Por Lorrane de Santana Cruz
Samira Braga Debia, é uma jovem cheia de sonhos. Irmã mais velha de dois meninos ela nasceu quando seus pais ainda eram adolescente. Com ajuda de seus avós, conseguiram lutar e construir uma família e por isso ela se considera uma sortuda, com seus pais e dois irmãos que formam uma rede de apoio para seus sonhos. A escola foi fundamental para criar e reforçar sua personalidade. Após a chegada de seus irmãos, a vida de Samira ficou mais difícil e na sua vida escolar não foi diferente. Seus pais não tinham condições de bancar seus estudos em instituições de ensinos privadas, aulas particulares ou cursinhos, e por isso desde muito nova ela teve que aprender a se virar sozinha.
Aos 10 anos, já se dedicava muito para ter uma boa educação. E logo, como resultado de seu empenho, já havia conseguido uma bolsa de estudos em uma escola particular, onde ficou do sexto até o nono ano. Em seguida entrou em uma ETEC onde concluiu o ensino médio, para aí, sim, se dedicar a ingressar em uma universidade. Ainda no ensino médio e conseguiu novamente uma bolsa de estudos, mas dessa vez no cursinho, onde dava conta de fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Sempre focada nos estudos, até o terceiro ano do ensino médio estava determinada a prestar Veterinária, pois entendia que Medicina era um curso muito concorrido e distante para ela. No entanto, quando viu a possibilidade de bolsa no cursinho, a Medicina virou um talvez possível.
A rotina de estudos não foi fácil, muito pelo contrário, era cansativa. Já com a pandemia em curso Samira estudava de casa, em um pequeno caos, com dois irmãos pequenos e tendo outras responsabilidades dentro de casa. Com algumas relações pessoais estremecidas, lidando com o vestibular, ela chegou a perder 10kg e entrou em um momento difícil em sua saúde mental.
A pandemia da Covid-19 atrapalhou muito E Samira só conseguia estudar cinco horas diárias para o vestibular, e ainda tinha que conciliar as aulas online da escola. Em seu segundo ano de cursinho, o ritmo ficou pesado, já formada no ensino médio, ela entrava às 8h00min da manhã e só saia às 21h00min. A única pausa era para o almoço e conversar com os amigos, e em casa só jantava e deitava para dormir algumas horas.
Hoje com 21 anos, ela conseguiu o seu principal objetivo: passar na faculdade. E mais uma vez, graças ao seu esforço e uma política pública para a área da Educação, Samira ganhou uma bolsa PROUNI para estudar Medicina no Centro Universitário São Camilo.
(Imagem: Arquivo pessoal)
Geralmente é muito difícil viver entre os dois mundos, o do privilégio e o de quem tem pouco poder aquisitivo. Mas, para Samira, isso não foi assustador ou algo do tipo. Acostumada desde nova a conviver com pessoas ricas, ela se acostumou com o fato. Agora na faculdade a diferença se tornou mais perceptível, tendo em vista que o ensino superior privado é mais caro que o escolar e os gastos são maiores. Por isso, é muito comum escutar comentários elitistas vindo de pessoas que vivem em uma bolha social diferente.
No começo, a locomoção até a faculdade era um problema, já que em horário de pico ela levava em torno de duas horas para ir e voltar para casa. Porém, com a ajuda da Bolsa-permanência, Samira conseguiu achar um lugar barato para morar perto da universidade. E isso a ajudou na qualidade de vida pessoal e acadêmica.
Por não precisar trabalhar para se manter, e ter a oportunidade de focar apenas nos estudos, Samira se considera privilegiada. Seus pais lhe dão um apoio financeiro e também tem a Bolsa-Permanência, um programa oferecido pelo Governo a fim de reduzir as desigualdades sociais. Agora, sua preocupação é ser uma boa profissional e construir o sonho de um bom currículo para sua residência médica.