Polarização na política afasta atletas da eleição de 2022

O esporte que sempre esteve presente na política, teve queda de 66% de 2018 para 2022
por
Daniel Dias e Gabriel Yudi
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05/10/2022

Em meio às incertezas que marcam o cenário macro das eleições de 2022, observa-se uma queda no número de atletas se candidatando a cargos políticos. Em comparação com a última eleição para os mesmos cargos em 2018, quando São Paulo teve nove ex-praticantes e praticantes concorrendo a vagas. Em 2022 conta com somente 3 novos esportistas tentando um cargo, uma diferença de 66%.

Essa diferença no número de candidaturas não significa que haverá uma nulidade de profissionais nesse meio, mas sim um momento de incertezas e instabilidade no cenário político atual, é o que afirma Enrico Spaggiari, mestre em Antropologia na USP.

“Esse número menor de atletas aponta essa dificuldade, não é mais o mesmo jogo de oito ou 10 anos atrás, o cenário vai se atualizando. Essa falta de atletas pode ser algo momentâneo e em uma próxima eleição, seja daqui dois ou quatro anos, isso mude”.

Na atual eleição, o Estado de São Paulo terá três concorrentes com ligações esportivas: Felipe Franco (candidato a deputado estadual pelo PODEMOS), fisiculturista; Tandara Caixeta (candidato a deputada federal pelo MDB), jogadora de voleibol; e Douglas “Ninja” Viegas (candidato a deputado federal pelo Democratas), ex-jogador de basquete.

Além deles, Rogério Nogueira (deputado estadual pelo PSDB) e Altair Moraes ( deputado estadual e  presidente da Comissão de Assuntos Desportivos pelo Republicanos) se candidataram novamente, motociclismo e karatê são seus esportes, respectivamente.

Em 2018 os candidatos para deputado estadual em São Paulo, foram: Marcelinho Carioca (Podemos), ex-jogador de futebol; Ademir da Guia (PHS), ex-jogador de futebol; Zé Carlos (PR), ex-jogador de futebol; Altair Moraes; e Rogério Nogueira.

Para a vaga de deputado federal, concorreram: Luizão (PRB), ex-jogador de futebol; Xandó (PSB), ex-jogador de vôlei; Rodrigão (PSDB), ex-jogador de vôlei; Tiffany (MDB), jogadora de vôlei.

 

Relação esporte e política

O esporte é uma forma de amadurecer como pessoa e profissional. Mesmo que não seja uma pauta tão evidente quanto educação e segurança, as práticas esportivas estão atreladas a uma boa saúde física e mental. Além de proteger e ajudar muitas crianças e jovens a fugir de suas realidades através de projetos sociais voltados para comunidades carentes que sofrem com o  crime.

Na visão do professor da PUC-SP, José Florenzano, a utilização do esporte é uma forma de trampolim para uma entrada na carreira política.

“José Maria Marin, por exemplo, foi um ex-atleta sem muito destaque, mas rapidamente enveredou por uma carreira política e chegou a vice-governador de São Paulo e, posteriormente, presidente da CBF”, comentou.

O esporte e a política são meios que se unem muitas vezes. A força midiática desses atletas impulsiona e faz com que partidos se atraiam por eles, assim, convencendo muitos a tentarem a vida no ramo político.

No entanto, são poucos os políticos que realmente dão atenção para essa pauta, sendo muitas vezes escanteada e vítima de descaso dos governantes. Por conta disso muitos ex-esportistas quando decidem lançar suas candidaturas, focam em projetos para o esporte, já que se trata de uma área que vivenciaram de perto.

 

Histórico de atletas na política

Pela popularidade do futebol no país, os principais atletas ligados à política originam-se da modalidade. Sendo o caso mais conhecido, provavelmente, o do ex-jogador de futebol, Romário, que desde 2010 já se encontra no meio político, o ex-atacante da Seleção Brasileira priorizou projetos voltados para pessoas com deficiência e síndrome de down, ao invés de focar apenas no esporte.

 

(Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)

 

Alguns outros exemplos são: o do lutador Acelino "Popó" Freitas (ex- deputado federal pelo Republicanos da Bahia), dos jogadores Pelé (ex-ministro do Esporte), Zico ( ex- Secretário Nacional de Esportes), Ademir da Guia (ex-vereador do PCdoB de São Paulo), Marcelinho Carioca (ex-vereador pelo Republicanos de São Paulo) e Bebeto (ex-deputado federal do Podemos do Rio de Janeiro)

Para entender o papel e o impacto que esses atletas obtêm na política, também se faz necessário observar quais foram os planos políticos estabelecidos. Muitos deles, ao se candidataram somente buscam angariar votos através de suas imagens para seus partidos, por isso muitos acabam não obtendo sucesso político, já que o cargo político não garante a experiência da legislação

Entretanto, existem aqueles que conseguem se estabelecer em seus cargos, como é o caso da ex-jogadora de vôlei e atual senadora, Leila (PDT), que tem como seus principais projetos aprovados a proteção à mulher; e o do João do Pulo (PFL) recordista mundial do salto triplo, medalhista olímpico e eleito duas vezes deputado estadual em São Paulo.

 

Projetos políticos

Alguns ex-atletas já se encontram no meio da política paulista e buscam a reeleição neste ano de 2022 para o Estado de São Paulo. Rogério Nogueira, praticante de motociclismo e deputado, e Altair Moraes, ex-atleta de karatê, falaram com o Contraponto Digital.

Rogério, em seu mandato de 2019 a 2022 tem o foco em esportes e aprovou o Projeto 100% Esportes e o Projeto Incentivo ao Esporte a mais de 200 municípios. O deputado falou sobre as emendas aprovadas do Governo do Estado:

“São mais de R$ 4,7 milhões em emendas para investimentos em projetos esportivos nas cidades, como: academias ao ar livre, projetos de iniciação esportiva, construção de pistas, cobertura de quadra e muito mais.”

Já o deputado Altair Moraes também expande suas ações e não fica apenas nos esportes. No entanto, em questão às práticas esportivas, o político só aprovou um projeto de lei nesse âmbito, nesse caso, foi na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), o Projeto de Lei 346/2019, que estabelece o sexo biológico como único critério para a definição do gênero de competidores, em partidas oficiais no Estado.

(Foto: Altair Moraes/Flickr)

“Há muitas entidades, instituições e associações esportivas, das mais variadas modalidades, que precisam de apoio. Não só os atletas, como essas entidades, precisam de aportes financeiros para poder subsidiar as suas atividades e os seus atletas associados”, declara Altair.

A reportagem entrou em contato com as assessorias dos atletas Douglas Viegas, Felipe Franco e Tandara Caixeta, porém não houve respostas até o fechamento da matéria.

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