Por Rodrigo Vaz
As conversas e o barulho de passos são o cenário sonoro presente nos entornos das entradas a saídas da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP. Pelo menos em boa parte dos doze meses do ano esses vêm sendo os sons nos últimos mais de 70 anos. A diferença é que o tema sobre a segurança nunca perdeu espaço entre a comunidade acadêmica e atualmente está cada vez mais presente.
A universidade é conhecida no cenário brasileiro por ser uma instituição aberta e de livre circulação, ou seja, não existe e nunca existiu alguma barreira física em quaisquer das portas da universidade que pudesse selecionar quem teria permissão para acessar o campus. Entretanto, acontecimentos recentes como o ocorrido em março deste ano, quando seis computadores foram furtados das instalações da empresa júnior de consultoria ligada a Faculdade de Economia e Administração- FEA, reacenderam o debate sobre a segurança interna e externa, inclusive com a mantenedora da universidade sugerindo a instalação de catracas. No entanto, posições como essa não são aceitas pela comunidade acadêmica de forma unânime.
Melissa Joanini que é atual presidente do Centro Acadêmico Benevides Paixão, ligado aos estudantes do curso de jornalismo da PUC-SP, acredita que ações como essa tomada pela FUNDASP, a mantenedora da PUC, não respeitam a história da universidade e seriam uma postura autoritária e antidemocrática sobretudo pelo fato de que vários acontecimentos que ocorreram ao longo dos anos na PUC se devem justamente por ser uma universidade aberta. Melissa enfatiza que pode não aparentar, mas a medida da instalação das catracas faz total diferença já que a PUC é palco de grandes eventos que ainda acontecem e acrescenta que uma ação como a proposta tiraria o caráter da PUC como uma universidade comunitária.
O movimento estudantil da PUC participa ativamente da discussão desse assunto, Joanini ressalta a criação de uma enquete para entender a posição dos alunos sobre o tema e, no caso das catracas, saber quais eram os argumentos de estudantes contrários e a favor. Ela também destaca que já foram realizadas assembleias para discussão sobre essa questão e que tiveram grande adesão dos alunos, além das conversas que ela mantém com funcionário e professores da universidade.
Outras propostas alternativas surgem no cenário, como o aumento da vigilância por meio da instalação de câmeras de segurança em pontos estratégicos e a contratação de mais funcionários de segurança. Joanini também menciona a possibilidade de implementar um serviço de transporte para os alunos até as estações de metrô mais próximas, visando aumentar a segurança no deslocamento dos estudantes, como faculdades como por exemplo a ESPM já faz. Ela ressalta ainda que o Benê realizou uma festa nas dependências da universidade para mostrar a importância que o local tem de ser um espaço de livre circulação e que caso fosse diferente, um evento como esse jamais seria possível.
Esse debate vai além da questão puramente técnica de segurança. Ele toca em temas sensíveis como desigualdade social e a relação da PUC-SP com o bairro de Perdizes. Muitos acreditam que a instalação de catracas não resolverá o cerne do problema, pois a segurança é uma questão multifacetada que envolve não apenas barreiras físicas, mas também políticas sociais mais amplas. Joanini diz que deseja que o próximo reitor mantenha a característica da PUC de ser uma universidade aberta para a comunidade e mais do que mantê-la assim, que se busque alternativas para mantermos a diversidade de alunos como os pertencentes das comunidades LGBTQIA+, de alunos pretos, pardos, indígenas, e os oriundos de escolas públicas..
O tema da segurança também é presente no debate dos candidatos a reitoria da universidade
Vidal Serrano Nunes Jr., professor e ex-aluno da PUC, que atualmente dirige a Faculdade de Direito da universidade acredita que a discussão sobre segurança no campus precisa de uma abordagem mais sensível e bem orientada. Ele propõe um diálogo amplo com a comunidade universitária na busca por soluções que vão além da simples instalação de catracas. Segundo ele, faltou sensibilidade da Reitoria atual sobre esse assunto. Também sustenta que a Reitoria deveria abrir um plano com especialistas e discutir com a comunidade e, segundo ele, quem garantiria a segurança no campus seriam pessoas com formação em artes marciais, sendo duas em cada entrada da universidade. Ele acredita que é necessário contratar profissionais para a segurança interna e externa da universidade e ressalta que o problema de segurança pública aumentou nos últimos anos e considera incorreto não colocar só catraca e talvez nem mesmo uma catraca. Para ele, é preciso fazer uma avaliação maior para criar um mecanismo de segurança e sugere, assim como o movimento estudantil da PUC, que no turno da noite exista um ônibus que leve os alunos no metrô até a universidade.
Márcio Alves da Fonseca, ex-aluno e professor da PUC, ex-diretor da FAFICLA (Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes da PUC-SP) e atual pró-reitor de Pós Graduação da universidade, também é candidato ao cargo de reitor. Ele acredita que a proposta de implantação de catracas na PUC-SP deve ser discutida com maior profundidade por parte da comunidade acadêmica e destaca a complexidade da questão da segurança na universidade e em seu entorno, ressaltando a importância de medidas preventivas que vão desde melhorias na iluminação até a capacitação de agentes de segurança, enfatizando que a segurança deve ser garantida através de uma abordagem holística e multifacetada, que vá além da simples instalação de barreiras físicas. Para ele, seria necessário realizar um mapeamento das principais atividades da universidade que preveem a participação de público externo, em quais momentos, em quais espaços da universidade se prevê a entrada desse público. Uma circulação de seguranças externamente à universidade, seguranças móveis circundando a universidade, sobretudo em horários de saídas de turnos, como o turno noturno, a criação de canais de comunicação eficazes como linhas diretas de segurança e aplicativos móveis. Também defende não existe até o momento uma comprovação de que com medidas como a instalação das catracas o problema estaria resolvido. Fonseca pensa que as soluções também não são únicas e simples.
Em meio a essas discussões fica evidente que a comunidade acadêmica da PUC/SP está engajada em encontrar soluções eficazes para garantir a segurança de todos os membros da universidade, preservando ao mesmo tempo os valores de liberdade e inclusão que sempre caracterizaram a instituição e por essa discussão ter se tornado pauta de discussão nas eleições da reitoria universidade, isso só fica mais destacado.