Por que ficaremos mais de 3 anos sem jogos no Pacaembu?

Estádio passa por reformas que incluem demolição do “tobogã” e construção de um edifício de 9 andares
por
​​​​​​​João Kerr e Yerko Maurício
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29/04/2022

Desde fevereiro de 2020, o Pacaembu não recebe partidas oficiais de futebol. Nesse período, o setor conhecido como “tobogã” foi inteiramente demolido e o lugar onde costumava ficar o gramado foi asfaltado.

Tudo isso faz parte de um grande projeto de reforma do estádio, que inclui a construção de um edifício de 9 andares, onde ficava o tobogã, e diversas outras mudanças no “Complexo Pacaembu”, que inclui o estádio e seus arredores. A capacidade deve diminuir de 39 mil para 25 mil lugares.

O projeto só se tornou possível após a privatização do estádio e sua concessão junto à Allegra Pacaembu. 

Projeto do novo Pacaembu (Imagem: Assessoria Allegra Pacaembu)

Privatização

Há muitos anos é especulada a gestão do Pacaembu por uma empresa privada. Alguns projetos já foram feitos e arquivados, até que, em setembro 2019, o então prefeito Bruno Covas assinou a concessão do estádio.

Em janeiro de 2020, a concessionária Allegra assumiu a gestão do estádio, prometendo investir 400 milhões de reais  —  R$ 115 milhões pelos direitos de gestão e R$ 285 milhões em investimentos nas obras.

Até o final de fevereiro daquele ano, o estádio seguiu recebendo jogos normalmente. Em março, começou a pandemia de covid-19 e o Campeonato Brasileiro foi interrompido. Assim, a Allegra optou por iniciar logo as reformas previstas.

Última partida no Pacaembu foi Santos x Palmeiras em 29/02/2020 (Foto: Twitter SantosFC)

Reformas

Como já mencionado, a maior mudança no estádio será a substituição do antigo tobogã por um edifício de 9 andares, sendo 4 subsolos e 5 acima da altura do campo. O novo empreendimento contará com 

  • hotel com aproximadamente 50 quartos
  • restaurantes
  • mercado gastronômico
  • centro de reabilitação esportiva
  • galeria de arte
  • hub de inovação
  • centro de eventos

Um dos andares do prédio servirá como passarela com livre circulação, entre as ruas Desembargador Paulo Passaláqua e Itápolis, buscando cumprir o propósito de integrar mais o complexo ao bairro.

Projeto do prédio que ocupará o lugar do Tobogã (Imagem: Divulgação)

As arquibancadas leste e oeste do estádio também passarão por reformas. serão construídos 25 camarotes, uma arena de e-sports, novos banheiros e camarotes na parte interior das arquibancadas. O exterior, no entanto, deve ser preservado.

A fachada do estádio e a arquibancada norte passarão por uma restauração. 

Durante as obras, a região onde ficava o gramado do Pacaembu foi asfaltada para ser utilizada para facilitar o transporte de máquinas e materiais. Segundo a concessionária, a ação é temporária e será revertida antes do estádio estar apto a receber jogos. Mesmo assim, as imagens chocaram e causaram revolta em alguns torcedores.

 

Consequências 

A reforma proposta pela Allegra chama a atenção pelas novas estruturas que surgirão, mas tudo isso trará algumas consequências. 

A destruição do Tobogã, setor que costumava ser o de maior capacidade no estádio, resultará na perda de mais de 10 mil lugares. O estádio, que comportava mais de 39 mil pessoas, terá capacidade reduzida para 25 mil, segundo o CEO da Allegra, Eduardo Barella.

Essa parte da arquibancada era também a que oferecia os ingressos mais baratos. A falta desses ingressos deve afastar o torcedor de baixa renda, em movimento semelhante ao que ocorre em outros estádios e arenas do Brasil.

Alguns torcedores acreditam que a brusca diminuição na capacidade do estádio, somada ao afastamento dos torcedores que tinham acesso apenas aos ingressos a preços mais populares e que supostamente são os que fazem mais barulho nos jogos, mudará o clima das partidas disputadas.

Creio que o clima do estádio será menos de um jogo de futebol e mais de um espetáculo, onde as pessoas sentam e aplaudem, ao invés de torcer e gritar em apoio ao seu time”, afirma Lucas Pantaleão, torcedor do Corinthians e frequentador do Pacaembu.

Tobogã era o setor com a maior capacidade no Pacaembu, comportando mais de 10 mil pessoas 

Caso o prazo estipulado pela Allegra Pacaembu seja cumprido, teremos o estádio pronto para receber jogos em novembro de 2023. Serão quase 4 anos sem jogos, considerando que a última partida ocorreu em fevereiro de 2020.

Durante o período, uma estrutura provisória foi montada para receber shows e eventos. Chamada de “Pavilhão Pacaembu”, o espaço tem capacidade para aproximadamente 9 mil pessoas.

A estreia do novo espaço foi com o show de Gal Costa no último sábado de abril. Os ingressos para o evento partiam de R$ 97,50 e eram esperadas até 3 mil pessoas.

 (Foto: Pacaembu Oficial)

Repercussão

Em entrevista exclusiva a O Contra-Ataque, o CEO da Allegra Pacaembu disse que houve um equilíbrio entre feedbacks positivos e negativos em relação ao projeto de reforma. “Sabemos da importância do Pacaembu para a cidade e para os paulistanos e por isso há sempre uma avalanche de informações e feedbacks depois de grandes anúncios. O que precisa ficar claro é que vamos inaugurar uma nova fase do Pacaembu, recuperando os seus pilares originais de cultura, lazer e entretenimento, além de ampliar o uso esportivo, atraindo outras modalidades, sem deixar para trás a sua história”, completa Barella.

Nas redes sociais, encontramos opiniões diversas:

A ideia da reforma é interessante e trará vantagens para o estádio, mas será que precisamos de mais um estádio modernizado, com ingressos mais caros? Será que tudo isso fará valer a pena os quase 4 anos sem jogos?

Será que ainda teremos a famosa trilha sonora “Pacaembu é meu, Pacaembu é seu, é nosso…”?

Só poderemos responder a essas questões em 2024.

(1944 - Acervo Museu do Futebol | Coleção Leonardo Romano)

 

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