Por Felipe Bragagnolo
Cláudio, de origem pobre, vivia em Osasco e um dia concebeu a ideia de fritar pastéis em uma feira na região. O início foi complicado, o lucro era baixo mas a qualidade do pastel era inquestionável, contou. O pouco de dinheiro que ganhava ele reinvestia para melhorar as vendas da iguaria na região metropolitana a oeste de São Paulo. Aos poucos ele levou seu produto pastel para outras cidades, saindo de Osasco e indo para Barueri e Santana de Parnaíba, Uma oportunidade de negócio nas cidades ricas e com poucos concorrentes.
Com o tempo o Pastel do Cláudio, como ficou conhecido, foi se estabelecendo, dominando as feiras-livres. O sucesso levou Cláudio a criar um projeto de restaurante. O primeiro estabelecimento aberto foi em Osasco, e logo após abriu mais dois em Barueri e outro em Santana de Parnaíba. Cláudio contou que participa de algumas feirinhas de pastel que considera importante, como por exemplo no condomínio residencial que vive, diz que gosta do que faz e apenas gerenciar não é o melhor dos mundos. São vendidos diariamente mais de 300 pasteis por feira-livre em Santana de Parnaíba, já nos restaurantes depende do dia, como nas sextas-feiras quando este número aumenta, chegando a 400 pastéis diários.
Agora outra vida que mudou por causa do pastel, a história de Cheng começa em uma pequena vila no sul da China, na província de Guangdong. Ele nasceu em uma família humilde que viveu principalmente da agricultura. Cheng sempre ouviu histórias de amigos e familiares que mudaram para outras nações em busca de melhores chances. Embevecido por essas histórias e ansioso por melhorar a vida de sua família, Cheng decidiu tentar a sorte no Brasil, um país que sempre parecia tão distante e promissor.
Cheng economizou em anos de trabalho para comprar uma passagem de ida para São Paulo, uma das maiores cidades do mundo, onde ele pensava que tudo poderia acontecer. No entanto, quando ele chegou à cidade, ele percebeu rapidamente que o caminho seria difícil. Cada dia era difícil devido à barreira do idioma e à falta de contatos. Nos primeiros meses, Cheng trabalhou como lavador de pratos, ajudante de cozinha e entregador em restaurantes chineses.
Ao andar por uma feira de bairro em São Paulo um dia, Cheng parou para observar a movimentação frenética em torno de uma barraca de pastéis. O cheiro do óleo quente e o barulho das frituras despertaram sua curiosidade. Naquele momento, ele descobriu que os paulistanos adoravam o pastel. Cheng não era completamente novo com a ideia de vender pastéis; sua avó na China costumava fazer bolinhos fritos de massa fina recheados com carne e vegetais. Embora os conceitos fossem semelhantes, os sabores eram diferentes. Cheng viu isso como uma oportunidade.
Depois disso, decidiu abrir sua própria fábrica de pastéis. Ele comprou uma chapa de fritura, uma tenda simples e alguns ingredientes com o pouco dinheiro que conseguiu economizar. Sua barraca de pastel, localizada em uma feira de bairro na Zona Leste de São Paulo, era inicialmente modesta. Cheng chamava os clientes com seu sotaque carregado, muitas vezes improvisando em português, sempre com um sorriso no rosto.
Com o passar do tempo, ele começou a se aventurar. Combinava métodos e sabores chineses com recheios brasileiros tradicionais. Apresentaram variedades de carne de porco agridoce, tofu com legumes e até frango com molho de amendoim, juntamente com os tradicionais pastéis de carne, queijo e pizza. A clientela local ficou encantada com o toque especial de Cheng. A barraca de pastel se tornou um lugar indispensável na feira. Ele não era mais aquele imigrante tímido que chegava à cidade sem saber falar o idioma. Hoje, todos os visitantes da feira o chamam carinhosamente de "Seu Cheng do Pastel". Seu pastel é uma mistura de culturas, um pedaço da China entre as feiras de rua tradicionais de São Paulo.
O comerciante olha para trás com orgulho de seu percurso. Ele manteve viva a memória de sua terra natal enquanto começou uma vida nova em um país novo. No fundo, cada pastel que ele frita representa essa mistura de dois mundos: o calor acolhedor do Brasil e o sabor da China.
Outra história é a de José Carlos, também conhecido como "Zé do Pastel", começa na periferia da Zona Sul de São Paulo, em um bairro modesto onde ele nasceu e cresceu. Zé, filho de um pedreiro e de uma diarista, aprendeu cedo a importância do trabalho árduo. A infância foi difícil. Foi marcada por problemas com dinheiro e pela necessidade de ajudar a sustentar a casa desde muito jovem. Começou fazendo pequenos bicos nas feiras de bairro ainda adolescente. Seu primeiro trabalho foi ajudar na montagem e desmontagem de barracas e transportar caixas de frutas e verduras. No entanto, ele encontrou sua verdadeira paixão ao lado de um experiente pasteleiro da feira. Ele logo percebeu que aquele poderia ser o seu futuro quando viu o movimento constante de clientes ao redor da barraca de pastéis e o cheiro irresistível da feira.
Com o passar do tempo, o pasteleiro chamado Seu Milton começou a ensinar José as técnicas de trabalho. Ele lhe ensinou como fazer uma massa leve e crocante, o tempo certo para fritar e, é claro, os melhores recheios. Ele absorveu cuidadosamente cada ensinamento e, anos depois, resolveu ter sua própria barraca de pastel e comprou seus primeiros equipamentos: uma chapa de fritura e uma tenda básica com seus fundos e um pequeno empréstimo da mãe.
Em uma feira movimentada no bairro de Capão Redondo, na Zona Sul de São Paulo, a barraca do Zé foi construída. No começo, ele vendia carne, queijo e frango com catupiry. Mas ele tinha uma perspectiva. Começou a fazer pastéis diferentes porque sabia que precisava inovar para se destacar. Os clientes adoraram os pasteles de carne seca com abóbora, calabresa com queijo provolone e até bacalhau.
Zé conseguiu expandir o negócio com sucesso. Recrutou dois ajudantes e começou a vender em duas feiras separadas. Sua barraca tornou-se o local onde as famílias do bairro se reuniam todos os domingos, atraindo-os não apenas pelos pastéis, mas também pela conversa agradável e o ambiente acolhedor. Hoje em dia, Zé do Pastel é uma figura famosa na Zona Sul. Cada dia, ele acorda de madrugada para ir às feiras, como fazia quando era jovem, mas agora com o orgulho de quem construiu uma história de sucesso. O pastel de Zé não é apenas uma comida; é um símbolo de perseverança, luta e alegria de viver que ele compartilha com todos que passam pela sua barraca.