Os acréscimos pareciam eternos para o torcedor do Atlético-MG. Quando Riascos, jogador do Tijuana, estava há exatos seis passos da marca do pênalti e a alguns metros do gol, o coração do torcedor do Galo parou. A história depois disso é conhecida. Defesa de Victor, pavimentando o caminho para o inédito título da Libertadores, em 2013.
Tudo isso no Independência, estádio que pertence ao América-MG, outro time da capital Belo Horizonte. O Horto, como ficou conhecido, se transformou em um local dificílimo para os adversários jogarem. O Galo fez do estádio a sua casa. Mas há anos que busca um lugar de verdade para chamar de seu.
É aí que entra a Arena MRV, um estádio de novíssima geração, que o torcedor do Atlético anseia. No entanto, um problema grave assolou qualquer tipo de projeção: a existência de um passarinho chamado como Capacetinho-do-oco-do-pau que vivia na região.
A espécie é considerada globalmente vulnerável de extinção desde 2008 por conta da destruição do seu habitat natural.
Localizado no bairro Califórnia, na região noroeste de Belo Horizonte, a área é de vasta vegetação e não poderia ser desmatada para a construção do estádio.
“A gente tem uma série de questionamentos ali de ordem urbana e também porque há um pequeno córrego que não é canalizado dentro deste espaço, mas logo na frente na Teresa Cristina (avenida em Belo Horizonte) ele é totalmente canalizado. Há problemas com relação à Mata Atlântica: se é um bioma e se há resquícios de Mata Atlântica ali”, comenta Mário Werneck, secretário municipal de meio de ambiente de BH.
Há 3 anos, o clube brigava na Justiça para conseguir o alvará de construção no espaço escolhido. Algo que foi adquirido somente em dezembro de 2019.
Em 2020, o Atlético já começou a terraplanagem da região, ponto que foi interrompido por conta da pandemia do coronavírus.
No entanto, um ponto é crucial para que o estádio seja aceito e totalmente liberado: a forma com que reverterá o dano causado ao meio ambiente à população.
“O mínimo que tem que ser exigido do Atlético, além da compensação ambiental prevista na lei, é que a maior parte da área seja preservada e enriquecida, e que ela seja aberta para uso público, tem que ter um projeto de uso público que preveja educação ambiental, que preveja lazer para a comunidade. A compensação é a devolução que o Clube Atlético Mineiro vai dar à população de Belo Horizonte por ter sido autorizado a usar essa área verde”, analisa Dalce Ricas, ambientalista entrevistada pela reportagem.
Toda a área desmatada até o momento será revertida. As madeiras extraídas da região serão doadas à oficina de marcenaria da Cidade dos Meninos São Vicente de Paulo e transformadas em mobiliário para pessoas com menos condições financeiras.
Sérgio Sette Câmara, presidente do Atlético-MG, foi procurado pela reportagem para mostrar os planos do clube mineiro para se adequar ambientalmente e como usar o estádio como área de lazer para a população da região.
“Quando o estádio estiver entregue, toda a receita, tanto do futebol quanto de shows e qualquer outro tipo de evento que acontecer lá, será revertida 100% para o Atlético, o que não acontece com a maioria dos outros clubes que precisam dividir com o parceiro que construiu. E tudo isso será devolvido à população com shows e eventos”, destacou.
A obra, que foi orçada em R$ 410 milhões, teve um aumento de R$ 80 milhões por conta do processo de obtenção da Licença de Instalação. O estádio multiuso terá capacidade para 46 mil pessoas e tem previsão para ser entregue em 2022.
O torcedor do Atlético-MG, agora, terá o seu próprio estádio, o seu próprio lugar para comemorar mais feitos na história.