A inteligência artificial tem desempenhado um papel fundamental no campo do futebol ao possibilitar a melhoria dos treinos, a análise de jogadores, a identificação de padrões técnicos durante as partidas, compreensão de estatísticas e até mesmo a prospecção de novos atletas. O principal problema é a segurança e privacidade dos dados dos times, que não possuem nenhuma garantia de que não serão vazados, o que gera um sério problema ético.
A principal forma que esse sistema revolucionou o futebol foi no “scout”, a famosa sondagem de jogadores. Um bom exemplo disso são os clubes como o Milan, Benfica e Arsenal, cujos olheiros utilizam um sistema chamado de Eyeball. Em vez de voar várias vezes para assistir a jogos juvenis, os olheiros podem assistir a cada jogador em detalhes em seu laptop e conseguir informações de desempenho do atleta por meio de uma análise feita por uma inteligência artificial.
Segundo Ricardo Pombo Sales, analista de desempenho da Confederação Brasileira de Futebol e Instrutor dos Cursos de Análise de Desempenho (CBF), a inteligência artificial vem para automatizar o processo de construção das informações. “Em vez de viajar para conhecer determinado jogador, as pessoas estão ligando para pegar dados. Isso substitui o trabalho do analista? Não, isso vai facilitar. Analista para substituir esses processos manuais para gerar informação para os treinadores e seus auxiliares.”
Outro ponto importante é que as máquinas podem gerar grandes volumes de dados em tempo real, identificando padrões e gerando insights valiosos para os treinadores e jogadores. Dessa forma, a inteligência artificial se torna uma ferramenta poderosa para melhorar o desempenho esportivo, montando treinos específicos para cada atleta, criando simulações de jogo com base em informações e dados do time adversário e desenvolvendo táticas para o time dentro de campo.
Para Israel Teoldo, consultor técnico da CBF, o principal papel da inteligência artificial no futebol atual é a capacidade que o sistema tem de avaliar cada detalhe, cada aspecto do jogador dentro e fora do campo. “Tatic Up, o que essa plataforma faz ? Quando o jogador entra, ele faz uma avaliação, e nela são mostradas cenas de jogos no qual ele tem que fazer leitura do ambiente da situação e respondendo o menor tempo possível do que ele faria no lance. A máquina mostra por meio da avaliação os pontos fortes e fracos do jogador.”
Por mais que esses sistemas criem uma facilidade para os times, eles também criam um custo muito alto para serem mantidas. Ricardo diz que os custos para manter um sistema como esse são muitos caros para a maioria dos clubes do Brasil. “Depende do nível competitivo que cada equipe está e os valores que investem para obter o retorno dessas informações. Então, vejo que para as equipes que estão em alto nível, o dinheiro para manter esses dados não é nada demais.”
Um problema apontado pelo analista de dados da confederação é a limitação que as inteligências artificiais possuem. Sua maior dificuldade é a necessidade de interpretação correta dos dados durante uma partida. Ainda não se é possível ter uma análise 100% precisa de uma máquina durante uma partida, o que exige o desenvolvimento contínuo da tecnologia, aprimoramento das fontes de dados e a colaboração efetiva entre humanos e máquinas.
Inteligência Artificial para o telespectador
Marcos Biasotto, superintendente de futebol do São Paulo, explica que a inteligência artificial serve para otimizar o treinamento dos jogadores e até mesmo prever lesões. “Por meio dos sistemas que nós usamos, é possível avaliar o rendimento do atleta durante o jogo e até mesmo criar um padrão de treinamento para determinado atleta, otimizando o treinamento pelas características dele e a posição em que joga. Sem contar que avaliamos a saúde do jogador e que podemos até mesmo prever uma fadiga do mesmo.”
Fora das quatro linhas, as inteligências artificiais vem revolucionando o futebol da maneira como o telespectador vê o jogo, como por exemplo nas transmissões. A empresa israelense, Pixellot, possui um sistema que é capaz de identificar a bola, os jogadores e a área do campo em que o lance acontece. Assim, ela produz cortes, zooms e acompanha o movimento do jogo sem a ajuda de um cinegrafista.
