho da roça para começar com os trabalhos. Sua casa era simples, não tinha luxos, como água encanada para beber, tomar banho, cozinhar. Tudo era diferente, Magna, como outras mulheres, se deslocava e andava longas distâncias para ir ao açude buscar água. Em período de seca severa era ainda mais difícil conseguir água. Era necessário pernoitar esperando a água minar, para conseguir pegar uma única lata de 12L na cacimba, e lá tinham medo dos barrancos de lama caírem.
Teve uma criação rígida. Tinha que respeitar a figura de autoridade dentro de casa, no caso seus pais. Era outra época, e a educação era diferente, e na sua grande maioria, as filhas mulheres eram educadas com mais rigidez ainda. As regras eram claras e estabelecidas, as festas nem sempre eram liberadas, não se podia passar muito tempo fora de casa sem avisar, em suas férias gostava de dormir na casa das amigas e encontros eram geralmente escondidos, namoros eram permitidos, mas havia uma pressão para o casamento.
Mesmo jovem, tomou a decisão de se mudar para uma cidade nova, e assim tentar a vida ao lado de seu então namorado, que seria seu futuro marido. Por morar numa cidade pequena onde todos se conhecem, a princípio viria para São Paulo ajudar sua concunhada a cuidar de sua filha pequena, costume que era e ainda é muito comum. Era noite quando Magna desembarcou no Terminal Rodoviário do Tietê em dezembro de 2000. onde foi recepcionada por seu namorado e suas cunhadas e cunhados. Por levarem uma vida simples, foram todos morar juntos em um sobrado localizado no Morro Grande, zona norte de São Paulo.
A dinâmica da mudança planejada por Magna faz parte da história de São Paulo. O fluxo migratório que se deu no começo do século XX, foi importante para o crescimento do que hoje é a maior metrópole do Brasil. Os trabalhadores da lavoura de café foram influenciados pela campanha do governo do estado de São Paulo, e a partir disso muitos migraram para a capital. A grande maioria dos operários eram naturais de Minas Gerais, Norte e nordeste e oito anos foi o suficiente para eles se espalharem, aumentando 56,6% da população.
Magna criou expectativas com a cidade grande pensando que seria um mar de oportunidades, mas logo descobriu que o real era passar por algumas dificuldades para se estabelecer no Estado. Era difícil e caro se manter aqui, mas com ajuda dos familiares ela conseguiu. Magna lutou e se esforçou para conseguir o seu primeiro emprego e logo conseguiu um como empregada doméstica em casa de família, assim passou por algumas casas, conheceu famílias até se estabelecer onde está hoje.
Trabalhando a mais de 15 anos no mesmo lugar, encontrou estabilidade para se manter aqui. O sonho de construir uma família foi fundamental para a vinda dela a São Paulo. O seu então namorado já estava aqui há alguns anos, e após conseguir seu emprego, eles conseguiram alugar sua própria casa e deram um passo a mais na relação. Na casa localizada em Pirituba Magna teve seu primeiro filho, Kennedy. Após anos pagando aluguel, ela e o marido financiaram seu apartamento, conquistando o sonho da moradia própria que é muito comum entre os brasileiros.
Trabalhando e lutando, os 38 anos, já bem estabelecida e agora casada, Magna Nascimento deu à luz sua segunda filha, aumentando sua família. Isabella veio em outra época de sua vida, agora mais madura, a realidade vivida já era outra Lutadora da realidade, encarando sua realidade de poucas oportunidades, e sendo uma mulher preta, ela venceu muitas batalhas, e a mais importante veio para firmar sua fé e sua vontade de aproveitar cada momento da vida.
Após enfrentar problemas de saúde, Magna, ou Má como é conhecida, foi forte e hoje vê isso como uma vitória e testemunho de vida. Hoje divorciada e mãe solo, Magna se dedica a cuidar dos filhos, manter sua casa e seguir com a sua vida trabalhando para sobreviver na selva de pedra. Além de ver suas “crianças”, estudando e tendo melhores chances de vencer na vida, e tornar a vida dura em estabilidade no futuro.
Anos se passaram, e uma vida no interior da Bahia se transformou em viagens de um mês, de dois e dois anos. De toda dificuldade que já enfrentou, ficar longe da família era a que mais doía e apertava o peito. Por vezes, sua mãe e suas irmãs vinham para ficar aqui e ajudá-la, sendo sua rede de apoio com cuidando de seus filhos, assim como ela foi ao princípio de sua jornada aqui em São Paulo, e isso a ajudou muito. Hoje, sua vontade é voltar para sua terra natal e cuidar de seus pais já idosos, para retribuir tudo que recebeu durante a vida. O sonho de qualquer mãe é ver os seus filhos criados e bem, recebendo e aproveitando as oportunidades da vida, e isso para Magna é o que a mantém aqui bem e firme.