Por Gabriela Thier
Não eram nem 6 horas da manhã quando na frente do Allianz Park mais de 50 pessoas já estavam presentes. Elas acordaram antes do sol com a esperança de ficar o mais perto do palco possível. Os fãs que se acomodavam na fila tinham consigo comida, água, guarda-chuvas e até cadeiras, coisas que teriam que jogar fora antes de entrar no estádio, mas valia a pena para sobreviver às próximas 10 horas até a abertura dos portões. O ato de ser fã é definido no dicionário como uma admiração a uma figura pública, já na psicologia como uma paixão ou lealdade, mas quando se está na posição de fã pode ser muito difícil entender porque aquele estranho te afeta tanto, nem sempre só a obra, mas existência da pessoa atrelada a mensagem que ela passa, desperta memórias e emoções que podem mudar a vida do (a) admirador (a), ou no mínimo marcar um momento de sua trajetória.
O show que por volta das 7 da manhã já acumulava mais de 100 pessoas com pulseiras numeradas na fila da pista premium, era o do ex-Beatle, Paul McCartney, que ocorreu no último dia 15 de outubro em São Paulo. Para muitos, a beatlemania pode ser descrita como o maior exemplo de amor fanático da história. Tendo sido os primeiros os músicos a lotar um estádio (Shea Stadium, 1965) os Beatles tiveram seu público, que na época era composto em maioria por meninas adolescentes, descrito como histérico, fanático e escandaloso, que fazia de tudo para tentar chegar perto, ser visto e até conseguir alguma lembrancinha como uma mecha de cabelo cortada do Ringo. Porém, com o passar dos anos e o fim da banda, a beatlemania passou de um surto para um grande fenômeno cultural do século XX que mudou para sempre o modo como se produz e consome música.
Qualquer que seja a definição, o fato é que o sentimento de quem está prestes a ver o ídolo em um estádio não mudou muito nesses quase 60 anos. Não é a primeira vez vendo um beatle para a maioria dos presentes na fila, Sandra e Sara, mãe e filha adolescente, vieram ao show do ano anterior, a mãe dizia que a filha de 15 anos é muito mais fã do que ela, outros na fila, que tinha pessoas de todas as idades, afirmaram já ter visto Sir Paul McCartney mais de cinco vezes em países diferentes. Para essas pessoas não importava já terem assistido a apresentação, já que segundo eles, você não está ouvindo ‘Hey Jude’, mas Paul McCartney tá cantando Hey Jude pra você, você tá cantando com ele, é Ele! O cara dos posters! Ele não é um desenho da Disney! Ele tá lá! É um beatle de verdade! Eu vou ver ele na minha frente! E vou fazer ele olhar pra mim!
Depois de 10 horas de espera com atrasos, começa a corrida em direção ao palco, ignorando todas as orientações dos bombeiros. Uma vez de frente com o palco, são um pouco mais de 4 horas de espera para o espetáculo, não dá mais para ir ao banheiro, a não ser que você esteja disposto a perder o lugar pelo qual teve gente que levou tapa para conseguir. Nessa última espera, o público vibra a cada sinal de vida no palco e fora dele também, como quando Milton Nascimento apareceu em meio ao público, ou quando algum membro do ‘staff’ do ex-beatle subiu ao palco para afinar o baixo Hofner tão famoso quando quem o toca.
Passando das oito da noite chega o momento que todas aquelas pessoas suadas, com os pés doendo, com fome e vontade de urinar estavam esperando, o beatle sobe ao palco! A multidão grita de emoção, imediatamente começando a cantar From me to You, a Hard Day 's Night, Love me Do, Maybe I’m Amazed, Let me Roll it, Jet, Get Back e finalmente Hey Jude, além de outras composições marcantes do artista.Três horas depois o show acaba, o artista se despede com um 'até a próxima', a sensação que fica é de surrealismo, as pessoas se dirigem às lojinhas, ao banheiro e ao metrô completamente exaustas, doloridas, algumas descalças com os pés machucados e tudo parece um sonho. Valeu a pena, dá vontade de ir de novo.