Piores escolas de São Paulo mostram problemas estruturais e sociais

Salário baixo e falta de segurança são características das piores escolas de São Paulo
por
Leonardo Nunez e Renan Mello
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05/12/2022

Gregory Mankiw, David Romer e David N. Weil, são economistas renomados que possuem respeito e altos reconhecimentos da área, eles mostram que os países com os maiores níveis de escolaridade são os que têm melhores condições de bem-estar e crescimento econômico.

Após vencer a eleição para governador no segundo turno, Tarcísio de Freitas do partido Republicanos, conhecerá o desafio de melhorar o ensino do estado para que esses avanços aconteçam.

Segundo o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), São Paulo ocupa o 6º lugar na classificação das escolas estaduais. Dentro das classificações de escolas, é possível notar que as instituições com uma classificação pior estão em lugares desfavorecidos e possuem uma clara falta de investimento em pontos importantes, como a infraestrutura.

Os números também mostram que os estudantes negros e de baixa renda não recebem o aprendizado adequado nas matérias de Matemática e Português. Seguindo a tabela do Ideb, os números que representam o aprendizado dos jovens negros nestas disciplinas e de baixa renda na matéria de humanas é de 31%, enquanto para a de exatas é de 4%. 

Enquanto os alunos de alta renda e brancos ficam com números acima dos jovens que não fazem parte da mesma classe social e racial, em português ficam entre 48% e 50%, enquanto na matéria de matemática ficam entre 11% e 13%.

Os números apresentam os problemas das escolas periféricas, que são praticamente esquecidas pelo estado e por seus governadores.

Professores querem ensino melhor

A escola Professora Zoraide de Campos Helu fica no bairro do Jardim Jaraguá, localizada em região periférica do estado de São Paulo. A instituição detém o título de pior escola no Enem de 2017 e continua sendo classificada como uma das piores do estado pelo Ideb. 

O professor *Leonel Gonçalves* leciona dentro da instituição e relata que a escola passa por problemas que a partir de suas análises, são erros de seus administradores que não acatam as soluções que são passadas pelos profissionais.

Ele disse que as deficiências partem desde a segurança do próprio professor, até a parte estrutural que não entrega um ambiente favorável para os alunos aprenderem, e nem suporte para as aulas.

Dentre os diversos relatos do educador estão: falta de apoio, estrutura ruim, falta de material de apoio, aprovação de alunos que não aprenderam nada.

Quando solicitada, a escola não respondeu.

Aversão da APEOESP a escolas cívico-militares

A APEOESP (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), contou que o próximo governante deve ser alguém que entregue uma boa educação a todos "Educação Básica é essencial e deve ser pública, de qualidade e universal e deve ser administrada pelo governo, com competência",respondeu em entrevista por e-mail.

"Professoras e professores são imprescindíveis na tarefa de resgatar o Brasil e o estado de São Paulo de projetos nefastos, como a transformação de escolas regulares em escolas cívico-militares", pronunciou a APEOESP, demonstrando aversão às falas do candidato Tarcísio Freitas que esteve de acordo com o projeto de escola cívico-militar.

Escolas cívico-militares são um padrão diferente da escola militar, que é totalmente administrada pelo Exército. Esse novo projeto é composto por ex-militares ocupando cargos das áreas administrativas das escolas, por isso os professores se opõem a esse tipo de administração escolar.

O sindicato ainda levanta o fato de educação ser um direito de todos, e que os governantes trataram até aqui com descaso. A desvalorização dos professores também é levantada como uma pauta que necessita de atenção, por conta dos salários baixos e falta de segurança.

A necessidade dos alunos


Geovanna Camile Moretto é uma estudante da E.E. Professora Aracy Leme da Veiga Ravache localizada no Jardim Novo Carrão Zona Leste de São Paulo, uma das escolas que está na parte de baixo da tabela do Ideb, classificada entre as piores do Estado.

A representante do grêmio conta que um dos maiores problemas enfrentados em sua escola é a falta de material adequado em sala de aula. A aluna relata que a falta de professores também está no conjunto de barreiras dentro da sua realidade educacional. 

A estudante do ensino médio também bate no ponto da falta de uma boa infraestrutura e faz críticas contra a aprovação automática, em que os jovens passam sem aprender os conteúdos que fazem parte da grade de ensino.

A falta de material e a desvalorização dos professores foram dois destaques negativos citados pela estudante.

 

O que pode ser feito?

Rodrigo Ratier, professor de Jornalismo na USP (Universidade de São Paulo), possui Doutorado em Pedagogiapela faculdade que leciona. Já foi professor de ensino médio e foi um dos fundadores do Projeto Redigir, curso voluntário de redação e cidadania na ECA-USP.

Ratier evidencia que a proposta que seria mais completa era a do Fernando Haddad, uma vez que, poderia trazer maiores benefícios para o setor da educação. Rodrigo completa dizendo que para existir uma melhoria da educação é necessária uma ação com o olhar multifatorial: "O maior investimento deve ser na condição docente, ou seja, no que diz respeito, a salário, carreira, formação inicial e formação continuada". 

Entre as características das piores escolas de São Paulo, a evasão escolar por conta da necessidade de trabalhar, é uma realidade. A Plataforma Juventude, Educação e Trabalho apontou que no Brasil, 39,1% dos jovens entre 14 e 29 anos abandonam os estudos para trabalhar.

Segundo o Ideb, em São Paulo no ano de 2020, 16% dos alunos nascidos em 2003 e matriculados em escolas públicas, abandonaram os estudos, essa porcentagem representa 1520 estudantes, número agravado por conta da pandemia.

Ratier falou sobre o abandono como algo que deve ser tratado não apenas como um número a menos de alunos, mas comoum grande problema. Oferecer auxílios e programas que podem ajudar os alunos que precisam trabalhar é o ideal para que o número de abandono diminua.

Fernando Cássio especialista em políticas públicas de educação, traz a problemática da evasão escolar, e relembra o termo usado por Paulo Freire “a expulsão escolar”, o especialista usa o termo para apontar que o aluno que abandona a escola é desmotivado por ela. A falta de uma boa infraestrutura, falta de professores e aulas presenciais sendo substituídas por remotas, são grandes desmotivadores do ensino.

Cássio completa dizendo “é muito fácil para os governadores colocarem a culpa da evasão nos alunos, sendo que os mesmos desmotivam os jovens a estudarem”, sinalizando o fraco investimento nas escolas por parte dos administradores da educação. Investimentos como: Laboratórios, ambiente agradável, mobília escolar. Que estimulam os alunos a continuarem dando segmento na vida escolar, são pensamento utópicos que ficam longe da realidade.

*Indicação de nome fictício.

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