O modelo “Pura Vida” de desenvolver uma nação

Com construções políticas e sociais tão diferentes, pode-se comparar a biodiversidade do Brasil com a da Costa Rica?
por
Beatriz Girão, Camila Barros, Giovanna Montagner, Laura Ré, Maitê Abad, Maurício Souza e Thalisson Silva
|
25/06/2021

 

foto: Camila Barros/2021

 

 

David Attenborough, naturalista britânico, é um dos nomes mais citados para falar de biodiversidade. Conhecido por seus documentários, em 2020, em parceria com a plataforma de streaming Netflix, um novo trabalho audiovisual foi lançado: David Attenborough e o Nosso Planeta. O filme atua como um "depoimento testemunha", através do qual o naturalista compartilha em primeira mão sua preocupação com o estado atual do planeta devido ao impacto da humanidade na natureza e suas esperanças para o futuro. Ao longo do documentário, além de explicitar os impactos ambientais causados por nós, ele também apresenta soluções alternativas para reverter o cenário caótico.

Um dos países que é exemplo de biodiversidade e preservação é a Costa Rica. Após a Segunda Guerra Mundial, aboliram as Forças Armadas, focaram que seriam um país da paz, e todo o orçamento investido até então em guerra e em defesa, voltou-se para a educação. Assim, em meados da década de 50, a Costa Rica dedicou-se à educação durante duas gerações.

 A costarriquenha Mariana Cordoba, de 20 anos e estudante de Design, afirma sentir muito orgulho do país em que vive. De acordo com ela, a biodiversidade é fundamental para a sociedade costarriquenha. Além da conservação, o atrativo do país, vem das diferentes e múltiplas formações naturais como montanhas, vulcões, praias, florestas, cachoeiras e entre outros. Com isso, a Costa Rica conseguiu apoiar-se na biodiversidade tanto para turistas quanto para a população - gerando empregos para os cidadãos.

Ao ser questionada sobre a educação que teve na escola, Cordoba afirma que durante as aulas, os professores sempre falavam sobre o cuidado com a biodiversidade, apesar de não existirem aulas especificamente voltadas para o tema: "Eu diria que na educação costarriquenha, ela tem um impacto maior devido às suas atividades sociais como na escola quando acontecem campanhas de reciclagem ou dias de plantio de árvores, onde a ideia é aprender a cuidar do planeta de forma divertida e não como uma obrigação estrita", diz.

Cesar Pegoraro, biólogo e Educador Socioambiental no S.O.S Mata Atlântica e do Grupo Oficina, explica que a política de educação da população foi essencial para o país: "o que acontece quando há pessoas educadas, quando tem um processo educativo grande, automaticamente as pessoas conseguem ver e perceber a importância de viver, de fato, em um ambiente preservado", afirma.

 

foto: Camila Barros/2021

Com a educação, a preservação e a recuperação do meio ambiente, a Costa Rica conseguiu transformar a experiência "Pura Vida" em atrativo para o turismo.  Pegoraro afirma que essa expressão veio do aproveitamento da biodiversidade do país, com o objetivo de proporcionar, para aqueles que visitarem o país, uma experiência orgânica com a natureza. Os costarriquenhos foram capazes de entender que a superexploração não é um fator enriquecedor  para eles no turismo, mas sim o minimalismo gerado pela preservação e cuidado com a natureza, tornando a nação conhecida por ser paradisíaca e conservada. Além disso,  o acolhimento do meio ambiente contribuiu (e continua contribuindo) para o aumento do PIB do país, graças à junção desses fatores: população educada, atrações turísticas caras e valorização da cultura local como artesanato, culinária, etc.

Ao comparar a biodiversidade costarriquenha e brasileira, Pegoraro explica que um dos principais fatores segregatórios é a educação. O Brasil continua com fortes práticas coloniais, que tem por característica a destruição. Exemplos disso são os desmatamentos que acontecem há gerações na Mata Atlântica, Cerrado e Amazônia. O socioambientalista defende a educação de base como parte da solução desse quadro de preservação e conservação ambiental. Segundo o especialista, é preciso haver diálogo entre as pessoas para que sejam sensibilizadas e de fato se percebam como agentes de transformação. Dessa forma, também será possível enxergar claramente os limites que estão postos e como possuímos liberdade para fazermos nossas próprias escolhas. A educação em prol de um olhar coletivo:  “Com a educação será possível romper com esse olhar [colonialista] do Brasil e, a partir disso, permitir que a gente se entenda como sociedade, como seres da natureza. E o que acontece na natureza nos impacta", argumenta.

Além disso, ele critica as políticas públicas que não são de fato aplicadas. Na opinião do educador ambiental, no Brasil, possuímos apenas atos isolados de políticas de governo sempre com interesses pessoais por trás. Sendo esse um forte fator diferenciador com a Costa Rica, que através de políticas públicas de longo prazo e governos consecutivos, conseguiu adotar a prática da conversação do meio ambiente. Em convergência a este ponto, Mariana também afirma que as entidades costarriquenhas responsáveis pela proteção de parques nacionais, fazem um “excelente trabalho” ao garantir a preservação ambiental.

Cesar Pegoraro conta que considera David Attenborough uma inspiração e afirma que devemos estar atentos às mudanças climáticas. O educador socioambiental, assim como Attenborough, afirma que o objetivo não é salvar apenas a natureza, mas sim a humanidade. O argumento é de que precisamos mudar drasticamente a forma como sentimos, pensamos e agimos enquanto habitantes do planeta Terra, só assim será possível fazer algo efetivamente: “Ou a gente veste essa carapuça e toma um banho dessa responsabilidade, ou a gente vai continuar com discursos muito bonitos, mas rumo aos impactos ambientais não retornáveis", afirma.

Dessa forma, o educador ambiental acredita que para reverter esse obscuro cenário é preciso começar pelo micro antes do macro. Primeiramente é preciso que nós, seres humanos, entendamos que somos finitos e possuímos limites, assim como o nosso planeta.

Por fim, Cesar Pegoraro deixa um recado de aviso e orientação: "As pessoas vão ter que se sentir parte da mudança, as pessoas vão ter que se ver como parte do problema. Nós temos que [nos assumir enquanto] responsáveis pelo problema se quisermos continuar aqui".

Tags:

Meio Ambiente

path
meio-ambiente