Por Matheus Pogiolli
"A.O" está presente em parte dos prédios e/ou estabelecimentos da grande São Paulo. Com seus desenhos robustos, estando entre eles imagens e textos, o pichador vem transformando as paredes da cidade em um espaço de crítica social. Nascido na zona leste de São Paulo, A.O cresceu cercado por desigualdades sociais e tinha a necessidade de expressar sua indignação e questionar o sistema. A pichação se tornou sua forma de protesto.
Enquanto criança, ao jogar bola ou empinar pipas, ele já sentia na pele a diferença no tratamento com pessoas vindas da favela. Esse sentimento nasceu após ele observar o tratamento das autoridades na cidade. Mesmo sem tanta consciência do que acontecia, ele, aos poucos, foi entendendo que sua realidade seria diferente dos coleguinhas de escola que moravam em condomínios ou em casas fora da periferia.
A.O não é apenas um pichador. Se considera um artista que usa a pichação para questionar a sociedade. Suas pinturas são um ato de esperança contra a injustiça e a exclusão, como define. Enquanto crescia, mais noção tinha das coisas. E ela virou arte e foi nas paredes das ruas que ele encontrou seu quadro.
Já são mais de dez anos pichando pelo Estado de São Paulo. Seu estilo e as mensagens que tenta passar, mesmo com simples palavras, chamam a atenção de quem as observa. Ele sabe que o que faz é crime. Sabe que, se for pego, poderá sofrer com a punição da lei. Mas, ainda assim, ele segue com o comportamento que acha certo.
A.O geralmente faz suas pichações ao anoitecer e de madrugada. Se faz presente em lugares mais fechados e de pouco acesso, como becos ou paredes de estações de trem e prédios comerciais. Esse também é um movimento pensado em retratar as favelas e periferias, onde, segundo pensa, a realidade é realmente essa. Lugares fechados, de pouco acesso, com poucos olhares. A arte dele é para essas pessoas.
Em alguns momentos, enquanto pichava, ele já foi visto por autoridades que, mesmo o flagrando, não conseguiram pegá-lo. Aconteceu duas vezes, no centro de São Paulo. Ele estava no fim da pichação em ambas as oportunidades, conseguiu sair do local e chegar em sua casa.
Por pichar em prédios comerciais e/ou paredes de estações de trem, geralmente seus desenhos são substituídos por tintas em semanas, e sua arte é ofuscada. Mas, para A.O, se apagaram, é porque viram. Se viram, seu trabalho está feito. Para cada obra apagada, ele cria duas mais. Esse é seu lema.
A.O reflete a realidade de boa parte das pessoas que vivem nas periferias, onde a injustiça e a discriminação ainda existem. Suas obras denunciam a desigualdade e, claro, essas injustiças e preconceitos às pessoas de classe menor. Por mais que já tenha feito diversos trabalhos nesse sentido, ele não se considera um grafiteiro. Os grafites são legalizados e possuem uma arte mais bonita, colorida e bem trabalhada. Muitos grafiteiros são contratados para fazer faixadas de estabelecimentos. A.O não se sentiu bem com isso. Ele se achou na pichação. Na arte robusta. Na liberdade. Durante seus trabalhos, ele se sente vivo, mesmo que se arriscando em algo fora da lei. Ele sente um frio na barriga pela adrenalina, e felicidade pelo trabalho que está fazendo.
A.O se denomina como um pichador rebelde, um artista que não se rende. Sua insistência em continuar pichando, mesmo com autoridades apagando boa parte de seus desenhos, é o que dita suas prioridades. Sua atividade é uma esperança de resistência e um chamado à mudança. É um aviso de ele está ali, não apenas por ele, mas por todos que ele representa. Enquanto as paredes de São Paulo forem seu espaço de criação, A.O promete continuar firme em seu propósito.