Por Ester Taragona
Existe hoje uma geração marcada por diagnósticos que refletem problemas com a saúde mental. Ansiedade, depressão, TDAH, Burnout. Há nomes para quase todos os transtornos e comprimidos também. Nunca se falou tanto sobre saúde mental, nunca se medicou tanto. E isso, em muitos casos, é uma conquista: reconhecer que o sofrimento tem nome, que tem tratamento, que não é frescura. O remédio, às vezes, salva.
Em meio a essa medicalização crescente, talvez seja hora de lembrar que o corpo também é um lugar de cura. Que o movimento pode ser um aliado poderoso — não como substituto mágico, mas como complemento ou até, para alguns, uma alternativa possível.
O psicologo Renan Skerlak diz que o corpo e a mente andam juntos, e o corpo tem a necessidade de se movimentar para a mente ficar bem. É possível se estabilizar a partir de endorfina e exercícios na verdade é necessarío.
Para Aliana, o exercício virou uma alternativa melhor que a medicação. Ela não se adaptou ao uso dos remédios e, ao começar a se sentir mal, acabou — mesmo sem indicação médica — parando de tomá-los por conta própria. Em busca de algo que pudesse melhorar sua saúde mental, iniciou uma rotina na academia como forma de autocuidado. O que ela não esperava era tomar gosto pela atividade. Seu primeiro dia depois de começar a ir na academia, ela que tinha insônia e só conseguia ir dormir 2h/3h da manhã conseguiu dormir a noite inteira e ter uma boa noite de sono.
Ela tem 24 anos, mora em Recife e trabalha como tatuadora e artista. Na adolescência, praticava muitos esportes, mas com a vida adulta e sua profissão, acabou ficando sedentária por muitos anos. Hoje em dia, o treino faz parte de sua rotina — ela só consegue começar o dia depois de ir à academia. Apesar disso, reconhece que fala de um lugar de privilégio, pois pode escolher seus horários e treinar frequentemente, ao contrário de sua irmã, que trabalha, estuda e não tem tempo para se exercitar.
Por conta de um relacionamento traumático, Aliana teve, durante anos, uma forte trava com academias. Esses espaços, segundo ela, ainda não são muito acolhedores, especialmente para quem está emocionalmente fragilizado — e isso pode gerar muito medo no início. Mesmo assim, ela decidiu enfrentar os traumas e ir em frente.
Uma parte muito importante para ela também foi começar a postar nas redes sociais sobre sua rotina de treinos e refeições. Compartilhar isso permitiu que ela incentivasse outras pessoas e abrisse espaço para conversas necessárias. Se tivesse tido alguém assim antes, talvez tivesse se sentido encorajada a superar o medo mais cedo. No começo, ela optou por não postar sobre isso no perfil profissional, mas depois quis mostrar que era real — e que é possível usar sua vivência para inspirar outras pessoas e mostrar como o cuidado com a saúde mental é importante.
Se priorizar no cuidado com a mente, segundo ela, vai além do treino físico — a terapia também segue sendo essencial. Aliana acredita que, se as academias focassem mais suas propagandas na saúde mental, e não apenas na estética ou na força física, poderiam alcançar muito mais gente. Para ela, a academia virou um espaço de alívio, e a força foi uma consequência.
Hoje, ela não faz uso de medicamentos, mas sente que a academia salvou sua vida em um momento muito frágil. Com apenas três meses de prática, já percebe uma grande diferença no dia a dia e relata ter menos crises do que antes.