SANTOS E ORIXÁS

Como a religião católica e a escravidão apagaram as divindades dos povos Iorubá.
por
Larissa Pereira José
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19/06/2023

Na mitologia Iorubá, os orixás são considerados ancestrais divinizados e desempenham um papel fundamental na cosmologia e na cultura desse povo. Os Iorubás acreditam que esses orixás têm poderes e influência sobre diversos aspectos da vida, como a natureza, os elementos, as atividades humanas, entre outros.

Alguns orixás são considerados seres humanos que viveram em tempos ancestrais e alcançaram grande importância e sabedoria. Por exemplo, Xangô é venerado como um rei guerreiro e justiceiro, associado à justiça e ao trovão. Oxóssi é reverenciado como um caçador habilidoso, ligado à floresta, aos animais e à fartura. Esses orixás são vistos como figuras históricas que deixaram um legado significativo para a tribo Iorubá.

Por outro lado, existem orixás que são considerados divindades primordiais, associados à criação do mundo e à ordem cósmica. Oxalá é um exemplo desses orixás mitológicos, sendo visto como o criador da humanidade e o detentor do poder da criação. Oduduwa também é uma figura mítica importante, sendo considerado o ancestral fundador da cidade de Ifé, na Nigéria, e o responsável por trazer a civilização e a cultura para os Iorubás.

Essas narrativas mitológicas são transmitidas oralmente dentro da cultura Iorubá e são parte integrante da religião tradicional desse povo. Muitos pesquisadores têm se dedicado ao estudo e à documentação da mitologia Iorubá, oferecendo insights valiosos sobre os orixás e sua importância na cultura Iorubá. Alguns pesquisadores mitológicos notáveis incluem:

Durante o período da escravidão no Brasil, os africanos escravizados foram obrigados a abandonar suas tradições religiosas e adotar o catolicismo. No entanto, em vez de abandonar completamente suas crenças, os africanos desenvolveram estratégias de sincretismo religioso, que consiste na fusão de elementos de diferentes sistemas de crenças.

Essa adaptação dos orixás para o catolicismo ocorreu por meio da associação dos orixás africanos com os santos católicos. Cada orixá foi identificado com um santo católico que apresentava características ou atributos semelhantes. Essa associação permitia aos africanos escravizados continuar a adorar seus orixás de forma disfarçada, dentro da estrutura da religião dominante da época.

Um exemplo comum de sincretismo religioso é a associação entre o orixá Oxum, ligado à água doce, à fertilidade e ao amor, com Nossa Senhora da Conceição. Os rituais e celebrações relacionados a Oxum foram adaptados e incorporados às festas e devoções dedicadas a Nossa Senhora da Conceição.

Essa adaptação foi uma estratégia de sobrevivência e resistência cultural dos africanos escravizados, permitindo-lhes manter suas tradições religiosas e preservar sua identidade cultural, mesmo sob a opressão do sistema escravocrata. Foi dessa maneira, que o candomblé começou a se instalar no Brasil.

Quanto à Umbanda, sendo uma religião que agrega elementos das “três raças fundantes” da nação brasileira, ela trouxe para o seu seio os orixás e outras entidades, como caboclos, exus e pombagiras. Estes últimos são as entidades que dão consulta, conversando com as pessoas que vêm buscar soluções para os seus problemas. Já os orixás não falam, eles simplesmente dão a bênção (o Axé).

 

Os Orixás

A verdadeira história por trás das divindades Iorubá na Umbanda.

 

Um outro aspecto que deve ser dito é que os candomblés não são iguais. Existem divisões entre eles a partir das diferentes nações africanas que os fundaram. Temos por exemplo a nação Angola, Ketu, Efon e Nagô.

Já na Umbanda, são cultuados oito orixás e cada um tem sua história, reunidas a seguir:

Oxalá é o mais velho dos orixás. Foi ele que deu forma a todos os seres humanos a partir do barro e deu origem aos orixás. Sua cor é o branco e ele é representado como um homem idoso que carrega um longo cajado encimado por uma pomba branca. No sincretismo religioso, ele é associado a Jesus Cristo.

Ogum é o orixá do ferro e da guerra, mas também das ciências e do conhecimento. A sua presença no panteão iorubá testemunha o conhecimento que os africanos antigos possuíam a respeito do ferro. Sua cor é o azul escuro. No sincretismo com a fé católica ele é associado a São Jorge, pois os dois são guerreiros. No Rio de Janeiro, os devotos de São Jorge costumam prestar honrarias a Ogum também e isso fica evidente, por exemplo, no samba Ogum, de Zeca Pagodinho.

Oxóssi é o orixá caçador que vive nas matas. Ele representa a fartura e é representado por um arco e uma flecha. Sua cor é o verde. Curiosamente, na tradição Yorubá ele foi um governante africano, e sua cabeça petrificada é cultuada até hoje na Nigéria em um ritual específico. Acredita-se neste caso que quando Oxóssi morreu sua cabeça foi transformada em pedra por um processo mágico.

Xangô foi um rei africano do povo iorubá. Evidentemente ele rege a justiça e o poder, e o trovão também é associado com ele. Suas cores são o vermelho e branco. Interessante que existe um filme nigeriano sobre ele chamado Sango: The Legendary African King (1997, Obafemi Lasone) e muitos tecem comparações entre ele e o deus Thor, divindade do povo nórdico, como é o caso do jornalista Manoel Soares, em um artigo publicado no Diário Gaúcho em outubro de 2020.

Iemanjá é a mãe de todos os seres humanos e orixás. Aliás, na mitologia Iorubá, enquanto Oxalá moldava os seres humanos a partir do barro, Iemanjá ficou responsável pelas cabeças, e é por esse motivo que ela é chamada de Senhoras das Cabeças. Suas cores são o azul e branco e ela é a protetora dos pescadores. No Brasil ela é sincretizada com Nossa Senhora dos Navegantes e a própria Virgem Maria.

Oxum é a orixá das águas doces e rege o amor e a riqueza. Suas cores são o amarelo dourado e ela é sempre representada em uma cachoeira segurando um espelho na mão para admirar a própria beleza. A santa católica que lhe corresponde é a Nossa Senhora da Conceição.

Iansã é a orixá das tempestades e do vento. Ela é uma guerreira nata e é sempre representada segurando duas lâminas nas mãos. A cor de Iansã é o amarelo. No sincretismo ela é Santa Bárbara.

Obaluaê é um dos orixás que mais chamam a atenção, pois ele é sempre representado como um homem todo coberto de palha do qual não vemos o rosto. O motivo, contado em sua mitologia, são as cicatrizes adquiridas por uma doença.

Curiosamente, ele é o orixá que rege a cura e é o protetor dos médicos e crianças abandonadas. Ele corresponde a São Lázaro.

Na próxima matéria dessa série sobre a Umbanda, vamos conhecer mais sobre as giras, as cerimônias dos umbandistas. Vamos descobrir quais são os cantos, os rituais e os elementos que compõem as giras.

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