Em meio ao brilho festivo do Natal, no dia 16 de dezembro de 2022, uma ex- funcionária da rede de supermercados OXXO encerrou o pesadelo que era trabalhar em um dos estabelecimentos. Contudo ela começou outro, o processo de desligamento da empresa em vez de desfrutar da alegria característica da época, se viu mergulhada em um turbilhão de inseguranças financeiras e violações de seus direitos trabalhistas.
A cidade de São Paulo sempre foi extremamente característica. Nela há bairros repletos de prédios altos, padarias, que funcionam como verdadeiros pilares da comunidade, mercadinhos movimentados e pessoas transitando pelas ruas ao som constante do tráfego agitado de carros em meio ao crescente horizonte de concreto e vidro.
Um novo empreendimento de fachada vermelha, inaugurado pela primeira vez no marco zero da cidade de Campinas, parece querer passar despercebida, como se estivesse ali desde sempre, essa fachada tem nome, CNPJ e dono. É a mesma rede que desrespeitou sua funcionária, a OXXO, pertencente a uma junção entre a Raízen (RAIZ4) e a mexicana FEMSA Comercio, duas empresas estrangeiras.
A expansão da rede assusta, alcançando a marca de trezentas e cinquenta unidades em menos de três anos desde a chegada no Brasil . Ela tem como projeto inaugurar duas unidades por dia até o final de 2023. Para alcançar esse número é necessário fazer parte de um processo muito maior, de métodos controversos de negócio e práticas trabalhistas abusivas.
A estratégia de "dumping" da OXXO, com preços aparentemente irresistíveis, mostra sua face cruel, sufocando os empreendimentos locais que não podem competir com os recursos de uma gigante corporativa. Relatos, como o do começo, enchem as caixas de sites de empregos, redes sociais de ex - funcionários e varas de direitos trabalhistas.
Mas não é apenas o mercado de conveniência que está alterando os direitos conquistados pelos trabalhadores, após a reforma trabalhista, que entrou em vigor no dia onze de novembro de dois mil e dezessete, o trabalhador perdeu direitos fundamentais. Foram cinquenta e quatro artigos alterados, nove revogados e quarenta e três criados, com um total de 10% de mudança na legislação trabalhista criada em 1943.
A reforma trabalhista trouxe como novos pontos agravantes:
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Negociação Coletiva: Reforçou a negociação entre empregadores e trabalhadores. Isso gera acordos que se sobreponham à legislação, em alguns casos.
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Jornada de Trabalho: Possibilidade de uma jornada de 12 horas de trabalho por 36 horas de descanso, mediante acordo individual. Antes, esse tipo de jornada só era permitido por meio de negociação coletiva.
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Terceirização: Ampliou a possibilidade de terceirização de atividades-fim das empresas, antes era restrita a atividades-meio.
Os pagamentos incorretos e o ambiente de trabalho tóxico, em que a competitividade não é apenas uma constante, mas também é incentivada, tornaram-se uma dolorosa rotina. A mulher, cujas festas e saúde mental foram destruídas por esse ambiente, relata também outras práticas que dariam motivo para até mesmo o empresário mais liberal se assustar.
Os gerentes, que são chamados de líderes para passar a impressão de que não pertencem à mesma classe trabalhadora. Eles podem mexer nos pontos das pessoas de cargos mais baixos e pedir para fazerem horas extras não remuneradas. Essas práticas são totalmente corriqueiras em qualquer unidade da rede.
A insegurança caminha lado a lado com o funcionário do mercado. Os slogans da marca dizem "Se fala ó-quis-só e tá sempre próximo.’’, enquanto as propagandas destacam o fato de que são 24 horas e nunca fecham, faça sol ou faça chuva, porém, os funcionários são tratados como menos que a mercadoria.
Relatos e documentos mostram que as mercadorias são 100% asseguradas em caso de roubo ou perda, afinal. O CEO se preocupa com a segurança do local e se esquece da segurança de um "pequeno" elemento das lojas: os funcionários.
Esses “elementos” são os que mais correm riscos, principalmente os que trabalham na madrugada afora com a porta aberta. Afinal, os produtos têm seguro, se roubarem o bolo do dono não será prejudicado, mas a integridade física e mental do proletariado não tem garantia e, se ele sofrer uma fatalidade, será substituído no dia seguintes.
A advogada trabalhista e professora universitária da PUC São Paulo compartilhou algumas das alternativas disponíveis para o trabalhador em situações adversas. Ela destaca a possibilidade de entrar com uma reclamação trabalhista contra a empresa, o que traz reparação por danos morais e patrimoniais. Essa medida legal torna-se uma ferramenta crucial para proteger os direitos do trabalhador diante de injustiças, condições inadequadas no ambiente de trabalho e insegurança durante a prestação de serviços.
