Ongs e políticas públicas combatem negligência com animais

Mesmo com o ativismo, projetos sociais e leis, a sociedade ainda trata com descaso os maus tratos, explícitos e velados, contra animais.
por
Julia da Justa Berkovitz
|
12/06/2025

Por Julia Berkovitz 

 

Em 2021, o curta-metragem “Salve o Ralph” comoveu a Internet. A animação em stop-motion produzida pela Humane Society International mostra a realidade de um coelho usado como cobaia para testes de cosméticos. No Brasil, a produção foi dublada por Rodrigo Santoro e somou mais de oito milhões de visualizações no Youtube. Naquele momento, redes sociais como TikTok, Instagram e Twitter foram inundadas por vídeos expondo marcas que realizavam testes em animais e, momentaneamente, todos se transformaram em ativistas dessa causa.

Em poucas semanas este movimento deixou de ficar em alta e os internautas se esqueceram da temática. Uma mera comoção virtual não foi capaz de solucionar o problema, e a visibilidade dada à causa foi pequena e restrita, não levando em consideração uma série de fatores que trazem riscos à vida dos animais. 

Os canais para denúncia de maus tratos, por exemplo, são pouco conhecidos e falados na mídia. Para além da Polícia Militar, o Disque Denúncia e o IBAMA (no caso de animais silvestres), algumas regiões possuem sites e números específicos para denunciar casos de crueldade contra animais. Em São Paulo, há o Disque Denúncia Animal - 0800 600 6428. No Paraná, é possível registrar tais crimes no site da Delegacia Virtual de Proteção Animal (DEPA). No Rio de Janeiro, a Secretaria Especial de Promoção e Defesa dos Animais é um dos canais abertos, e assim por diante.

Mesmo que de forma insuficiente e incapaz de sanar completamente o problema, o Estado legisla a favor da causa, buscando combater ao máximo a crueldade contra os animais. A denúncia de maus-tratos é legitimada pelo Art. 32, da Lei Federal nº. 9.605, de 12.02.1998 (Lei de Crimes Ambientais) e pela Constituição Federal Brasileira, de 05 de outubro de 1988. 

Em 2014, São Paulo foi o primeiro estado a proibir o uso de animais no desenvolvimento de cosméticos, perfumes e produtos de higiene pessoal. No ano seguinte, o então prefeito da capital paulista, Fernando Haddad, sancionou uma lei que proibiu a produção e comercialização de foie gras. Este prato envolve um processo de alimentação forçada, por meio de um tubo rígido de metal inserido no esôfago do pato ou ganso, para que acumule gordura em seu fígado. Esta prática gera consequências para a saúde do animal, causando desconforto, dificuldade respiratória e até esteatose hepática. 

Os grandes agentes sociais responsáveis pela causa animal são as Ongs, projetos sociais e aqueles que se envolvem com o movimento por razões pessoais, como é o caso da médica veterinária, Valéria Correa. Desde a escolha de sua carreira profissional, ela buscou não se limitar apenas ao atendimento de animais com donos, mas criar projetos que resgatem, cuidem e viabilizem a adoção, além do cuidado dos pets de pessoas em situação de rua. Alessandro Desco, presidente da Ong Pits Ales, nasceu já envolvido com a causa animal, mas ela se tornou seu grande propósito de vida quando resgatou o seu próprio cachorro, Guerreiro. O pitbull estava completamente mal tratado, com perfurações corporais, dentes quebrados, cortes, queimaduras e desnutrido. 

Dentre os desafios enfrentados pelas Ongs, a superlotação e a escassez de recursos financeiros são os mais recorrentes. A insuficiência de políticas públicas que deem suporte à causa animal também é um fator que gera extrema preocupação e desânimo entre os ativistas, visto que a cidade de São Paulo, por exemplo, possui apenas quatro hospitais veterinários públicos, inaptos para acolher os animais da população que não tem condições de optar pelo sistema privado. 

Uma das maiores dificuldades da causa animal é transformar a sensibilização que ela incita nas pessoas em mobilização social, lutando por direitos e proteção para os animais. Para Valéria, um caminho viável é cobrar medidas e ações de políticos que utilizam desta causa para se eleger. Alessandro aponta que a maior aposta deve ser na educação, para que desde pequenas as pessoas tenham o entendimento da importância de cuidar e proteger os animais. 

O engajamento na causa animal leva a mudanças de comportamentos e hábitos, que vão desde a redução do consumo de proteína animal, até a compra de produtos que sejam cruelty-free, como têm feito diariamente Valéria e Alessandro. Lutar por esse movimento é agir com humanidade para além de apenas ser humano, ressignificando as relações entre pessoas e animais. 

Tags:

Comportamento

path
comportamento

Meio Ambiente

path
meio-ambiente