Flavia Cury (audiovisual) e Sara Gouvêa (texto).
Em um dia cheio no trabalho, o estagiário Andre Nunes, de 21 anos, começou a escrever um simples e-mail e ficou com a visão turva, essa era sua primeira crise de Burnout, uma síndrome que evidencia o esgotamento profissional. Ao ir em uma consulta, foi diagnosticado e apesar da carga excessiva de trabalho que fazia diariamente, nunca pensou que seria acometido por causa da sua pouca idade. Mesmo sabendo os sintomas e a possibilidade, a ideia de tão cedo sofrer disso não parecia real, acreditava que seria depois de anos de carreira.
A passagem da adolescência para a vida adulta já é complicada por si só, tanto por pressões internas como externas. Aliado a isso, os últimos anos do ensino médio são bem desafiadores em relação a vestibular, junto com a escolha de uma profissão e depois, a inserção no mercado de trabalho. Ainda, muitos ainda não têm a escolha de apenas estudar, precisam trabalhar para bancar os estudos e para ajudar a melhorar a condição da família financeiramente. Então, a falta de oportunidade para a grande maioria desses jovens também é um agravante. Muitos jovens exercem funções em trabalhos mal remunerados, com longas jornadas de trabalho e sem perspectiva de crescimento profissional, presos em dois ambientes estressantes e de muita pressão, o dos estudos e o do trabalho. A falta de experiência também, a insegurança e a própria falta de informação deixam os jovens vulneráveis à síndrome de Burnout.
Competitividade constante, excesso de trabalho, metas irrealistas estipuladas pelos chefes, estes são alguns dos exemplos que podem levar uma pessoa a desenvolver o Burnout. A psicóloga Carla Presutti relaciona os sintomas da síndrome a um termômetro, indicando que a pessoa está fazendo esforços para se adaptar à rotina e às demandas, mas não está conseguindo. Além disso, a naturalização do trabalho à distância pós-pandemia e o estilo de vida moderno, com constante rapidez, resultado imediato, informações em quantidades elevadas e realizar tarefas simultaneamente exige muito da atividade mental, ocorrendo uma sobrecarga.
Segundo pesquisa feita pelo Grupo Adecco, empresa suíça de recursos humanos, 38% das pessoas ouvidas dizem ter sofrido os efeitos do Burnout, ao longo do ano de 2021. O levantamento mostrou também que 32% dos entrevistados informaram que a saúde mental piorou significativamente por conta do trabalho à distância. Os pesquisadores entrevistaram 15 mil pessoas, em diversos países do mundo.
A síndrome tem afetado especialmente as gerações mais jovens, principalmente as novas lideranças. Para 45% desses líderes, que fazem parte da geração da Geração Z (nascidos entre 1995 e 2010), o trabalho remoto ou híbrido desencadeou aumento da síndrome e a piora da saúde mental. O índice é de 42% entre a Geração Y (ou millennials), nascidos entre 1983 e 1999; 35% entre a Geração X (1961 e 1982) e de 27% entre os chamados Baby Boomers (1945 e 1960).
Psiquiatras e psicólogos são os profissionais indicados para fazer o diagnóstico. Depois de analisarem os sintomas, irão indicar o tratamento. Os sintomas são diários, podendo apresentar insônia, cansaço excessivo durante o dia, desânimo, falta de concentração, dores de cabeça frequentes e alguns distúrbios gastrointestinais. Análogo a isso, sentimentos de derrota, fracasso e insegurança são muito frequentes, levando a padrões de pensamento negativos. Dessa forma, pode acabar levando o jovem a um isolamento social e se não for tratado, pode resultar em graves estados de depressão, e também episódios de ansiedade, diminuindo a produtividade do indivíduo, que acaba afetando sua vida social e profissionalmente.
Quando houver alguma suspeita do trabalhador sofrer com Burnout, o correto é emitir um C.A.T., Comunicação de Acidente de Trabalho, e afastá-lo do ambiente de trabalho imediatamente, de acordo com a psicóloga Amanda. Em seguida melhorar as condições de trabalho, como estipular metas mais realistas, gerar um ambiente de trabalho colaborativo ao invés de ambientes de competição e pressão. Além disso, se o trabalhador conseguir provar que foi o ambiente de trabalho e estas condições que o levaram a desenvolver a síndrome, a empresa pode ser penalizada, oferecendo o tratamento e possível indenização pelos danos causados.
Prevenir e Ajudar
A prevenção deveria ser uma preocupação por parte do funcionário e da empresa. Para Carla, a preocupação com a qualidade de vida do funcionário no trabalho deveria ser regra número um das empresas, já que reflete na produtividade. Algumas maneiras de prevenção envolvem o gerenciamento da carga de trabalho, respeito dos limites pessoais e a construção de um ambiente de apoio. O incentivo de práticas saudáveis, dormir bem, tempo de lazer, ajudam em uma rotina saudável e de prevenção.
Como indivíduo, é preciso reconhecer e respeitar os próprios limites, tentar estabelecer metas realistas de curto e médio prazo, no trabalho e nos estudos. O incentivo de práticas saudáveis, como dormir bem e ter um tempo de lazer, ajudam na prevenção. E claro, sempre procurar por ajuda especializada, se for o caso.
Para ajudar uma pessoa com Burnout, é importante não julgá-la, mas oferecer apoio. Demonstrar empatia e acolhimento, que pode ser feito através de uma conversa, de uma escuta e, com certeza, incentivá-la a buscar ajuda profissional. Se a pessoa já chegou no nível da exaustão, ela precisa de ajuda. Entender quais foram os fatores internos e externos que a levaram a chegar nesse estágio, para que possa ocorrer mudanças na vida dela e, no futuro, não acontecer mais.
Foi o que Andre fez, compreendendo seus limites e como não os extrapolar. Depois, nunca mais teve uma crise grande daquela forma. O universitário lembra que, na época, passava mal e ainda se oferecia para continuar trabalhando. Hoje em dia, ele entende que precisa cuidar da própria saúde mental.