Mundo das redes invade os espaços privados

Na era digital, desligar o acesso à Internet é um direito ao descanso dos trabalhadores, já conquistado na França
por
Isabel Bartolomeu e Sabrina Legramandi
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10/10/2022

Implementado pela primeira vez em 2017 na França, o direito à desconexão prevê a inatividade do funcionário após o horário de expediente. No país, empresas com mais de 50 funcionários devem regulamentar e estabelecer acordos para não contatar os trabalhadores fora do ambiente de trabalho. Em suma, os funcionários não devem se sentir - ou serem - obrigados a responder e-mails, telefonemas ou mensagens de textos depois do final de seus turnos.

À primeira vista, o direito à desconexão parece servir apenas para reforçar que a jornada estabelecida entre empresa e trabalhador seja seguida, mas, com as novas tecnologias e modalidades trabalhistas, ele faz parte do futuro e assegura o descanso e o lazer dos trabalhadores.

Com a pandemia de Covid-19, as novas formas de organização do trabalho ganharam espaço na vida de muitos trabalhadores. Modelos de teletrabalho, home office e híbridos foram aderidos pelas empresas brasileiras. Inclusive, uma pesquisa feita pela FIA (Fundação Instituto de Administração) apontou que, durante o período de maior isolamento e distanciamento social, setores industriais e hospitalares concentraram entre 47% e 53% dos funcionários na modalidade de trabalho à distância.

            Apesar da aderência dos setores, de forma geral, desde o início da pandemia em março de 2020, o índice de trabalhadores no regime home office não ultrapassou mais de 10% do total de pessoas empregadas no país. O levantamento foi feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

 

Excesso tecnológico pode gerar a hipercomunicação

            Nos desdobramentos do direito à conexão, seja no espaço feito de escritório em uma parte casa ou no próprio ambiente corporativo, a presença e variedade de novas ferramentas tecnológicas e comunicacionais é notável; computadores, notebooks, smartphones e redes sociais surgiram com o objetivo de facilitar o contato e a interação entre pessoas.

            Nas últimas décadas, entre a era dos millennials e da geração Z, o mundo digital e a conexão on-line se tornaram comuns. Já em 2020, mais de 4,5 bilhões de pessoas utilizavam a internet em todo o mundo - mais da metade da população do planeta Terra. Dessas, cerca de 3,8 bilhões tinham perfis em redes sociais, de acordo com a Global Digital Overview. Também, com o acesso disponível nas palmas das mãos e a exposição a uma alta quantidade de informações, as redes sociais e os aparelhos tecnológicos se tornam cada vez mais meios de distração e hipercomunicação.

Essa “explosão” de informações e de conexão, a longo prazo, provocam problemas que prejudicam a saúde de quem dedica o dia a estar conectado. Uma pesquisa realizada pela empresa Fhinck Business Solutions apontou que o excesso de trabalho, especialmente durante o home office, pode gerar adoecimento mental.

Chamada burnout, a doença que afeta o trabalhador que teve a jornada aumentada durante a pandemia pode ocasionar sintomas como dor de cabeça, insônia e irritabilidade. Se não tratado, esse estresse pode levar à depressão, ansiedade e, até mesmo, ao suicídio.

A causa principal, conforme o estudo da Fhinck, é o excesso de tempo gasto diante de telas, sem pausa, correspondendo a 85% dos casos.

 

Redes sociais fazem parte da vida dos brasileiros – será que de todos?

Em 2022, ano da desaceleração da pandemia e do retorno às atividades presenciais, a internet e os smartphones continuam como parte essencial da vida dos brasileiros.

Conforme um relatório anual feito pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), o número de celulares no país ultrapassa o número de habitantes. São 242 milhões de aparelhos em uso e, se somados os tablets e os notebooks, o número chega a 352 milhões.

A maioria dos brasileiros, porém, utiliza a tecnologia para acessar as redes sociais. Segundo uma pesquisa realizada pelo Grupo Globo em julho, intitulada “O brasileiro ama redes sociais”, o país é o 2º colocado no ranking que mede o tempo gasto em redes sociais.

Acessar mídias como YouTube, Instagram e TikTok já faz parte do dia-a-dia de 95% dos brasileiros e o tempo gasto chega de 1 a 6 horas para 70% dos habitantes. Como aponta o estudo, a geração Z é a que passa mais tempo conectada.

            Apesar disso, não são todos os que se rendem à sedução da era digital. Ainda que a internet tenha ganhado relevância – ainda mais no contexto da pandemia da Covid-19 – nos últimos anos, ainda existem aqueles que não a usam ou a usam apenas quando é estritamente necessário.

            É o caso de Vinicius Hiroshi Kikuta Alves, de 29 anos, formado em Editoração Digital. Na era do excesso de comunicação, ele se sente pressionado a utilizar as redes sociais, mas decidiu por limitar o uso apenas quando o assunto é trabalho.

            “Saber usar redes sociais é importante para se ter sucesso nos negócios, aparentemente”, comenta. A resposta de Vinicius foi criar contas em redes como LinkedIn e Twitter e “simplesmente não usá-las sempre que possível”.

            “Arranjar trabalho é mais difícil sem usar redes sociais ativamente, mas pelo menos eu não preciso lidar com posts que não tenho interesse ou não quero ver”, explica. A escolha dele esbarra na dualidade presente no cotidiano dos trabalhadores. Ao final do dia, muitos passam a dedicar momentos de descanso à criação de uma imagem nas redes sociais.

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