O Aumento das Brigas de Torcidas e o Caso Gabriela Anelli: Reflexões Necessárias

O esporte deveria ser competição saudável e união de pessoas, mas brigas entre torcidas aumentam, exigindo reflexão. Caso de Gabriela Anelli destaca urgência de abordagem séria.
por
Lucca Ranzani
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30/08/2023

O esporte, em sua essência, deveria ser um campo de competição saudável, união de pessoas e celebração da paixão compartilhada por um time ou atleta. No entanto, nos últimos anos, temos testemunhado um preocupante aumento nos casos de brigas entre torcidas, um fenômeno que lança uma sombra sobre a beleza do esporte e que exige uma profunda reflexão sobre suas causas e impactos. O emblemático caso da torcedora do Palmeiras Gabriela Anelli destaca a urgência de abordar essa questão de maneira séria e abrangente. 

A história de Gabriela Anelli serve como um lembrete doloroso das consequências que podem resultar quando rivalidades esportivas ultrapassam os limites saudáveis. Ela, que era uma apaixonada torcedora do Palmeiras, viu sua vida ser interrompida de maneira abrupta em meio a uma briga entre torcidas. A morte de Gabriela revela o lado mais sombrio desses conflitos, que podem culminar em perdas não apenas para as vítimas diretas, mas também para suas famílias e comunidades. 

Em São Paulo, por ordem do Ministério Público, os clássicos regionais só podem ter torcida do mandante da partida, essa medida é muito criticada pelo fato de isso não ter inibido os conflitos, pois ainda tem casos de torcedores brigando em outras regiões da cidade. Para José Paulo Florenzano, professor de antropologia da PUC-SP, é necessário ser tomada medidas de segurança eficazes, “É preciso ter uma legislação para que a impunidade não prevaleça, mas apostar apenas em uma estratégia repressiva, que chega ao ponto de estabelecer torcida única no estádio, empobrecendo o estádio” e completa “O problema me parece que apostar tudo na medida repressiva, quando deveria haver um esforço educativo, de dialogar e de participação das próprias torcidas na discussão de quais regras devem ser seguidas, dos limites e assim por diante” 

Com essas medidas dos órgãos públicos, é passada uma ideia de que se busca transformar as torcidas brasileiras em uma plateia de teatro, processo que acabou ocorrendo na Europa. “É um processo de elitização, que opera essa transformação do torcedor, sai o torcedor de camadas sociais e acaba entrando o torcedor visto como cliente, a figura do sócio torcedor, regido pelo valor monetário. Sem dúvida nenhuma é passada uma visão de um shopping center, que passa uma ideia de que você irá desfrutar de um entretenimento, de termos de ofertas de produtos e serviços" 

A festa rubro-negra no Maracanã (Foto: Gilvan de Souza/CRF)
A festa rubro-negra no Maracanã (Foto: Gilvan de Souza/CRF)
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Para evitar todos esses problemas que ocorrem frequentemente na nossa sociedade, com torcedora morrendo em porta de estádio, sendo que estava lá para torcer pelo seu time, é preciso que se tomem medidas condizentes e rígidas. “O trabalho de inteligência e prevenção de uma equipe especializada na história de rivalidade e conflitos, obviamente, palmeiras e flamengo é uma partida de altíssimo risco, pois são torcidas extremamente rivais. É inacreditável como as forças de segurança se deixam surpreender por conflitos que qualquer conhecimento prévio poderia ter evitado esse destino trágico.” 

Além disso, é imperativo que os clubes esportivos e as organizações de torcida assumam a responsabilidade por suas bases de fãs. Campanhas de conscientização, educação e promoção de valores de respeito e fair play devem ser promovidas ativamente. A colaboração entre torcidas rivais também pode desempenhar um papel significativo na redução das tensões, demonstrando que a paixão pelo esporte não precisa se traduzir em hostilidade. 

No entanto, a mudança cultural também é fundamental. A sociedade como um todo deve refletir sobre o significado do esporte em nossas vidas e como ele pode ser uma força positiva para unir as pessoas. Pais, educadores e líderes comunitários têm a responsabilidade de transmitir valores de respeito e empatia, ensinando às gerações futuras que a rivalidade esportiva não deve justificar a violência. 

Em última análise, a trajetória trágica de Gabriela Anelli deve servir como um alerta sombrio para todos nós. Precisamos olhar além das rivalidades temporárias e das paixões efêmeras e lembrar que, no final das contas, somos todos seres humanos compartilhando o mesmo planeta. O esporte tem o poder de nos unir, e é nosso dever garantir que essa união seja sempre conduzida por valores de respeito, compreensão e paz. 

À medida que enfrentamos o desafio do aumento das brigas de torcidas, é importante reconhecer que não existe uma solução única ou rápida para esse problema. Mudar comportamentos arraigados e alterar dinâmicas culturais leva tempo e esforço contínuo. As autoridades, os clubes esportivos, as organizações de torcida e a sociedade em geral precisam trabalhar juntos de forma coordenada para abordar as raízes desse fenômeno. 

Uma abordagem eficaz inclui o engajamento de especialistas em psicologia, sociologia e prevenção de violência para desenvolver estratégias abrangentes. Isso pode envolver a criação de programas de educação e sensibilização nas escolas, campanhas de mídia que enfatizem os aspectos positivos do esporte e a criação de espaços de diálogo entre torcidas rivais para construir pontes de entendimento. 

 Além disso, é fundamental promover medidas de segurança em eventos esportivos que garantam a integridade dos espectadores e minimizem os riscos de confrontos. A presença policial adequada, sistemas de vigilância eficientes e medidas de identificação prévia de potenciais agitadores podem contribuir para um ambiente mais seguro e pacífico. 

Enquanto trabalhamos para conter o aumento das brigas de torcidas, também devemos buscar maneiras de celebrar o lado positivo do esporte. Ele tem o poder de unir pessoas de diferentes origens e crenças, proporcionando uma plataforma onde a diversidade é valorizada e a paixão é compartilhada de maneira construtiva. Eventos esportivos podem ser momentos de celebração, em que fãs de todas as cores podem torcer juntos, desfrutando da competição saudável e da camaradagem. 

O caso de Gabriela Anelli é um lembrete triste e comovente de que a violência nas brigas de torcidas tem consequências devastadoras. No entanto, essa tragédia também pode servir como um ponto de virada, uma oportunidade para repensarmos nossas atitudes e ações em relação ao esporte. À medida que trabalhamos para mudar essa realidade, devemos nos esforçar para criar um ambiente esportivo em que a paixão possa prosperar sem se transformar em violência, onde a rivalidade seja saudável e respeitosa, e onde todos possam desfrutar do que o esporte tem de melhor a oferecer. 

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