Por Mariana Castilho
Todo dia, o alarme toca às 5h30min. Elas acordam cedo, se preparam e se lançam em mais um dia de trabalho que começa sem pressa, mas com a certeza de que o tempo se estica entre o atendimento atencioso e a costura detalhista. Com um ritmo meticuloso e uma leveza que só quem passou uma vida inteira no ofício pode ter, Dona Maria e Lurdinha abrem as portas de seu ateliê ainda antes das 6h00min, com um sorriso e uma palavra amiga para cada cliente que chega. Elas são um exemplo entre milhares de outras costureiras no Brasil. São mais de 45 anos trabalhando com tecidos e linhas, aprendendo o ofício com suas mães. Desde adolescentes, as duas começaram a costurar como forma de ajudar em casa. O tempo passou, e as roupas que antes eram feitas para a família, agora atendem a uma comunidade inteira de pessoas que, de uma forma ou outra, precisam de algo especial.
Foto: Mariana Castilho
Cada cliente que entra no ateliê de Dona Maria e Lurdinha tem uma história para contar. Não são apenas roupas. São momentos. São celebrações. Cada peça é uma história de vida que se reflete no pano. Desde vestidos de casamento, até roupas para um primeiro encontro ou até mesmo trajes de formatura, cada cliente compartilha com as costureiras suas emoções, seus medos, suas inseguranças. A cada visita, elas não estão apenas confeccionando roupas, mas acolhendo e entendendo as necessidades de quem chega. A relação com as clientes vai além da simples venda. Para Dona Maria e Lurdinha, o trabalho de costura é uma oportunidade de ajudar alguém a se sentir mais bonita, confiante e confortável consigo mesma. Para elas, não há satisfação maior do que ver o sorriso de uma cliente ao sair com sua peça ajustada, e sentir que contribuiu para uma transformação, muitas vezes muito mais profunda do que apenas a aparência.
Dona Maria e Lurdinha são parceiras de vida e de trabalho. Cada uma tem uma função, mas ambas dividem a responsabilidade e a dedicação ao ofício. A rotina de um dia típico é intensa, mas ambas fazem questão de manter a qualidade e o carinho em cada peça. Elas dividem o espaço nos fundos da casa de Lurdinha, como outras 85% de costureiras pelo Brasil que utilizam os cômodos de casa para realizar o trabalho. A costura é para elas um reflexo de paciência, respeito e amor pelo que fazem. Ao longo dos anos, as duas aprenderam a adaptar-se às mudanças do mercado, mas nunca perderam o foco na qualidade e no atendimento personalizado. Hoje, elas se orgulham de poder olhar para trás e ver o legado construído, um ateliê que segue sendo um lugar de acolhimento e transformação. Atualmente, 40% das costureiras autônomas trabalham com costura (sem outras atividades profissionais), a jornada é maior: 43% trabalham todos os dias e 36% só folgam uma vez na semana, com 62% das costureiras que faturam com o trabalho ganham menos que um salário mínimo por mês, e 85% estão abaixo da faixa salarial média de uma costureira em regime CLT, segundo análise de dados do site salário.com.br, do Novo CAGED, do eSocial e do portal Empregador Web.
Foto: Mariana Castilho
Em uma cidade como Araçatuba, onde a tradição e o comércio local se entrelaçam com a vida cotidiana, o ateliê de Dona Maria e Lurdinha se tornou um símbolo de resistência e superação. No entanto, como em qualquer outro negócio, a caminhada não foi fácil. Elas enfrentaram as dificuldades de um mercado competitivo, o avanço da moda e as transformações econômicas, mas sempre com a mesma premissa: costurar com paixão e fazer com que cada cliente se sentisse especial.
As duas costureiras, com toda a sua experiência, sabem que o segredo para o sucesso está na relação de confiança com os clientes. Para elas, não basta fazer uma roupa bem-feita, é preciso que cada peça tenha um significado para quem a usa. Com o mesmo sorriso acolhedor e o olhar atento ao próximo, Dona Maria e Lurdinha seguem costurando suas histórias e as de tantas outras pessoas, mantendo viva a tradição da costura artesanal e o poder transformador da roupa bem feita.
Foto: Mariana Castilho