Guillermo Betancourt Scull tem 56 anos. Cubano, é ex-atleta de esgrima da seleção de Cuba, foi medalhista de prata com sua equipe nas Olimpíadas de 1992 em Barcelona e, desde então, decidiu virar técnico. Nascido em Santiago de Cuba, começou a treinar aos 12 anos na EIDE (Escola de Iniciação Esportiva Escolar). No final de 2019, Guillermo fundou a Associação Guilhermo Betancourt Esgrima e realizou uma parceria com o Sport Club Corinthians Paulista para ser treinador de atletas brasileiros.
“Eu jogava baseball e todo dia, no meu caminho ao treino, passava por uma academia de esgrima. Eu sempre parava para assistir os atletas treinando, até o dia em que pedi uma aluna para jogar de brincadeira. O técnico da sala me viu e chegou perguntando de uma ação que eu fiz naturalmente, sem conhecer os movimentos. Eu respondi e ele me disse que se eu treinasse poderia ser um ótimo esgrimista. Foi assim que minha jornada começou.”
No início, Guillermo não conhecia muito bem a modalidade. Se inspirava em personagens do cinema western e filmes de lutas de espada como Os Três Mosqueteiros e Zorro. Quando começou a desenvolver-se como atleta, colheu referências e passava seu tempo estudando o esporte.
“Me envolvendo mais eu comecei a prestar atenção em vários atletas, entre os quais gostaria de destacar dois: Pascal Jolyot e Vladimir Smirnov. Eu gostava de assistir os combates entre este representante de escola francesa com sua técnica refinada e corpo magro e o russo, com sua tática e força bruta. Eu também gostava de floretista bielorrusso Alexander Romankov”.
Aos 16 anos foi convidado para a ESPA (Escola Superior de Preparação de Atleta) em Havana, onde morava sozinho e podia visitar sua família apenas nas férias. Passados alguns meses, Guillermo se destacou e foi incorporado ao grupo da seleção nacional juvenil e, em seguida, na seleção nacional adulta.
“Eu fiz minha primeira viajem para fora do país, para a Tchecoslováquia, no Jogos Juvenil de Amizade ou Esperança Olímpica, onde participavam todos os países do campo socialista. Mais uns meses depois eu fiz parte da equipe nacional adulto de Cuba viajando para Hungria, Polônia, Romênia, Rússia, Tchecoslováquia, Alemanha Democrática, Bulgária, etc. Terminei 1980 em Moscou, nos Jogos Olímpicos.”
Betancourt foi multicampeão e obteve resultados altos durante os anos 80 e 90. Conquistou o título nacional várias vezes, foi campeão centro americano (1985), campeão mundial universitário (1987, 1989 e 1991), campeão mundial (1991), medalha de prata nas Olimpíadas de 1992 em Barcelona, medalhista em diferentes edições da Copa do Mundo da Esgrima e outros torneios internacionais.
“Foram momentos de sacrifício, tristeza, derrotas, choro e suor. Mas depois sempre veio alegria, felicidade e prazer, que me mostravam que tudo isso valeu a pena. E hoje para mim como o técnico a esgrima continua a ser vida”.
Guillermo teve suas primeiras experiências como treinador no Brasil na década de 90, quando foi treinador da Federação Paulista de Esgrima e do Esporte Clube Pinheiros. Em 2016, quatro atletas treinador por Betancourt disputaram os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro.
“Eu decidi lecionar porque acredito que se um treinador se entrega 100% o atleta cresce cada dia mais, até chegar longe e conseguir subir no pódio mais alto. Eu quero passar para meus atletas tudo aquilo que pode contribuir em formação de caráter, os valores que possam enriquecer como ser humano. Eu sempre sonhei, e sonho, que meus alunos podem subir no pódio nacional, internacional, do campeonato Sul-Americano, Pan-Americano, Mundial e Olímpico”.
