É comum ver propagandas de novas coleções de moda sazonalmente através de diversos meios de comunicação, como anúncios personalizados nas redes sociais, propagandas televisivas e cartazes em shoppings. Porém, devido ao novo fluxo de informação, a preocupação com o meio ambiente, o consumo mais consciente e o entendimento sobre a cadeia de produção em grande escala incentivam as pessoas a comprarem peças nos brechós.
Como forma de combater e educar a sociedade sobre o quanto a indústria da moda é nociva ao planeta, surgem movimentos ao redor do globo que estudam e explicam a relação entre moda, ética e sustentabilidade.
O fast fashion se refere a uma produção de peças em massa que visa o novo, a dependência e o apelo visual, é o tipo de confecção de roupa que mais agride o meio ambiente e que se encontra em lojas de varejo. Já o slow fashion surge em oposição ao anterior e preza por processos diversos, regionais, que incentivam a consciência socioambiental e que são caracterizados por pequenas e médias escalas de produção.
O marketing da indústria da moda aparenta influenciar a população brasileira de forma eficiente, uma vez que o consumo de roupas pelo brasileiro é o maior da América Latina, de acordo com um estudo feito pela consultoria A.T. Kearney. No entanto, os resultados desse consumo em larga escala e exacerbado afetam gravemente o meio-ambiente. Segundo a Ellen MacArthur Foundation, a produção têxtil utiliza aproximadamente 93 bilhões de metros cúbicos de água por ano, o que é equivalente a 37 milhões de piscinas olímpicas. O relatório da fundação explica que os tecidos liberam toxinas e fibras poluentes 16 vezes mais do que as micropartículas presentes em cosméticos barrados em vários países. Prevê-se que, até 2050, caso nenhuma medida seja tomada, 22 milhões de toneladas de microfibras plásticas serão liberadas no oceano. Além disso, a indústria da moda é responsável por 1,2 bilhão de toneladas de gases de efeito estufa por ano, valor que ultrapassa a junção da aviação comercial e da indústria naval.
Dentre esses novos métodos de consumo, encontra-se o upcycling, uma técnica que consiste na reutilização de materiais diversos para produção criativa e sustentável de novos produtos. Isabela Sales, dona da loja Isabela Sales DSGN, trabalha apenas com confecção de acessórios feitos de pneus. “Pelo que percebi, os motivos que levam os consumidores a comprar são bem variados, uns gostam do design, outros compram pelo regionalismo, outros por ser uma empresa gerida por uma mulher, e sim, muitos compram por terem essa consciência ambiental. Mas na maioria dos casos percebo que é sempre esse conjunto de motivos que os levam à compra, as pessoas entendem o valor e ficam muito felizes quando adquirem os produtos, acho que é uma compra sem “peso”, com menos culpa”, relata Isabela sobre a motivação do consumo slow fashion.
A moda ética por sua vez, nas palavras da pesquisadora em Engenharia de Produção e Estudo de Desenvolvimento, Luciana dos Santos Duarte; é uma moda sustentável que contempla cinco critérios: valores ambientais, econômicos, sociais, culturais e políticos. "Para quem consome, a importância está na responsabilidade individual, é uma consciência de que você está fazendo a sua parte para com o mundo. Para quem vende, é uma importância de educar o consumidor. A moda ética traz uma consciência de um novo agir para reformular nossas atitudes” diz Luciana.
- Mas qual o papel dos brechós na moda ética e sustentável?
De acordo com a pesquisadora, além de os brechós serem uma saída para as gerações Y e Z, que tem consciência da moda sustentável, mas que não tem dinheiro para consumi-la, uma vez que ela é mais custosa, os brechós aumentam o ciclo de uso das roupas.
Uma pesquisa da GlobalData, empresa de análise de varejo, prevê que, até 2025, haverá um aumento de 112,5% no valor movimentado pelo mercado de roupas de segunda mão. Embora comprar “sem sentir culpa” seja um ótimo motivo para que o consumo em brechós aconteça, há outros fatores que influenciam esse comportamento de consumo nos jovens. Dentre eles, estão a busca pela moda vintage, o preço mais acessível e a sensação de dar novo significado a uma peça que já possui história.
Tatiana Portella, diretora e bailarina da Sopro Cia de Dança, que agora consome apenas em brechós, escolheu consumir moda second hand pelo custo-benefício e fator econômico, mas relata que foi provocada a refletir sobre o impacto ambiental depois da mudança de comportamento. Além disso, ela explica que, como artista, se encanta pela história da roupa que já passou por alguém, que agora passa por ela e que, um dia, irá passar por outra pessoa. A diretora da cia de dança conta que já montou dois figurinos inteiros apenas com roupas de brechó para suas obras.
Como parte de um movimento sustentável regido por jovens, no campo social, os brechós abraçam a diversidade e o rompimento para com padrões, dessa forma, não há um estilo ou perfil único de seus consumidores. Regia Diana do Couto, dona do Brechóvisk, relata que o público LGBTQIA+ é muito presente nas lojas. Segundo ela, gays e pessoas trans são os que mais os procuram dessa comunidade para experimentar novos estilos de roupa e se redescobrirem, “uma vantagem do brechó é justamente ter todo tipo roupa para todo tipo de pessoa e estilo”, diz a empreendedora.
A moda, que antes era relegada somente ao campo do supérfluo e do subjetivismo, pela maior parte da sociedade, agora, assume um dos personagens centrais de uma luta premente para as gerações mais novas e para as gerações futuras. Fato é que o planeta não irá sobreviver se a sociedade não alterar sua forma de existir como um todo e isso envolve principalmente a sua maneira de consumir.
O conhecimento mais acessível e a variedade de roupas, estilos, locais de consumo e preços são pontos que ajudam a juventude a se manter engajada na causa sustentável, mas o que prevalece é a vontade de preservar seu local de existência, o planeta.