Por Guilherme Gastaldi
A Praça Dr. João Mendes é casa de um dos maiores sebos, não apenas do Estado, mas do País. Localizado no coração de São Paulo, no centro histórico da cidade, o tradicional Sebo Nova Floresta com seus três andares, repletos de corredores e prateleiras extensas, conta com mais de 150.000 livros em seu catálogo. Fundado em 1999, a calçada em frente ao sebo guarda o sentimento caótico de uma grande metrópole, a correria de São Paulo é palpável através dos mais diversos barulhos. Com um rádio tocando um forró de fundo em volume baixo, é possível escapar da loucura da cidade e encontrar um recinto calmo, onde os visitantes buscam novas leituras, andando pacientemente de estante em estante, de prateleira em prateleira, sem preocupações com o tempo e muito menos sem se preocupar com os arredores. É um refúgio da loucura urbana.
Ao final do corredor do primeiro andar, uma escada caracol com corrimão verde leva aos andares superiores. Com a grande quantidade de estantes e livros, o espaço tem um aroma de antiguidade e por mais que os livros estejam em boas condições, ainda é possível sentir a presença da poeira no ambiente. Os mais sensíveis sentirão os sintomas ao longo do dia, como crises de espirro incessantes e imparáveis.
As prateleiras estão divididas em temas, como Cinema, Filosofia, Religião, Política e muito, mas muito mais mesmo. O sebo conta também com estantes especiais distribuídas ao redor dos corredores que oferecem promoções. Livros disponibilizados especialmente nessa estante são vendidos por cinco reais. Uma das principais virtudes dos sebos é justamente democratizar a leitura, disponibilizando livros de todos os tipos por preços acessíveis.A loja conta com funcionários sempre em prontidão, dispostos a esclarecer de maneira didática, dúvidas sobre livros disponíveis no catálogo, te ajudando a se localizar naquela vastidão de obras.
O comércio livreiro é frequentado por pessoas de todas as idades, sozinhas ou em grupos. Dentre esses grupos, o público jovem tem adquirido o hábito de visitar, cada vez mais, esse tipo de estabelecimento. O aumento do interesse dos jovens pela leitura tem sido impulsionado pelas redes sociais e esses grupos encontram em sebos uma oportunidade de conhecer obras pouco conhecidas e alimentar esse novo hábito de leitura.
Felipe é estudante de Arquitetura e conta que através das mídias sociais, seu interesse pela leitura, que estava ofuscado, se reacendeu e encontrou nos sebos a possibilidade de entreter esse novo hobby. O jovem criticou duramente as redes de livraria e diz que é um absurdo essas lojas cobrarem valores tão abusivos por livros, fontes essenciais de conhecimento e cultura, que deveriam ser acessíveis para toda a população. Segurando uma pilha de livros em suas mãos, o estudante comentou que tem frequentado sebos por toda a cidade, buscando livros sobre arquitetura que lhe ajudarão com seu curso da faculdade.
É muito comum também observar trabalhadores passeando pela loja. Com tempo livre de seus ofícios, encontram no sebo a oportunidade de se afastar do “mundo real” e se perder em um novo universo. Folheando livros antigos e buscando por uma nova leitura, Márcio, vendedor em uma das inúmeras lojas do centro, diz que quase toda semana, em um de seus horários de intervalo do trabalho, dá uma escapadinha no Nova Floresta para comprar um novo livro e poder devorá-lo em seu longo e exaustivo trajeto de ônibus para casa. Márcio ressalta que sem os valores baratos dos sebos, suas horas enfurnado dentro do ônibus seriam muito mais desafiadoras e deprimentes.
Com uma fachada antiga, típica dos edifícios do centro histórico da cidade, a entrada do Nova Floresta conta com o setor de CDs, LPs e DVDs. À esquerda se encontra o balcão do caixa, onde trabalha Eduardo, que comanda as operações do sebo há mais de 10 anos. Na sua visão, o livro não morre. Eduardo tem um grande apreço pelo físico, seja a leitura ou a música e acredita que mesmo com o avanço tecnológico, as pessoas acabam sempre voltando aos meios físicos. Diz que se sente realizado de trabalhar em um sebo, principalmente pela função social que sua loja possui, democratizando o acesso à leitura e assim, por ver seus clientes saindo contentes do seu estabelecimento ao qual dedica horas e horas de sua semana.