Proibição de telas desafia ambiente educacional

A implementação da Lei contra uso de celulares nas escolas traz a tona uma questão muito maior
por
Pedro Rossetti
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23/04/2025

Por Pedro Rossetti

 

Com o sonho de trabalhar com crianças, Gabriela Solda começou sua trajetória no curso de Psicologia. Com um ano de estudo entrou no mercado de trabalho, iniciando sua trajetória como professora auxiliar numa escola infantil, em Moema. Em poucos meses, percebeu que um de seus alunos tinha um grande problema com atenção, não conseguia focar nas atividades de sala e atrapalhava os colegas. Gabriela então observou que tarefas com vídeos em tablets e computadores, seu aluno era impecável, assim, sua conclusão foi de que ele já havia desenvolvido um vício em telas.

Nos últimos anos, o uso de aparelhos eletrônicos têm se tornado cada vez mais presente no cotidiano de menores na fase da educação infantil. A tecnologia, quando utilizada de maneira adequada, pode trazer benefícios significativos ao desenvolvimento deles, no entanto, o uso indiscriminado e sem orientações claras pode gerar impactos negativos. O equilíbrio entre o uso de dispositivos digitais e a vivência de atividades mais tradicionais e interativas continua sendo um tema central para pais, educadores e especialistas.

Um levantamento feito pelo Comitê Gestor da Internet do Brasil em 2024, mostrou que crianças e adolescentes estão se conectando cada vez mais cedo no mundo digital, sendo 95% de pessoas entre 9 e 17 anos com acesso a internet, em maioria pelo celular. 24% delas começaram antes dos seis anos. Em 2015, esse percentual era de 11%. Visto essa crescente, foi sancionada a Lei n°15.100/2025 em janeiro deste ano, vetando o uso de aparelhos eletrônicos portáteis pessoais durante aulas, recreios e intervalos em todas as etapas da educação básica.

Para o estagiário auxiliar de matemática do Ensino Médio, Rafael Consorte, existem muitos problemas na educação brasileira, incluindo a falta de concentração dos alunos devido ao uso exagerado das redes sociais. A proibição dos celulares durante o período curricular gerou um impacto positivo e eficaz, despertando um novo, ou perdido há algum tempo, senso de infância e adolescência, contando com uma melhora na convivência e nas interações sociais dentro do ambiente escolar, que é vital para o desenvolvimento dos jovens.

Na escola que trabalha, Rafael já enfrentou alguns desafios com os alunos. Auxiliando turmas de 15 a 18 anos, percebeu que a dependência do celular é quase unânime, o que torna as aulas muito mais complicadas. Com a nova Lei, os celulares são colocados em caixas no início da aula, às 7h15, e devolvidos na saída, às 12h40, porém, já enfrentou casos de alunos que fingem não ter levado o aparelho, para utilizar no banheiro e durante o intervalo, ou até um pequeno grupo de alunos que levava dois celulares diferentes, entregando um antigo, e ficando com o de uso pessoal. 

Para que não existam problemas como esses, as escolas devem criar punições para aqueles que tentam burlar o sistema e ter conversas com os responsáveis, buscando entender o que faz o jovem não querer entregar o aparelho, seja pelo vício ou outro motivo. Obviamente que na educação infantil, os casos são bem diferentes, já que a maioria das crianças não têm aparelhos de uso próprio, somente usam os dos pais ou um tablet para jogos e vídeos.

Segundo a American Academy of Pediatrics (AAP), bebês menores de 2 anos não devem ter nenhuma exposição a telas, enquanto crianças de 2 a 5 precisam de uma limitação de uma hora por dia, com conteúdos adequados para a idade e supervisionados por um adulto. Na Gaivota, Gabriela garante que ocorre um uso controlado de tela, porém tornou-se uma aliada para uma boa organização da sala, materiais e itens pessoais dos alunos, prendendo a atenção das crianças.

 

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O avanço tecnológico mundial, não só garante o acesso à informação de maneira mais rápida, como pode ser útil para o ensinamento e conhecimento da população. A maioria das escolas, sendo elas de ensino infantil, fundamental ou médio, utilizam de ferramentas online para uma melhor aprendizagem e foco. Pelo aumento de crianças com acesso a telas, o uso de tablets tornou-se comum, como acontece nas turmas de Gabriela, que apresentam vídeos, músicas e desenhos relacionados ao tema da aula para seus alunos. Nas aulas com uso dos aparelhos, as crianças prestam muito mais atenção e se comportam melhor, porém, Gabi afirmou que já tiveram episódios ruins, onde os pequenos esperavam um deslize da professora, para pegarem os tablets, que já haviam sido guardados, a fim de ver o que estava passando.

Para evitar casos como esse, os educadores e responsáveis devem se atentar a três tópicos importantes para a mediação do uso de telas. A qualidade do conteúdo deve ser revisada previamente, sendo capaz de estimular o aprendizado; o tempo de exposição, que é crucial para o desenvolvimento mental e social saudável dos jovens e por fim, o uso de materiais interativos conseguindo conectar a criança diretamente ao conteúdo a partir de exercícios e vídeos online.

No Ensino Médio, onde os adolescentes estão desenvolvendo a maturidade e se preparando para a vida adulta, Consorte garante que a proibição dos telefones é uma tarefa ainda maior. Permitir que o celular seja devolvido para uma tarefa feita em sala é um grande desafio, principalmente na missão de manter os alunos concentrados nos exercícios, sem abrir as redes sociais ou outros aplicativos.

Em seus dois primeiros anos trabalhando na área, Gabi sentiu que as crianças estão cada vez mais ligadas às telas, porém entende que no ambiente escolar, a criação de atividades ao ar livre e entre os alunos pode manter o desenvolvimento saudável. No dia do brinquedo (sexta-feira), em que as crianças podem levar seus brinquedos de casa, não é permitido levar tablets, assim as brincadeiras se mantêm.
 

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