O último pistoleiro

"Mesmo um pistoleiro deve ajudar quem ama, a glória não vale mais que a honra"
por
Felipe Bragagnolo Barbosa
|
10/05/2024

Por Felipe Bragagnolo Barbosa

 

Ele está lá sempre, todos o conhecem, mas ninguém sabe quem ele é. Seu estilo é único. Conhecido como: “Cowboy de Barueri” ou também como “Golden Boy”.  Mas a questão é: Quem é ele? O Cowboy de Barueri é um homem que aparenta ter entre 30 a 40 anos de idade, sua roupa é de um pistoleiro do velho oeste do final do século XIX, porém toda dourada, e leva em seu bolso uma pistola de cola. Ele é visto por toda Barueri, mas ele fez sua fama nas madrugadas, especificamente em um posto em Alphaville, próximo de um cassino escondido. Ele aparece na loja de conveniência, às vezes bebendo cerveja ou um destilado, às vezes ele vai para comer e faz questão de puxar assunto, parecendo sempre ser gentil.

De onde ele é? Ele respondeu que é da Zona Leste de São Paulo, mas que fazem anos que passa por Barueri. Sobre seu nome, ele não quis responder dizendo de forma poética que era mais um Severino nesse mundo, se referindo a obra “A vida e as mortes de Severino”.  Durante a conversa não era constante,  de momentos calmos e tranquilos que partiam rapidamente para tensão e cautela quando se afastou sem se despedir e seguiu seu rumo, saiu do posto e se foi. 

Os funcionários deste posto relataram que o Cowboy está por lá quase toda madrugada, e relataram de uma possível amizade com um ator de TV conhecido e que já conversaram diversas vezes.  Ele já teve redes sociais que não eram gerenciadas por ele aparentemente. Todos seus vídeos e fotos eram registrados por outras pessoas e, em um deles diz ser dono de metade das empresas do mundo, e que anda sem rumo pois "a vida é muito além de gerenciar seus lucros". Ninguém acredita nas palavras do personagem e o tratam como louco. Outros o consideram até mesmo como um sábio. Um homem que estava no posto contou que já recebeu vários conselhos dele, e que o considera um artista.

Depois de um longo tempo afastado para ficar com sua família ele voltou a frequentar as ruas da região argumentando que um pistoleiro do oeste deve ajudar seus amados em situações difíceis. Para ele a glória não vale mais do que a honra arremata afirmando ser justo e honrado mesmo sendo um pistoleiro. E conta como certo dia, em um de seus duelos, havia desafiado um homem para que em uma parte escondida da região, à meia-noite, foi mais rápido no gatilho e teria acertado seu desafeto na barriga saindo vitorioso do embate.

Entretanto, clientes e funcionários que estavam na loja de conveniência do posto declararam que a estória era tudo, menos verdade. Eles contaram que o Cowboy usa diversas estórias diferentes para quem conversa com ele, E que costuma viver em um estado de ilusão sobre a vida. Tem seus princípios baseados numa ideia de mundo e dele mesma que não são reais.

Gabriel tem 19 anos e se formou no ensino médio no Mackenzie de Alphaville e era testemunha da visita semanal do Cowboy. Conta que o pistoleiro era uma lenda viva para os alunos, pois ficava esperando, estático, por muito tempo pela saída das aulas e mesmo assim não falava com os alunos. Foi visto uma vez indo atrás de uma professora tentando conversar com ela, que repondia educadamente enquanto apertava o passo para driblar a aproximação dele.

O cowboy se mostra feliz com a vida que leva, fugindo da realidade constantemente, fugindo do padrão imposto pela sociedade de como viver, seja um artista ou um aventureiro, ou até mesmo a mistura dos dois, ele se mantém único e vai ser lembrado por muito tempo na região como o último pistoleiro do Oeste.
  
 

Tags:

Cidades

path
cidades