Por Maria Clara Alcântara
Maria Souza, uma mulher de 50 anos enfrenta uma luta diária contra a diabetes tipo 2. Para controlar a doença, seu médico prescreveu Ozempic, um medicamento injetável com semaglutida. Porém, Maria enfrenta um dilema angustiante: o mesmo remédio que a mantém saudável também a priva de algo essencial para sua qualidade de vida. Desenvolvido inicialmente para o tratamento da diabetes, o Ozempic funciona imitando um hormônio chamado GLP-1, produzido naturalmente no intestino. Esse hormônio desempenha várias funções importantes no corpo: reduz a produção de glicose no fígado, estimula a produção de insulina no pâncreas e controla a sensação de saciedade no hipotálamo. Devido a esses efeitos, os usuários do Ozempic frequentemente experimentam uma redução no apetite e, consequentemente, perda de peso.
O endocrinologista Ricardo Silva considera a "canetinha" um divisor de águas no tratamento da diabetes tipo 2 e ainda ajuda na perda de peso de pacientes obesos. Maria é mãe de dois filhos adultos e avó de três netos, ela trabalha como costureira em sua própria casa. Apesar de sua força, a obesidade tem sido uma presença constante em sua vida, exacerbando os desafios de sua condição diabética. O Ozempic trouxe uma nova esperança para Maria. Desde que começou a usar o medicamento, seus níveis de glicose estão mais estáveis e ela começou a perder peso. No entanto, o custo do medicamento é um obstáculo significativo. Uma canetinha sai em torno de 1000 reais e para pedir ao SUS leva meses. O Ozempic é caro, e o plano de saúde de Maria não cobre completamente o custo. Ela já tentou outros medicamentos, mas nenhum funcionou tão bem quanto o Ozempic. A realidade financeira de Maria torna a continuidade do tratamento com Ozempic um desafio constante. Vivendo com um orçamento apertado, ela tem que escolher entre comprar o medicamento e outras necessidades básicas. Cada mês é uma luta para juntar o dinheiro necessário. A costureira as vezes vai até a farmácia e volta de mãos vazias, naquela semana sua diabetes vai ganhar a batalha. A situação de Maria não é única. Milhares de brasileiros enfrentam desafios semelhantes, tentando equilibrar o custo de medicamentos essenciais com outras despesas vitais. A falta de cobertura adequada pelos planos de saúde agrava ainda mais a situação. A escolha entre continuar usando o Ozempic ou arriscar a saúde ao parar é uma decisão difícil para Maria.
As consequências de não usar o medicamento são graves. Sem ele, seus níveis de glicose podem subir descontroladamente, levando a complicações graves como problemas cardíacos, danos nos nervos e até cegueira. Maria sempre está dividida entre amar o medicamento e não conseguir pagar por ele. Além das consequências físicas, há um impacto emocional significativo. A pressão social para emagrecer adiciona uma camada extra de estresse e ansiedade à vida de Maria. Ela sabe que perder peso pode melhorar sua saúde geral, mas a incerteza financeira torna essa meta difícil de alcançar.
O médico Ricardo Silva enfatiza a importância de políticas públicas que abordem essas desigualdades. Para Maria, cada dia é uma batalha. Ela continua a trabalhar duro, economizando cada centavo possível para garantir que possa continuar seu tratamento. Sua história é um poderoso lembrete da resiliência humana e da importância de lutar por um sistema de saúde mais justo. A trajetória de Maria Souza é um testemunho da complexidade da vida com uma doença crônica e das dificuldades adicionais impostas por limitações financeiras. É uma história de resiliência e determinação, mas também um chamado à ação para melhorar o acesso a medicamentos essenciais para todos. A luta pelo acesso a medicamentos como o Ozempic é um problema real e urgente. As histórias de Maria e de tantos outros destacam a necessidade de políticas de saúde que garantam que ninguém seja deixado para trás. Através de esforços coletivos é possível trabalhar para um futuro onde todos tenham a oportunidade de viver uma vida saudável e digna, com políticas públicas que tornem o medicamento acessível para populações de baixa renda.