Por Gabriela Thier
Numa segunda-feira em São Paulo, por volta das cinco e meia da manhã, o sol ainda não saiu, mas uma grande parte dos 20 milhões de habitantes já está acordada, e destes, 4 milhões somente na zona leste. 500 mil por dia passam pela linha-11 Coral da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). A linha-11 vai de Estudantes em Mogi das Cruzes até a Luz na capital SP, conectando quatro cidades do Alto Tietê em 16 estações. No bairro do Brás os trens chegam um atrás do outro, com dois ou cinco minutos entre cada. No distrito de Jundiapeba em Mogi o intervalo entre uma locomotiva e outra chega a até 10 minutos.
Quanto mais os trilhos se distanciam do centro de SP e chegam nas regiões periféricas maior é o intervalo entre um trem e outro, e mais passageiros se acumulam na plataforma. Isso porque uma parte da linha só vai até Guaianases, a última estação dentro da cidade de SP, sentido Estudantes. Pegando o trem sentido Luz entre as 5h00min e as 9h00min, já em Suzano, a 5° estação da linha, não há mais assentos disponíveis. Partindo deste ponto se inicia uma viajem entre 40 minutos e 1 hora até a capital.
Passando de Guaianases não há mais espaço dentro dos vagões. Trabalhadores e estudantes de todas as idades dividem o vagão. A aglomeração produz calor mesmo em uma manhã de 18 graus. Há pessoas se equilibrando num pé só, porque não tem chão possível para todo mundo. Pessoas com os braços apoiados na cabeça dos outros e sensação de falta de ar Na estaçãoTatuapé alguém desmaia e é levado para fora do vagão, a viajem segue. O estudante de psicologia de 20 anos, Theo Ribeiro, morador de Ferraz de Vasconcelos, tem um olhar analítico sobre como essa rotina afeta a saúde dos usuários de transporte público. Ele está convencido que para ter uma saúde mental estável é preciso tempo para dedicar a si mesmo. Considera que o trabalho por si só já toma muitas horas do dia das pessoas. Além disso, jornadas de trabalho extensas acabam afetando a saúde mental.
Uma pesquisa publicada pelo Mobilidade Estadão em 2023, constatou que, em São Paulo, 32% da população gasta entre 1h e 3 horas por dia no transporte, 8% gastam mais do que isso. Além disso, a maior parte desta movimentação acontece entre as 5h e as 9h, saindo das regiões periféricas e indo sentido centro, e das 18h às 20h, saindo do centro. Isso fica evidente em cidades como Ferraz de Vasconcelos, conhecidas como “cidades dormitório”, nas quais a maior parte da população se desloca todos os dias para a capital e só retorna para casa à noite.
Theo detalha como esse tempo tomado da vida de trabalhadores e estudantes é prejudicial, pois não dá tempo de dormir direito, não tem tempo de se alimentar corretamente. O transporte público sucateado gera desconforto. Os usuários passam horas em pé num ambiente que é sonoramente muito poluído. Estudos comprovam que passar muito tempo em ambientes assim gera muito estresse Isso também afeta o sono e consequentemente a saúde mental. O indivíduo se sente invisibilizado pelo contexto urbano, vai incorporando a síndrome de burnout, ansiedade, depressão, que são sintomas acumulativos. A lista aumenta dependendo do seu recorte social.
Em suma, tanto a precarização do transporte, como as escalas de trabalho que contribuem com a superlotação nos horários de pico, interferem diretamente com a saúde da população, em especial, nas regiões mais distantes dos grandes centros.