Motoristas de aplicativos têm futuro incerto

Queda nos ganhos, aumento dos custos e falta de segurança colocam em risco o futuro dos motoristas de aplicativo.
por
Ivan Marino Iannace
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15/04/2025

Por Ivan Marino Iannace

Carlos Eduardo tem 47 anos e já trabalhou como vendedor em uma loja de eletrodomésticos, mas perdeu o emprego e viu no aplicativo uma chance de recomeçar. Inicialmente, acreditava que teria mais flexibilidade nos horários e garantiria uma boa renda no final do mês. No entanto, logo percebeu que, para se sustentar, precisava dirigir por mais de 12 horas diárias. Mesmo assim, o dinheiro que sobra após cobrir combustível, manutenção e as taxas da plataforma é cada vez menor.

Para muitos que dependem de aplicativos de transporte, a rotina agora envolve longas jornadas pelas ruas, aceitando corridas mal remuneradas e temendo a violência. Aquela promessa inicial de autonomia e bons rendimentos se transformou, para muitos, em um verdadeiro desafio diário para equilibrar as finanças. As taxas diminuíram, os gastos aumentaram, e a plataforma, que deveria ser uma aliada, tornou-se mais um obstáculo.

Ele conta que, no começo, as corridas pagavam melhor e dava para equilibrar os custos com o que se ganhava. Hoje, a situação mudou bastante. O valor por quilômetro rodado caiu cerca de 30%.

Enquanto isso, os gastos só aumentaram. Os custos da gasolina, pneus e manutenção também cresceram substancialmente. Além disso, lembra que, antigamente, os repasses eram mais claros e os bônus realmente ajudavam na renda. Hoje, isso também mudou.

Diante desses aumentos, Carlos explica que o lucro que obtinha há alguns anos não existe mais, e muitos motoristas acabam se endividando ou abandonando a plataforma. Ele conta que a maioria dos outros motoristas usam o aplicativo para obter um ganho extra, enquanto fazem a maior parte de suas rendas por meio de outro trabalho.

Além disso, as próprias normas do aplicativo se modificaram. Anteriormente, os motoristas tinham maior controle sobre quais corridas aceitavam sem sofrer penalidades. Atualmente, se recusarem muitas viagens, podem ser despriorizados pelo sistema, o que os força a aceitar trajetos pouco lucrativos para não perder oportunidades melhores.

Um fator que impacta as finanças são os incentivos da empresa, que oferecem bonificações para um certo número de viagens. Carlos relata que, para alcançar esses objetivos, acaba aceitando percursos pequenos que, frequentemente, não valem a pena. Além disso, existe o trajeto até o passageiro, que por vezes envolve vários quilômetros sem qualquer remuneração. Caso negue muitas viagens, sua taxa de aceitação diminui, e pode ser penalizado com menos solicitações.

Após muitos cálculos, percebeu que, para obter um ganho aceitável, necessita percorrer mais de 300 quilômetros diariamente. Isso implica passar horas no trânsito, sem tempo para descansar e com o corpo cada vez mais exausto. Ele sente dores nas costas, nos joelhos e no pescoço, resultado das longas jornadas ao volante.

Perigo nas ruas

Se os desafios financeiros já são muitos, a falta de segurança torna a atividade ainda mais complexa. Carlos Eduardo conta que já foi roubado duas vezes, ambas durante viagens noturnas. No seu relato, em uma dessas situações, precisou entregar o celular e a carteira para um passageiro armado que entrou no veículo fingindo ser um cliente comum. Após o crime, tentou contato com a empresa para comunicar o ocorrido, mas afirma que o suporte foi mínimo, demorando muitos dias para que fosse reportado, e a ajuda quase inexistente.

A violência, segundo ele, é uma das maiores apreensões dos motoristas. Carlos conhece colegas que foram agredidos e até intimidados ao rejeitarem certas viagens. Um conhecido seu chegou a ser vítima de um golpe em que o passageiro solicitava pagar em dinheiro e, no final da viagem, fugia sem pagar. Outra vez, ficou sabendo que um colega de trabalho muito próximo havia sido forçado a dirigir para criminosos que usaram o carro para praticar delitos.

Em sua visão, a empresa deveria oferecer mais proteção e amparo para quem está exposto nas ruas todos os dias. Vários motoristas passaram a evitar viagens em certas áreas ou após um determinado horário, mas essa decisão também tem um custo, como por exemplo menos viagens e, por consequência, menos ganhos.

Futuro incerto

Apesar de estar há quatro anos como motorista de aplicativo, não vislumbra um futuro promissor na profissão. Ao pensar nos próximos anos, Carlos almeja retornar ao trabalho com vendas ou até abrir um pequeno negócio, mas enquanto isso não acontece, precisa continuar dirigindo para pagar as contas.

O que mais lhe aflige é a ausência de perspectiva de melhoria. Ele acredita que, se as condições permanecerem assim, muitos motoristas abandonarão a plataforma, pois não conseguem mais sobreviver desse trabalho. Alguns colegas já desistiram e procuraram alternativas, como entregas por aplicativo, mas as dificuldades são similares. Mesmo exausto segue pelas ruas da cidade, tentando transformar quilômetros rodados em sustento, sem saber até quando esse caminho será praticável.

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