Muitos aplicativos são utilizados por empresas para que o torcedor possa acompanhar algumas medidas do futebol em tempo real com o seu celular. Segundo Israel Teoldo, consultor da CBF, todos os dados que aparecem na televisão durante uma partida são gerados por uma inteligência artificial. “ Por exemplo, qual a velocidade que o jogador deu naquela corrida, o ângulo da bola, quais eram as opções de passe, qual foi o deslocamento do jogador. Tudo isso é gerado por computadores”.
Proteção dos Dados
Em meio ao avanço da inteligência artificial no futebol, questões relacionadas à proteção de dados se tornam mais relevantes. Para Israel, "a gente tem que aprender a lidar com a tecnologia a nosso favor". A preocupação com a utilização ética e confiável dos dados é compartilhada por especialistas como o analista Ricardo Pombo Sales.
Sales destaca a importância de abordar essas questões para preservar a privacidade dos jogadores e garantir benefícios para o esporte. No atual cenário, existem diversas plataformas que fornecem informações detalhadas sobre jogadores, contratos e suas vidas pessoais, e é fundamental discutir meios de proteção e ética no uso desses dados na inteligência artificial aplicada ao esporte. O objetivo principal é que as informações não sejam utilizadas de forma punitiva, mas sim para aprimorar o desempenho dos atletas e contribuir para o desenvolvimento das equipes.
Nesse sentido, é crucial estabelecer estruturas que garantam a segurança dos dados, evitando vazamentos e assegurando que apenas pessoas autorizadas tenham acesso às informações, em conformidade com as leis e regulamentações vigentes, como a Lei de Proteção de Dados. A utilização ética e confiável da inteligência artificial no futebol visa promover o bem-estar dos jogadores e o crescimento do esporte como um todo.
Para Fernando Monfardini, Compliance Officer e responsável pela proteção de dados do Atlético Mineiro, comenta que a LGPD é aplicada no clube do mesmo jeito que uma empresa e que ela abrange desde jogadores até torcedores. “Temos que cumprir todas as obrigações legais no tratamento de dados pessoais de colaboradores, jogadores, funcionários, sócios, torcedores, patrocinadores e clientes.” A LGPD abrange qualquer tipo de tratamento de dados pessoais, independente de quem seja seu titular, portanto há a preocupação com os dados pessoais de todas as pessoas envolvidas, afirma.
Monfardini finaliza explicando as medidas que os clubes devem tomar para garantir a conformidade com a LGPD. “Ter um programa de privacidade formalizado por políticas que expliquem cada passo do programa e as responsabilidades dos Clubes, fazer um mapeamento dos dados pessoais tratados nos processos do clube, entendo a forma de coleta, finalidade do tratamento, os dados pessoais tratados, a classe dos titulares (torcedor, funcionário, sócio etc). Ele ressalta que a segurança da informação não é apenas uma questão de tecnologia, mas passa pela segurança física, as pessoas e os processos.
Conexões Democráticas entre Jogadores e Clubes
O app Chronus Sports, da Mooh!Tech, tem como objetivo juntar dirigentes de clubes, empresários, jogadores profissionais e amadores, tudo no mesmo lugar. Pelo aplicativo, os membros do clubes podem acessar análises sobre a imagem pública dos jogadores, relatórios técnicos, a condição física e mental do atleta e a sua rotina.
Everton Cruz, CEO da Mooh!Tech, explica que o sistema tem como objetivo profissionalizar o futebol, tornando mais democratico a ponte entre os jogadores e as instituições. Tudo isso protege os dados dos atletas, que são confidenciais, apenas o usuário e o clube que possuem acesso a tais informações. "Eu acho que melhorou o trabalho, melhorou o trabalho para todos nós, clube, jogadores, parte técnica, para todos. A gente só tem que aprender a lidar com a tecnologia a nosso favor."