Maduro se apoia no exército e no abastecimento de comida para se manter no poder

A Venezuela enfrenta um governo autoritário, além de uma grave crise na principal fonte de renda para e economia do país, o petróleo
por
Vitória Macedo
|
07/06/2020

A Venezuela passa por uma longa crise política, social e econômica. Devido ao colapso, milhões de venezuelanos deixaram o país e os que ficaram sofrem com falta de comida, racionamento de água e eletricidade. Uma das grandes problemáticas foi a reeleição do presidente Nicolás Maduro,  cuja posse acabou sendo questionada por alguns países e órgãos internacionais. Após o empossamento, o presidente, em negação a sua responsabilidade nos problemas de serviços públicos, fechou as fronteiras, ato que impediu a entrada de alimentos e mantimentos. 

Mesmo com a autoproclamação apoiada pelos Estados Unidos de Juan G

uaidó, membro fundador do partido Vontade Popular e presidente do Parlamento, a tentativa de tomar o poder não foi bem sucedida com uma oposição que se mostrou desarticulada e entreguista.  Maduro continua governando com o apoio do exército e de outros fortes aliados como Rússia e China. De acordo com Gilberto Maringoni, Jornalista e Professor de Relações Internacionais da UFABC, “enquanto houver comida e o apoio das forças armadas, ele se manterá no poder”.

Crise do petróleo

Desde o início do século XX, não só e economia, mas toda a sociedade Venezuelana gira em torno do petróleo. “Se eu for resumir o que está em disputa na Venezuela é saber quem manda no petróleo”, afirma Maringoni. O minério é o único produto que o país tem para vender no mundo, um valor de 97% do valor de tudo o que exporta.  É por isso que “a Venezuela oscila como o preço do petróleo, ela cai e sobe sempre como a mercadoria. Isso deixa o país muito exposto às oscilações e ciclos da economia global”, explica o professor. 

A quase monocultura do país, além de deixar o país vulnerável aos olhos dos mercado mundial, também acomete e Venezuela de maneiras distintas e com alguns agravantes: a economia global está em contração, às vésperas de uma recessão, pelo que tudo indica com e nova pandemia do Coronavírus. Além disso, e situação de agressividade, de cerco econômico forte promovido pelos Estados Unidos.  Essas são grandes questões que impactam a economia venezuelana. 

O jornalista acredita que agora o país entrará em uma situação pior do que foi em 2014 e 2015, quando o preço do petróleo ficou por volta de 28 dólares o barril. “A perspectiva é de que o petróleo venezuelano fique abaixo de 25 dólares o barril. Para e Venezuela funcionar bem, eles precisam do barril à 160 dólares”. Ou seja, há a chance das coisas piorarem, mas até agora Maduro se mantém firme. 

A fome

Em 2013, a Venezuela era o segundo país da América latina com a maior taxa de obesidade, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Após passar por sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos em 2014, esse cenário mudou completamente em um giro de 180º. A escassez atingiu 80% dos mercados e 40% dos lares venezuelanos em 2016. 

Vizinhos em Caracas, Venezuela, abrem a cesta básica CLAP. O programa de abastecimento de comida é a principal fonte de alimento para estimados 15% de Venezuelanos.
Vizinhos em Caracas, Venezuela, abrem a cesta básica CLAP. O programa de abastecimento de comida é a principal fonte de alimento para estimados 15% de Venezuelanos. (Getty Images)

Em 2013, a Venezuela era o segundo país da América latina com a maior taxa de obesidade, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Após passar por sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos em 2014, esse cenário mudou completamente em um giro de 180º. A escassez atingiu 80% dos mercados e 40% dos lares venezuelanos em 2016. 

Devida à falta de alimentos, o governo criou os Comitês Locais de Abastecimento e Produções (CLAP), que buscam abastecer mensalmente a população. Cestas básicas com mantimentos como macarrão, arroz, açúcar, óleo de cozinha, café, feijão ou lentilhas são distribuídas aos mais pobre. O programa beneficia mais de seis milhões de famílias, o que chega a 24 milhões de pessoas em uma população de 32 milhões. A composição da cesta básica é feita a partir de importados, principalmente da Colômbia, Brasil, México e Uruguai, o motivo para variar cada mês. Isso mostra que o aparato produtivo no país é fraco e a população mal cria galinhas para se alimentar. 

O CLAP,  bem como a gratuidade do metrô na capital e da gasolina em todo o país, é uma forma de compensar o valor do salário mínimo, que chega a dois dólares. A economia dolarizada é outro ponto crítico da crise. Em 2018, e inflação de 130.000% acabou na prática com a moeda nacional. Por isso vários programas compensam o baixo ingresso da população, que teve o salário corroído. 

A luz e água são cobradas preços baixos. O programa parecido com o Bolsa Família distribui cerca de 13 dólares para população inscrita. O que realmente falta é proteína, carne. Mas, com esses programas sociais, o governo tenta se sustentar no poder. “Nosso objetivo é evitar a fome. Se não houver comida na mesa, o governo cai” declara Eduardo Pinãte, ministro do Trabalho da Venezuela, a Gilberto Maringoni. 

A normalidade nas ruas da Capital é estranha aos olhos de quem está acostumado e ver o caos de um país em ruínas representado nos telejornais brasileiros. Tudo parece relativamente bem. No entanto, Maringoni afirma que ao se afastar de Caracas, em direção ao interior, as coisas realmente pioram. A violência impera, muitos protestos acontecem e apagões também. 

O exército

 

Segundo pesquisa da Datanálise, 94,3% da população não apoia o governo de Maduro, acha e situação ruim ou péssima. É questionável então porquê ele se mantém no poder e não há sinais de que sairá tão cedo. Além de evitar a fome generalizada, Nicolás Maduro se sustenta com o apoio das Forças Armadas.  Os militares apoiam o chavismo, assim como 12,9% da população, uma massa que vai às ruas defender Maduro.

A briga pelo comando do país também se internacionalizou. Os Estados Unidos apoia e oposição e a intervenção de Guaidó, mas Maduro também recebe apoio da China e da Rússia que estão interessados no petróleo, no sistema elétrico e na venda de armamentos.

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