Por Maria Eduarda Camargo
As manhãs começam com a limpeza do salão, a contagem das mesas e a checagem do estoque para a preparação dos pratos no restaurante. A mãe de Fábio geralmente fica no caixa e deixa a cozinha e o atendimento para ele e para a irmã mais velha, Milenna. Ter trabalhado desde criança atendendo as diversas mesas do pesqueiro que a família é dona há mais de 30 anos era algo comum, já que a mãe, o pai, a irmã, e até os primos, vez ou outra, faziam o mesmo no “Pesque e Pague do Japonês”, localizado na saída de Olímpia, cidade turística localizada no interior de São Paulo.
Já Fábio fica normalmente no processo de servir as mesas e organizar os clientes. Para tal tarefa, inventou um esquema para que as mesas externas do local e as porções e cervejas pedidas durante o dia inteiro pelos clientes que pescam e comem fossem contabilizados de maneira correta. A batalha naval, brincadeira infantil de muitos, foi a inspiração: eles utilizam de referências como o lago de pesca, as árvores, a caixa d’água, os bancos do parquinho e o galinheiro para cruzar as informações das mesas e numerá-las, mesmo que se movam de lugar e tenham os guardanapos retirados. Ele brincava com o cruzar de informações e fazia as mesas de barcos quando atendia. Hoje, já longe de casa, Fábio trabalha com o desenvolvimento de softwares e com programação, tarefas que relembram esse tempo.
A irmã Milenna, seis anos mais velha, fez Administração, mas hoje já também não cuida diretamente dos negócios da família fazendo apenas a contabilidade do local. Os filhos, que atualmente já saíram da cidade, ainda fazem parte do quadro de funcionários durante as férias e os períodos de festividade. É meio agridoce, já que o trabalho começa cedo e acaba depois das 22h00min, mas conhecer os clientes ajuda na rotina. Grande parte dos pedidos já entra na cozinha quando os clientes sentam na mesa, já que pedem sempre as mesmas coisas, do mesmo jeito, por alguns anos que já não fazem parte da conta.
O local é uma lembrança muito comum para muitas famílias da cidade. Elisa Braga, descendente de japoneses que também mora em Olímpia, levava com os filhos e sobrinhos, ainda pequenos, no tal do Pesque e Pague do Japonês, quando comprava algumas raçõezinhas, picotando-as e esmigalhando com as mãos para que as crianças as oferecessem aos peixes. O filho mais velho, Rodrigo Braga, era e ainda é frequentador do local.
No Dia dos Pais, o local também era palco das comemorações de diversas escolas, que faziam dias ao ar livre com os pequenos e ofereciam um dia de pesca para os pais. Colocavam atrações como personagens fantasiados, algodão doce e passeio de trenzinho para que as crianças brincassem até a noite entre as luzes do parquinho. Fábio, um garoto mirradinho mas extrovertido, estava sempre presente nas brincadeiras do parquinho. Quando as famílias iam aos fins de semana, ele se sentava com outras crianças na frente do ventilador enquanto tomava uma “Moreninha”, sorvete de casquinha passado no chocolate, que era vendido no estabelecimento, para desvencilhar o calor de correr entre os lagos de pesca e solta de tilápias.
Mas não se engane com a alta temporada e a vinda dos turistas na cidade: a clientela do local é quase que totalmente formada pelos olimpienses e pelos moradores das cidades nos arredores. Para a família Seyji, é muito mais incomum ver clientes novos do que os costumeiros “de sempre”, que semanalmente consomem os pratos feitos de peixe.
A avó de Fábio e Milenna, Dona Igarashi, servia, quando o restaurante tinha menos clientes, alguns pratos japoneses que trouxe quando saiu de Osaka, cidade meio que vizinha de Kyoto, com a filha, ainda pequena. Mas não vieram para Olímpia logo de cara, muito pelo contrário. Estiveram no norte do País, onde a mãe de Fábio conheceu o marido, e decidiram tentar a vida na região sudeste. Alguns dos pratos servidos eram sashimis de peixe branco e tilápia, peixe cozido no vapor, ovos marinados, omeletes japoneses,- que são cozidos no vapor, junto de molho de soja, cebolinha e katsuobushi, que é o peixe bonito seco e ralado.
Entretanto, a falta de clientela que preferisse o peixe cru às famosas manjubinhas e filezinhos de tilápia fritinhos com batatas e o pirão com arroz, feijão e vinagrete, retirou os pratos tipicamente japoneses do cardápio. É verdade, para alguns que gostam dos pratos, em especial a outros descendentes de japoneses que residem na cidade e que não gostam do abrasileiramento do sushi como hot roll e os rolinhos com cream cheese, a família ainda abre exceções e produz de maneira tradicional os adorados pratos típicos.
Para famílias como a de Fábio, a de Elisa, entre outras, o Pesque Pague do Japonês é muito mais do que um restaurante em que passam os fins de semana. É manter as tradições dos locais e de quem faz parte da história e cultura de Olímpia, entre um anzol e os lagos de peixes.