Cuba ocupa o 23° lugar no ranking de desigualdade de gênero, o que é um marco para um país da América Latina, nessa mesma escala o Brasil ocupa a posição 95°. Isso se deve muito ao fato de que mais metade dos cargos políticos são ocupados por mulheres no país da América Central. Cuba também tem baixos índices de violência física e psicológica contra mulheres registrados. Outro fator muito favorável ao sexo feminino é o aborto legalizado, o país foi o primeiro da América Latina a ter o procedimento legalizado até a 12 semana de gestação. E esse assunto não é um tabu para os cubanos, pelo contrário, é tratado com muita naturalidade no território.
Esses fatos trazem a ideia de que Cuba é um país que preza pela igualdade de gênero e democracia, porém, na prática, não é bem assim que acontece. A jornalista Viviane Naves de Alencar, passou um tempo em Cuba e fez várias pesquisas e entrevistas com as cubanas, afirma: “Cuba é uma sociedade muito machista. Existe assédio nas ruas – aqui eles chamam de piropos ou cantadas -, que expõe todo um contexto ainda bastante retrógrado, porém, até certo grau, tolerado por algumas mulheres”.
As mulheres cubanas vivenciam o machismo no dia a dia, os papéis masculinos e femininos são muito definidos no país e a mulher está ligada ao ambiente doméstico, da casa e dos filhos ainda. O que pode trazer a falsa impressão de que Cuba é mais evoluída que outros países é a falta de denúncias contra violência de gênero e assédio. E, também, o fato de que as mulheres nem sempre reconhecem que estão passando por uma situação machista.
A revolução cubana priorizou outras pautas e pouco se falou no papel da mulher e na questão de gênero na sociedade que lutou por um regime socialista. A revolução focou em vários âmbitos da sociedade, educação, saúde, saneamento básico e essas melhoras foram feitos para toda a população, mas se esqueceram que a mesma não se encontravam em condições iguais.
70% das mulheres na época estavam focadas nos trabalhos domésticos, além da quantidade enorme de prostitutas que vivia em Havana, ou seja, precisava ter havido um olhar voltado para essa população, para conseguir equilibrar as desigualdades. A jornalista complementa que “É visível a maneira como se explora a mulher como um objeto sexual e atrativo turístico, infelizmente”, no cenário atual, as mulheres ainda sofrem com esse olhar que objetifica a mulher, mesmo que em menor escala.
O que se pode perceber sobre Cuba é que é um país em que o machismo permeia a sociedade, mas de maneiras diferentes e sutis. Ainda é considerado um lugar mais evoluído nesse quesito, quando comparado a outros países latinos, mas tem muito o que melhorar e as mulheres têm um longo caminho na luta pela equidade.
“Isso é Cuba, um avanço imenso de um lado e do outro, um atraso. Como, por exemplo, o caso do aborto e do assédio na rua, dois pontos muito discrepantes dentro da mesma sociedade”, diz Viviane. Cuba se mostra contraditória na sua relação com as mulheres, pois mesmo que metade dos cargos políticos sejam ocupados por mulheres, menos de 30% delas têm posições de liderança. Mesmo que a mulher tenha direito ao aborto, no dia a dia, o que se espera delas é uma grande mãe e dona de casa.
Mas o fato é, mesmo com a revolução socialista, o machismo existe e pode ser sentido na pele, pelas mulheres da ilha, seja por um assovio na rua ou pela ideia de que a figura feminina deve ser apenas a mãe e esposa ideal. Mesmo que as mulheres tenham lutado na revolução, quem se sobressaiu e são lembrados, foram os heróis masculinos, como Che Guevara e Fidel Castro. Pois, o patriarcado é anterior ao capitalismo e pode, facilmente, sobreviver a ele e se manter em outros regimes políticos.