Destino improvável é combustível para os sonhos da Joia do Interior

Caskinha como personagem vital da ascensão do Votuporanguense no cenário futebolístico nacional.
por
Vitor Coelho
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18/11/2024

Por Vitor Coelho

 

Em Votuporanga, uma cidade do interior de São Paulo, o ritmo é marcado pelo silêncio de suas ruas largas e tranquilas. Com pouco mais de cem mil habitantes, o município se esconde entre os vastos campos da região, onde o progresso caminha lentamente e o crescimento muitas vezes é invisível. Não há a megalomania das grandes metrópoles, nem o brilho das capitais que se destacam por suas imponentes promessas de um futuro grandioso - seja qual for o seu âmbito. Ali, a vida segue sem pressa, mas, ao mesmo tempo, a cidade vive à sombra de um sentimento constante de esquecimento, onde as questões locais se dissolvem nas discussões maiores que dominam o cenário nacional.

Para Votuporanga, ser ouvida nas conversas Brasil a fora e alcançar relevância nas mais diferentes esferas é uma luta árdua. Com poucos recursos e uma população modesta, a cidade se vê distante dos holofotes que iluminam os grandes centros. Em um Brasil onde o poder parece se concentrar em poucas capitais, a voz das pequenas cidades se perde na imensidão. Falta investimento, visibilidade e um lugar nas grandes decisões.

Mas é justamente nesse limiar, onde as grandes massas não alcançam, que as cidades como Votuporanga buscam reinventar-se. Edilberto Fiorentino, conhecido como Caskinha, exerce um papel fundamental para reverberar o nome da "joia do interior" no imaginário do brasileiro.

Edilberto não imaginava que o futebol de Votuporanga tomaria tal direção em sua vida. Morador da cidade, com uma carreira consolidada na iniciativa privada, foi no momento de necessidade do Clube Atlético Votuporanguense que ele se viu chamado a assumir a Presidência do time.

Em 2017, o clube enfrentava desafios financeiros e administrativos, e a falta de liderança estava deixando seu futuro em risco. Foi então que Caskinha, com um espírito de paixão pela cidade, decidiu aceitar o convite. Não era um caminho fácil, mas era uma oportunidade de devolver à sua terra natal algo que sempre fora símbolo de orgulho local: seu time de futebol.

Ao assumir o cargo, ele não chegou como um aventureiro, mas sim como um gestor competente, que busca fazer do sonho um foco de felicidade. Sua experiência no setor empresarial o fez entender que o clube não precisava apenas de um presidente, mas de um líder que soubesse equilibrar paixão e estratégia.

A tarefa, que dividia ações de empresário e torcedor, eram realizadas com o máximo que a capacidade financeira do CAV permitia - e ele sabia que era responsável, também, por isso. Mas foi sob sua liderança, que o clube não só passou a organizar suas finanças e a estruturar melhor sua administração, como também se reposicionou na disputa de competições, entre elas, o foco principal dessa história, a Copa do Brasil.

O caminho do CAV até a Copa do Brasil de 2025 foi cheio de reviravoltas e surpresas, mas, acima de tudo, marcado pela persistência de um clube que se recusa a desaparecer nas sombras. O time chegou à final da Copa Paulista com grandes expectativas, não só para levantar o troféu, mas para garantir sua vaga na competição nacional, um sonho que parecia ao alcance - algo fora da realidade de um clube periférico. Porém, a derrota na decisão foi um golpe duro para jogadores e torcida, que ficaram com o amargo sabor da chance perdida. Mas, como o futebol costuma surpreender, essa derrota acabou abrindo a porta para uma conquista inesperada.

Sob sua liderança, o Votuporanguense vinha se reerguendo, tanto na parte administrativa quanto no aspecto técnico. Com sua visão estratégica e seu amor pelo time, Caskinha nunca deixou de acreditar que o Votuporanguense merecia mais. Mesmo após o revés na final, ele sabia que havia outra oportunidade pela frente. E, num giro inesperado dos acontecimentos, a CBF abriu uma “brecha” no regulamento: o time, por figurar entre os clubes com pior classificação no ranking nacional, conquistou sua vaga na Copa do Brasil de 2025, não pela taça da Copa Paulista, mas por um critério pouco usual, mas essencial para premiar equipes fora do radar dos torneios de maior porte.

A notícia da classificação indireta, apesar do baque inicial, foi um alívio para Caskinha e toda a cidade. Embora a vitória na Copa Paulista tivesse escapado, a vaga na Copa do Brasil representava uma conquista histórica para o clube. O Votuporanguense, que sempre esteve distante dos holofotes, agora teria a chance de competir com os gigantes do futebol nacional. Para ele, esse momento foi um reconhecimento de todo o esforço de sua gestão, que acreditava que o clube, mesmo sem grandes títulos, tinha o potencial para estar entre os grandes. Ele sabia que a participação na Copa do Brasil seria uma vitrine importante, não só para o time, mas também para a cidade, que, pela primeira vez, veria seu clube jogando uma competição de expressão nacional.

Caskinha ao lado de outros executivos do CAV

A classificação, mesmo que por caminhos indiretos, trouxe uma renovada energia para todos. Para os jogadores, será a chance de mostrar seu talento e se fazer notar em um cenário de maior visibilidade. Para a torcida, a certeza de que até nas derrotas é possível encontrar novos começos. E para Edilberto, a validação de sua crença de que, com muito trabalho e visão de futuro, não há obstáculo grande demais. Com o apoio da torcida e a determinação de sua liderança, o CAV agora se preparava para um novo capítulo da sua história, e a Copa do Brasil de 2025 será o palco onde a cidade de Votuporanga terá sua chance de brilhar no cenário nacional.

Às vezes, a derrota se transforma no combustível que alimenta o desejo de vitória. Em Votuporanga, esse paradoxo se concretizou no momento em que o clube perdeu a final da Copa Paulista, mas conquistou, sem querer, o maior feito da sua história recente: a vaga na Copa do Brasil de 2025. Para muitos, poderia parecer um golpe amargo, mas, na verdade, foi o ponto de virada que revelou o caminho para o grande sonho do clube. O revés foi o combustível necessário para reacender a chama da luta, e, dessa forma, o que parecia um fim, tornou-se o começo de um novo capítulo. A derrota não foi o fim, mas um passo necessário para que o time alcançasse o que, até então, parecia impossível.

Como em toda grande história, o futebol ensina que o caminho para o sucesso não é linear, mas feito de altos e baixos, de vitórias e derrotas que se entrelaçam e nos fazem mais fortes. O que parecia ser um obstáculo se transformou em uma alavanca para o futuro, e, com o trabalho de Caskinha e a paixão de seus jogadores e torcedores, o clube agora se prepara para escrever um novo capítulo na história do futebol brasileiro, ou melhor, da "Joia do Interior".

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