Praia não é ambiente de lazer para quem precisa garantir seu sustento

Enfrentando o Sol por dia na Luta pela Sobrevivência
por
Lucas Tomaz Lopes
|
12/11/2024

Por Lucas Lopes

 

No horizonte entre o mar e a areia, Zenaide, uma mulher de 53 anos, e seu filho mais novo Gilberto, de 19, encaram juntos a dura realidade de quem vive do trabalho braçal nas praias de São Sebastião, no litoral norte de São Paulo. Eles moram no sertão de Boiçucanga, um bairro tranquilo e perto da praia de Camburi, onde Zenaide montou seu quiosque. Todos os dias, antes do amanhecer, ela e Gilberto percorrem os 20 quilômetros que separam suas casas do ponto de venda, prontos para enfrentar as longas horas sob o sol escaldante, mas com uma missão clara: conquistar seus clientes e garantir o sustento da família.

Zenaide é conhecida por sua simpatia e habilidade na cozinha e tornou-se um nome familiar em Camburi. Sua barraca, especializada em pratos típicos de praia, como pastéis, empadinhas e cachorros-quentes virou um ponto de referência para turistas e moradores locais. Mas seu verdadeiro diferencial está nas caipirinhas que prepara com tanto cuidado. A cada dia, ela cria uma combinação de frutas, misturando sabores inusitados que surpreendem quem chega à barraca. O preço acessível, mais baixo do que o dos concorrentes, é outra vantagem que atrai quem quer tomar uma caipirinha gelada para relaxar no calor da praia.

Por volta das 5h00min da manhã, o som do despertador é um chamado para o trabalho. Zenaide acorda primeiro e, geralmente ainda está escurinho, prepara o café e começa a arrumar as mochilas com os ingredientes e utensílios necessários para o dia na praia. Ela organiza tudo com agilidade: o camarão fresco para os pastéis, as salsichas para os cachorros-quentes, e, claro, as frutas frescas para suas caipirinhas diferenciadas, como o mix de abacaxi com maracujá ou a combinação de morango com caju. Gilberto, que já está acostumado com a rotina, acorda um pouco depois e, junto com a mãe, prepara o carro para a viagem. O deslocamento entre Boiçucanga e Camburi, mesmo sendo relativamente curto, é uma parte crucial do dia. O trânsito costuma ser tranquilo pela manhã, a ansiedade e o cansaço da jornada começam a pesar, entretanto Gilberto dirige com alegria, atento à estrada e sempre cantando “funk mineiro”, estilo musical que mais escutou em 2024.

Ao chegarem à praia de Camburi, por volta das 7 damnhã, Zenaide e Gilberto começam a montar a barraca com todo o cuidado. O quiosque é simples, não tem mais do que 4 metros de largura, com mesas de plástico e um pequeno toldo colorido que oferece sombra aos clientes. As primeiras horas da manhã são tranquilas, com turistas ainda chegando e as ondas batendo suavemente na areia. Zenaide, com seu avental branco e sorriso fácil, logo começa a preparar as delícias que sua barraca oferece.
Ela se destaca por um prato simples, mas muito popular: o pastel de camarão, recheado generosamente e com uma crocância que conquista quem passa, afinal não é sempre que se compra um pastel de massa caseira. Ao lado, os cachorros-quentes são preparados com salsichas frescas, um molho vermelho leve e batata palha. No entanto, o verdadeiro carro-chefe de sua barraca são as caipirinhas, que ela prepara com um toque diferenciado, combinando duas frutas para criar sabores únicos e refrescantes. A caipirinha de abacaxi com maracujá é uma das mais pedidas, mas outras combinações, como morango com caju e limão com pepino, também fazem sucesso. O segredo de Zenaide não está apenas no sabor, mas também no preço. Enquanto a maioria dos concorrentes cobra de R$ 25 a R$ 30 pelo copo de caipirinha, ela oferece o seu a R$ 23 um valor que, apesar de baixo, não compromete a qualidade do produto. O preço mais baixo garante que o cliente volte e recomende para os amigos

Enquanto Zenaide cuida da parte das bebidas e comidas, Gilberto se ocupa das vendas de moda praia. Armado com um sorriso contagiante e uma energia incansável, ele percorre a orla toda, de Camburi até Camburizinho, sempre disposto a vender suas cangas, biquínis, chapéus, óculos de sol e acessórios típicos do litoral como: pulseiras, colares e tererê. O guri tem um jeito descontraído de se comunicar com os turistas, sempre buscando tocar no coração dos clientes e cativá-los com seu papo descontraído.
Vai anunciando para toda praia, andando de um lado para o outro, sem parar. Embora a venda de acessórios seja um trabalho árduo e cheio de desafios, Gilberto sempre encontra um jeito de tornar o dia mais leve, o intervalinho de 20 minutos para tomar um banho de mar é sagrado para o garoto, sempre faltando vinte minutos para o meio dia, o filho de Zenaide se joga na água refrescante e fria da praia, ele ainda possui a preferencia do local onde se banha, a ponta de Camburi é perfeita.

A rotina de Zenaide e Gilberto é marcada por desafios constantes. O calor do sol, a concorrência acirrada e os dias de pouco movimento desanimam qualquer um. No entanto, eles sabem que o trabalho é o que resguarda a pouca dignidade presente na vida difícil da família. O lema que a mãe ensina ao filho nesse mundo de vendas é necessidade do esforço para manter uma boa relação com os clientes, garantindo um atendimento de qualidade. 

No final de cada dia, ao retornarem para Boiçucanga, Zenaide e Gilberto sabem que o esforço vale a pena. A barraca não só é uma fonte de renda, mas também um símbolo da determinação e do trabalho duro que eles colocam em cada movimento. Zenaide, apaixonada por praia, caiçara raiz e nascida em Boiçucanga, tem a certeza de que, por mais difícil que seja a vida, ela esta ao lado de seu filho, criando novas combinações de caipirinha e conquistando seu ganha pao, mais do que isso, vivendo seus dias no planeta Terra com o pé na areia, literalmente. No coração do litoral paulista, entre o sol quente e o mar calmo, Zenaide e Gilberto seguem com sua rotina, oferecendo sabores únicos, histórias de vida, preços acessíveis e uma experiência acolhedora para todos aqueles que cruzam o caminho de sua barraca.

Tags:

Economia e Negócios

path
economia-negocios