Rita Lee: a trajetória de uma estrela

Conhecida como a Rainha do Rock Brasileiro, a cantora, escritora, compositora e multi-instrumentista deixa saudades no coração de seus familiares, amigos e fãs
por
Tábata Santos
|
27/06/2023

Nascida em São Paulo, no dia 31 de dezembro de 1947, Rita Lee Jones é a caçula de 3 irmãs e filha do dentista Charles Fenley Jones, imigrante americano e da descendente de italianos, a pianista Romilda Pádua Jones.

Por influência musical da mãe, Rita começou tocando algumas notas no piano e aos 15 anos estava tocando bateria. A artista se apresentava em festivais no colégio com algumas amigas e mais tarde, começou a fazer backing vocal para alguns LPs de cantores como Prini Lorez e Tony Campelo.

Mas foi em 1966 que nasceu a primeira banda de destaque de Rita Lee, Os Mutantes. Batizada por Ronnie Von, a banda realizou a sua primeira apresentação no programa de Ronnie, tornando-se uma atração recorrente.

Os Mutantes se apresentaram ao lado de diversos cantores, entre eles Gilberto Gil e Caetano Veloso, gerando o álbum Tropicália, que foi um grande sucesso em conjunto dos artistas.

Dona do seu estilo próprio, sempre esteve à frente de seu tempo. Em 1973 se afastou da vida artística, viajou para Londres, tingiu os cabelos loiros de ruivo e voltou para o Brasil como a persona que conhecemos como Rita Lee.

Em 1975 a cantora à frente da banda Rita e os Tutti Frutti lançou um dos maiores álbuns da música brasileira, o Fruto Proibido, que trouxe músicas que são ouvidas até hoje, como Agora Só Falta Você, Ovelha Negra e Esse Tal De Rock Enrow.

A produtora cultural Anna Sanchez, descreve as obras de Rita como potentes e atemporais. “As obras de Rita são potentes e atemporais, a ousadia e coragem perduram por toda sua carreira, nos alimentando de esperança nos tempos atuais! A revolução feita em uma época com ditadura, machismo, censura... só poderia ter a voz dela, que sempre será "mais macho que muito homem" e nos mostra que a arte transforma cenários, abre caminhos e aponta focos de luz em tantas outras pautas importantes, e por vezes políticas.”, diz.

Rita lançou além de álbuns de sucesso ao longo da vida, duas autobiografias, a primeira em 2016 e a segunda em 2023, ambas pela editora Globo Livros. Quando anunciou o primeiro livro, Rita disse: “(...) quando decidi escrever Rita Lee: Uma autobiografia, o livro marcava, de certo modo, uma despedida da persona Rita Lee, aquela dos palcos, uma vez que tinha me aposentado dos shows. Achei que nada mais tão digno de nota pudesse acontecer em minha vidinha besta. Mas é aquela velha história: enquanto a gente faz planos e acha que sabe de alguma coisa, Deus dá uma risadinha sarcástica.”

Rita foi casada com o músico Roberto de Carvalho e juntos tiveram três filhos. A união que durou quase 50 anos, se encerrou com o falecimento da cantora no último dia 8 de maio de 2023, aos 75 anos de idade.

Em maio de 2021, a artista foi diagnosticada com um câncer primário no pulmão esquerdo e deu início ao tratamento da doença com imunoterapia e radioterapia. Porém, em fevereiro de 2023, a doença foi se agravando e Rita Lee Jones faleceu em sua residência, em São Paulo.

Dona de uma personalidade única e referência na luta das mulheres por espaço no mundo do rock, a artista conquistou o seu legado musical e cultural no Brasil.  “Todo o ambiente musical ganhou com a passagem de Lee! Uma compositora apaixonada, onde grandes canções são fruto do amor cultivado por ela e Roberto. Não há um musicista que não tenha influência de Rita, nem que fora minimamente.”, afirma a produtora cultural.

Rita deixa saudade no coração dos seus familiares, amigos e fãs que acompanham e apoiam a carreira da cantora durante seus 60 anos de vida artística. Mesmo aposentada dos palcos, a cantora fazia questão de manter o seu público por perto. O ator João Sensève, fã de Rita desde criança, esteve com a artista algumas vezes desde 2012 e segue sendo fã até hoje. “Ela era atenciosa, engraçada e extremamente cuidadosa com os fãs. Coisa que pouquíssimos artistas são hoje em dia. Ela era o tipo de pessoa que chegava no pé do ouvido querendo saber se a vida andava numa boa. Tive momentos inesquecíveis com ela e conversas que jamais esquecerei”, conta.

 

Parte uma mãe, uma esposa, e um ídolo aclamado. Parte uma mulher que fez história no rock brasileiro e que conseguiu eternizar a sua visão de mundo em forma de canção. “Sejam devotas de Rita, simples assim! Tenham força e coragem para falar de amor, de peito aberto, com maestria e garra. Sejam como vocês bem entenderem, falem, gritem, usem, cantem sobre o que faz sentido no cardíaco, mulher pode e deve estar em todos os lugares, como deusas, sendo ouvidas e aclamadas, fazer arte nesse país não é mole, não! Mas só a vida, não basta.”, desabafa Anna Sanchez.

E João, em luto pelo falecimento da cantora, exprime sua saudade parafraseando grandes sucessos da artista. “Acho que a mensagem mais importante que ela deixou, para além de várias outras, talvez seja a que “o universo segue o rumo que todos nós escolhemos”, mas pra mim, em particular “eu gosto de pensar que tenho a vida pela frente pra ver acontecer o que nem sonha a imaginação”. Acredito que agora, como uma fada, Rita seguiu sua viagem pelo universo, talvez num disco voador. Isso não foi um “adeus”, mas um “até logo e boa viagem”. Em seguida embarcaremos nós, turistas de guerra.”

Tags:

Cultura e Entretenimento

path
cultura-entretenimento