Ilusão nas Bets provoca vício em apostas

A luta contra o vício em apostas esportivas revela os desafios emocionais e sociais que muitos enfrentam em busca de uma ilusão de sucesso.
por
Pedro José de Oliveira Zolési
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29/05/2025

Por Pedro José Zolési

 

Na zona sul de São Paulo, a vida de Lucas Cordeiro é marcada por uma paixão que acabou se transformando em vício, as apostas esportivas. Criado em um ambiente de família que gosta muito de futebol, ao completar 18 anos se deixou seduzir pela promessa de dinheiro fácil, entrando em um lugar sem volta, onde a adrenalina das apostas se tornou um refúgio para suas frustrações diárias.Com a esperança de mudar sua vida, já perdeu mais de R$50 mil em jogos, um valor que representaria um sonho realizados para milhões de brasileiros.  Sua trajetória nesse mundo começou de maneira despretensiosa, em noites de quarta feira assistindo jogos de futebol com amigos. Ele comentava sobre as chances de vitória de seus times e vivia a emoção da torcida, mas, com o tempo, a diversão se transformou em uma obsessão. As apostas, que antes eram apenas uma forma de entretenimento, passaram a dominar seus pensamentos e suas ações. 

Cordeiro pensava que tinha todo conhecimento sobre futebol e que cada aposta perdida era somente um erro em seu percurso, mas com o passar dos anos as dívidas começaram a acumular e alguns laços de família foram se desgastando. Ele ficou preso em um ciclo vicioso. Momentos que antes eram de alegria se transformaram em estresse, e para cada aposta perdida surgia a necessidade de uma nova aposta para tentar recuperar o prejuízo. Sua saúde mental começava a desgastar.

A situação dos jogos de azar estão em pauta até na Justiça, como é o caso da influenciadora Virginia Fonseca que durante sua participação na CPI das bets, comissão instalada em novembro de 2024, foi investigada sobre a influência  de apostas online na vida financeira das famílias brasileiras e o papel dos influenciadores na promoção dessas plataformas. Durante o depoimento, ela se negou a comentar sobre valores recebidos de empresas de apostas, afirmando que sua fortuna milionária se deve ao sucesso de sua marca de cosméticos, a Wepink. Em razão disso o Senado aprovou a proibição de publicidade envolvendo atletas, artistas e influenciadores digitais.

Carlos Eduardo Carvalho Freire, psicólogo e professor do curso na PUC-SP, explica que o vício de apostas surge como uma resposta a experiências adversas, a necessidade de escapar da realidade pode levar pessoas a buscar conforto em atividades que oferecem ilusão de controle e sucesso. A compulsão se origina de situações difíceis e que, para muitos, a aposta pode parecer uma forma de proteção em tempos de crise, mas acaba se transformando em uma armadilha. Lucas lidava com a pressão de um emprego instável e as dificuldades financeiras da família, o que o levou a buscar nas apostas uma forma de lidar com a insegurança. 

Freire destaca que o futebol, profundamente arraigado na cultura do Brasil, intensifica essa conexão. A paixão pelo esporte faz com que as apostas sejam percebidas como um prolongamento natural da torcida, onde a chance de lucrar torna-se atraente. Isso estabelece um cenário onde o hábito de apostar é naturalizado, particularmente entre os jovens, que são seduzidos pela perspectiva de obter riqueza rápida.

Além disso, nota que as plataformas de apostas online, que cresceram consideravelmente nos últimos anos, simplificam o acesso e a prática das apostas, o marketing agressivo e a capacidade de apostar com apenas um clique tornam a atividade ainda mais apelativa, e muitos jovens desconhecem os perigos inerentes. Ele iniciou fazendo apostas modestas, mas rapidamente se viu imerso em apostas cada vez mais elevadas, na tentativa de recuperar perdas e assegurar lucros.

A narrativa de Lucas ilustra a luta interna que muitos jovens experimentam, o peso das expectativas e das frustrações se torna insuportável, e a busca por um alívio momentâneo nas apostas pode levar a um ciclo de dor e arrependimento. O psicólogo cita a importância de buscar ajuda e reconhecer que a verdadeira salvação não está nas apostas, mas em enfrentar as dificuldades de forma saudável e consciente.

As perdas financeiras trazem um impacto emocional profundo. Lucas, como muitos apostadores, sente vergonha e culpa, sentimentos que se somam à pressão social e econômica. Esta combinação pode resultar em estados de depressão e solidão, tornando ainda mais desafiador procurar auxílio. Ações de sensibilização estão começando a aparecer, porém ainda são insatisfatórias. Entidades e coletivos de suporte tentam conscientizar sobre os perigos das apostas, contudo, a cultura do futebol e a procura por ganhos rápidos continuam a atrair novos adeptos das apostas. É crucial que a sociedade e as instituições educacionais discutam o assunto, fomentando discussões e esclarecimentos acerca dos riscos do vício em apostas.

A luta de Lucas ilustra a realidade de uma nação que vive do futebol, onde o desejo de enriquecer rapidamente pode se tornar um tormento, a dependência de apostas não é apenas um problema individual, mas um desafio social que necessita de atenção e entendimento. Esta ponderação é fundamental para evitar que mais jovens caiam em uma ilusão que pode levar a consequências devastadoras. 

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