Por Rodolfo Dias
O dia gelado ditava um tom tímido nos cantos dos pássaros. O vento corria procurando os corajosos que estavam dispostos a enfrentar aquele clima atípico nas ruas de Osasco. No coração da vila São Francisco, na praça Enedina Rosseti, todo segundo sábado dos meses é montada uma feira ao ar livre que atrai todo tipo de vendedor ou comércio. Uma das corajosas era Rosa Fernandes que levava consigo seu "fiel escudeiro": o chá de camomila, que aquece nos momentos frios como aquele sábado de manhã. Ela preparava calmamente seu espaço de trabalho, suas velas aromáticas feitas em sua própria casa era o carro-chefe das suas vendas e eram elas que davam a feirante a tranquilidade para explorar a venda de outros produtos.
Terminada a exposição da mercadoria principal no meio de sua bancada, dava uma golada no chá para repor as energias, à direita e a esquerda das velas, Rosa começara a posicionar suas ervas, saquinho por saquinho a vendinha tomava forma. Mais uma golada no chá. Eram medicinas poderosas dizia. Contava que muita gente faz delas o suporte necessário da rotina pesada, e eram elas que muitas vezes transformavam o dia das pessoas, dando disposição para levantar da cama, tratando de alguma indigestão ou então auxiliando na hora de dormir.
As ervas fazem parte da família Fernandes há mais de três gerações, chamada por sua vó de "milagrosas" e por sua mãe de "medicinais", hoje para Rosa são essenciais, mostrando sua garrafa de chá de camomila, explica todos os benefícios do seu consumo enquanto me serve uma xicara da bebida. Apesar do entusiasmo e do conhecimento vasto no assunto, a feirante assume certa dificuldade na venda destas ervas atualmente, o seu consumo diminui junto com a cresça de que um punhado de plantas podem fazer "milagre" no corpo ou que seu consumo pode transformar a maneira de se enxergar a vida.
A afirmação é amplamente debatida por "Dona" Zilda como prefere ser chamada, na sua rotina cotidiana. Desempregada desde 2017, usou seus conhecimentos de 36 anos em comércios para abrir vendinhas de "produtos medicinais feitos da terra" que rodam São Paulo a procura de novos clientes e com sua experiência, mantêm suas vendas altas sem apoio externo. Apesar de ter sua loja própria no centro de Osasco, faz divulgação de seus produtos entre feiras e praças, para ela o caminho certo é simples, mostrar para as pessoas a capacidade da medicina da terra, é necessário sentir, gostar de usar e entender o que você está consumindo.
Enquanto conversava ouvia-se alguns sinos dos ventos e o balançar de suas samambaias suspensas que davam um toque especial para a loja, Zilda gostava de transmitir a sensação de paz para cada possível cliente que entrasse em seu estabelecimento e por conta disso as vendas não eram complicadas. Para ela o poder das ervas podia ser sentido por qualquer um e se mostrar de maneiras exclusivas. Ela vendia camomila para a produção de chás e sugeriu em seu preparo a adição de limão, para o fortalecimento do sistema imunológico.
Para Zilda e Rosa a crença no produto é essencial, não no que ele pode fazer, mas no que ele é. A sua utilização no dia a dia desperta no indivíduo certa responsabilidade com o seu próprio corpo e com aquilo que é consumido. Como exemplo, temperos utilizados para dar sabor em refeições como alecrim e hortelã são benéficos quando tratados e ingeridos como medicina, ervas como essas nos mostram a riqueza da terra e a simplicidade do que pode ser feito com os recursos naturais. Para aqueles que se apoiam e seguem esta espiritualidade, a conexão entre os componentes físicos, químicos e psíquicos desintoxica, cura e trás paz, em muitos casos a natureza tem um teor místico e inexplicável que prova, sem precisar convencer o poder da terra.