A Lei 8.213/1991, no artigo 19, parágrafo 2º, considera como contravenção penal, punível com multa, deixar a empresa de cumprir as normas de segurança e higiene do trabalho. É importante ressaltar que na forma da lei deve ser apurada a responsabilidade por qualquer acidente do trabalho, para que o culpado seja punido. A negligência do trabalhador não é considerada crime no Brasil, mas pode resultar em questões trabalhistas. No entanto, situações graves de negligência que causam danos significativos podem levar a medidas disciplinares ou de missão, dependendo das situações e das políticas da empresa.
Alguns crimes contra o trabalhador incluem trabalho análogo ao escravo, condições de trabalho degradantes, não pagamento de regulamentação, desrespeito às leis de segurança e saúde no trabalho, entre outros. Esses casos podem ser configurados como crimes e sujeitos a decisões legais, de acordo com o trabalho trabalhista brasileiro. Se a violação dos direitos trabalhistas, as cargas horárias abusivas, a insegurança e a mercantilização do trabalhador já não fossem motivos suficientes para considerar a rede exploradora dos trabalhadores, outros relatos trouxeram à tona mais desrespeitos cometidos.
A onda de calor em São Paulo tornou-se uma notícia recorrente. Em todo o país e além, é sabido que a capital enfrenta um calor nunca antes experimentado, com sensações térmicas ultrapassando os 40 graus tornando-se rotineiras. Em meio a esse cenário, os funcionários estão enfrentando condições insalubres de trabalho dentro da unidade localizada na Heitor Penteado com a Avenida Pompeia. O ar condicionado da rede quebrou e ninguém sequer ousou consertá-lo. Aliás, um dos mantras do OXXO é que seus clientes não permanecem no local por mais de quinze minutos, portanto, não experimentam o desconforto térmico do ambiente.
Quem passa por isso oito horas por dia, se tiverem a "sorte" de apenas cumprirem as horas trabalhadas estabelecidas por lei, são os funcionários que passam mal e correm risco de vida, mas para a rede está tudo certo se não afeta sua clientela. No meio do ano, a corporação cometeu mais uma violação, impactando diretamente os funcionários. Foi comunicado aos colaboradores que o valor do vale alimentação sofreria uma redução significativa de 39,39%.
Em um contexto de aumento nos preços dos alimentos, essa alteração significa que o benefício passaria a valer aproximadamente quatorze a dezesseis reais por dia, foram notificados sem ao menos uma formalização ou petição de concordância ou não concordância desta alteração feita pela OXXO. A empresa também não fornece alimentação própria. Com esse valor, não é possível comprar nenhuma refeição no estabelecimento. Uma marmita congelada no mercado custa dezoito reais, logo, é impossível para o funcionário se alimentar no local de trabalho.
Essa redução só foi revogada quando o sindicato dos trabalhadores, através de seu departamento jurídico, notificou a rede que voltou atrás com a decisão.
- Estratégia de marketing e número de estabelecimentos
No México, país de origem da rede, existe uma investigação em aberto de suposta prática anti-competitiva. Dados do país, que já tem vinte mil unidades da rede, mostram que a cada inauguração de loja, cinco comércios locais são fechados no entorno. A estratégia para que isso aconteça é muito clara, preços baixos e promoções que levam o consumidor a frequentar o local, além de mão de obra que para mais que sucateada, é pouca. Há em torno de três funcionários por turno, sendo apenas um no horário da madrugada.
Informações como essa são dificilmente encontradas na mídia, o marketing por trás da rede é poderoso. A mídia hegemônica parece não ver os problemas da rede e publica matérias exaltando a estratégia de abrir quase duas lojas por dia. A narrativa constrói uma mente revolucionária que está por trás da marca a partir da praticidade da rede. Isso tudo ignora as centenas de lojas de bairro sendo fechadas diariamente por causa dessa expansão. Sem contar o custo humano por trás e toda a problemática. Mas esse silêncio da mídia não é voluntário, o marketing da rede tem um budget de dar inveja para qualquer marca. A rede consegue limpar sua imagem com eficiência.
Em suma, as informações do que realmente acontece nos bastidores da empresa são pequenos relatos de funcionários que são “engolidos” por vídeos de influenciadores de comida, mostrando a praticidade e os achados da loja. Sem esquecer do marketing, que fala sobre o posicionamento da marca e, claro, de grandes dicas de negócios que revelam como investir na rede. Confira como funciona a propaganda no vídeo abaixo.
@geracaoativos Descubra como a OXXO está revolucionando o Brasil! 🇧🇷 Com 350 unidades na região metropolitana de São Paulo e uma meta ousada de chegar a 500 mercadinhos até o fim do ano, essa empresa está dominando o mercado. 💼 Saiba mais sobre a parceria de R$ 561 milhões com a Raízen, dona dos postos Shell, e como o Grupo Nós está transformando o setor de conveniências. Não fique de fora dessa revolução! 🚀 #OXXOBrasil #Conveniências #GrupoNós #RevoluçãoComercial #Crescimento #ParceriasMilionárias ♬ som original - semPapo