Associação Guillermo Betancourt Esgrima
Fundada em 2019, a Associação Guilhermo Betancourt Esgrima realizou uma parceria com o Sport Club Corinthians Paulista para treinar 30 atletas, divididos em seis categorias: infantil, pré-cadete, cadete, juvenil, adulto e veterano. A academia fica no bairro do Bixiga.
Sofia Brasil e Felipe Galeazzi são dois dos alunos do mestre Guillermo Betancourt. Ambos estudantes com 13 anos, categoria pré-cadete da equipe corinthiana, têm cerca de 4 anos de prática e já conquistaram medalhas em âmbito estadual, nacional e internacional.
Desde os 9 anos praticante da modalidade, Sofia foi várias vezes capitã paulista, campeã Brasileira e também é medalhista no sul-americano e um medalha de bronze no pan-americano disputado na Bolívia. A atleta também já fez uma temporada de treino na França.
“O esporte me proporciona muita noção de que você tem que batalhar muito para conseguir as coisas, ele me prepara para a vida, me faz saber lidar bem com a pressão, faz meu físico ficar bom, uma coisa muito importante é a saúde”, conta Sofia.
Já Felipe quis praticar esgrima após a Olimpíada do Rio em 2016, na qual o esgrimista italiano Danielle Garotzo foi ouro no florete. Desde então vem treinando e já viajou para Alemanha, França e Bolívia, onde disputou o pan-americano e foi ouro na categoria
“O esporte me proporcionou não só um desenvolvimento do corpo, mas da mentalidade, do espírito. Uma coisa que percebi é que quando estou bem no esporte estou bem no colégio. Então esse esporte me proporciona vários conhecimentos gerais e uma vida que eu nunca pensei que teria. Que é a vida de atleta”.
Os treinos com Betancourt acontecem de segunda à sábado durante duas ou três horas. Às vezes, acontecem de domingo também. Com atletas dos 10 aos 60 anos, o treinador possui uma rotina bem variada porém, com a crise de Coronavírus, todos os treinamentos estão sendo realizados de maneira remota.
Esgrima A esgrima é uma modalidade que está presente nas Olimpíadas desde sua primeira versão na Era Moderna, em 1896. Skirmjan, que significa proteger no vocábulo germânico, é a origem da palavra esgrima. É um esporte que descende de práticas muito antigas, passando pela Antiguidade, Idade Média e adiante. Existem registros de jogos entre espadachins no Japão de 1170 a.C. As primeiras escolas surgem a partir do século XV na Europa. A Era Moderna começa em 1700, época em que a prática começa a se globalizar com o auxílio dos movimentos de imigração promovidos pelas navegações. Os países que irão se destacar neste período são Alemanha, Itália e França. Em 1913 é fundada a Federação Internacional de Esgrima e oito anos depois, em 1921, é realizada a primeira competição mundial da modalidade. O esporte é praticado em confrontos individuais, ou em equipe, e consiste em realizar diferentes movimentos que resultem no toque da sua arma no corpo do oponente, ato no qual se pontua. Dependendo da arma utilizada (sabre, espada e florete) muda-se a modalidade do jogo e as áreas do corpo onde podem ocorrer toques.
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Esgrima no Brasil No Brasil, a esgrima começou a ser praticada na metade do século XIX, nas Escolas Militares do Império. Em 1927, a Federação Paulista de Esgrima e a Federação Carioca de Esgrima se unem e criam a União Brasileira de Esgrima, com o apoio da Liga de Desportos do Exército e da Marinha. Em 1936, o Brasil faz sua primeira participação nos Jogos Olímpicos de Berlim. Em 1937, é criado, pelo Exército, o Curso de Mestre d’Armas, inédito no Brasil e que funciona até os dias de hoje, mantendo-se como o único do país. O Brasil nunca conquistou uma medalha olímpica na esgrima e conseguiu sua primeira medalha em um mundial em julho de 2019, com a atleta Nathalie Moellhausen, pela modalidade espada do Mundial de Esgrima de Budapeste, na Hungria.
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