O tema ESG está em evidência no mercado financeiro e, consequentemente, é de extrema importância para o mundo dos negócios. Segundo o Google Trends, as pesquisas pelo termo crescem exponencialmente desde abril de 2020.
A sigla corresponde a Enviromental, Social and Governance e contempla critérios relacionados a aspectos ambientais, sociais e de governança corporativa. Esse tema é uma grande preocupação entre os executivos de empresas de todos os tamanhos e segmentos. Companhias que não se preocupam com o mundo a seu redor são cada vez mais vistas como problemáticas por consumidores e investidores.
Uma empresa só está alinhada aos critérios ESG ao adotar práticas relacionadas a seus 3 pilares, como:
Meio ambiente
- Controle de emissão de poluentes
- Consumo de recursos naturais de forma responsável
- Respeito às normas ambientais
- Avaliação ambiental de fornecedores
Sociedade
- Condições de trabalho adequadas
- Boa relação com as comunidades do entorno
- Políticas de respeito aos direitos das minorias
- Representatividade, inclusive nos cargos mais altos
Governança corporativa
- Ação com ética e transparência
- Conselho de administração independente
- Consulta a stakeholders em processos decisórios
- Práticas anticorrupção
Uma empresa ESG contempla em seus processos decisórios não apenas seu bem-estar financeiro, mas também de seus colaboradores, fornecedores, clientes e até do governo de seu país.
Como existe um custo para a implementação de políticas de boa governança, na utilização de energias renováveis e no cumprimento de outros aspectos de sustentabilidade, muitas pessoas acreditam que as empresas que adotam essas práticas não conseguem lucrar tanto quanto conseguiriam se visassem somente o capital.
A ideia, porém, está comprovadamente equivocada. Um estudo feito pelo professor Robert Eccles, da Harvard University, mostrou que empresas que apostam em sustentabilidade obtêm melhores retornos a longo prazo.
O estudo acompanhou 180 empresas, ao longo de 18 anos, levando em conta diversos parâmetros financeiros, como patrimônio e valor de mercado. As companhias eram divididas em 90 duplas, de acordo com o segmento de atuação, e cada dupla possuía uma empresa que prezava por sustentabilidade e outra que não.
Analisando o desempenho dessas empresas ao longo do tempo, Eccles concluiu que as empresas de alta sustentabilidade superaram as suas adversárias no longo prazo, não apenas em relação ao mercado acionário, mas também no desempenho contábil.
A Ágora Investimentos divulgou em 2020 um estudo que comprovou que a adoção de uma agenda ESG traz impactos positivos que vão além da lucratividade — a melhora da reputação e, consequentemente, diversas vantagens competitivas são consequências desse comportamento.
Isso ocorre porque as empresas que respeitam os critérios ESG conseguem pensar a longo prazo e agir considerando todos os seus stakeholders — ao respeitar seus fornecedores, estabelece relações contínuas e evita descontinuidade no fornecimento; ao pensar no bem-estar de seus colaboradores, conseguem atrair os melhores talentos etc. Com isso, conseguem encantar seus clientes, obter mais fidelidade e assim por diante.
Sendo assim, por que será que muitas pessoas ainda acreditam que priorizar questões relacionadas à sustentabilidade diminui a lucratividade de uma empresa?
De acordo com Fabio Alperowich, especialista em ESG, esse equívoco se dá por 3 principais motivos:
“Isso vem primeiro de uma distância muito grande entre os investidores, o mundo corporativo, e questões de direitos humanos, meio ambiente etc.
Segundo de um antigo capitalismo, do capitalismo de shareholder que pensava puramente na maximização dos resultados, sem levar em consideração fatores externos e os demais stakeholders. Um artigo de Milton Friedman em 1970 falava que a função social das empresas era a maximização de lucros e isso influenciou muita gente, mas essa filosofia já está muito ultrapassada.
Em terceiro lugar as questões ESG são muitas vezes compreendidas de forma errônea, como se fossem algo filantrópico. Um olhar em relação a determinadas causas é visto como papel da filantropia e não do investimento. Como a filantropia não dá retorno financeiro, as pessoas fazem essa associação totalmente errônea.”
Fabio Alperowitch (Foto: Silvia Costanti / Valor)
Alguns casos mostram o quanto as empresas que desrespeitam critérios ESG sofrem graves consequências. O exemplo mais extremo é o da mineradora Vale, que perdeu mais de R$ 72 bilhões em valor de mercado após o rompimento de sua barragem em Brumadinho matar 270 pessoas e causar um dos maiores desastres ambientais da história.
A indústria de carvão, uma das mais poluidoras do mundo, também sofre por sua irresponsabilidade ambiental. Enquanto múltiplos de empresas de carvão desabam, diversos países já anunciaram que irão proibir investimentos em novas usinas desse tipo. Segundo Fábio Alperowitch, esse tipo de boicote deve acontecer com todos os combustíveis fósseis em breve.
Enquanto isso, a Ambev, empresa que possui a 14ª maior receita líquida do Brasil, destaca-se por seus investimentos em sustentabilidade. São mais de R$ 500 milhões utilizados para recuperação de nascentes de rios e florestas e R$ 150 milhões em combate à covid-19.
Em 2021, a empresa já adquiriu mais de R$ 15 milhões em produtos e serviços de empresas comandadas por pessoas negras. A meta é dobrar esse valor em 2022, como parte de uma série de iniciativas de inclusão e diversidade que estão em curso.
Com o fracasso de empresas de baixa sustentabilidade e o enorme sucesso de empresas ESG, fica cada vez mais evidente que a dicotomia entre rentabilidade e sustentabilidade é falsa.
A vantagem competitiva das empresas ESG tende a seguir crescendo. Cada vez mais pessoas veem as empresas como agentes transformadores da sociedade, que podem contribuir na solução de desafios globais, e o consumo consciente torna-se uma tendência mundial.