Como o feminismo pode abranger todas as mulheres e suas lutas?

A trajetória do feminismo, suas ondas e o feminismo negro
por
Rafaela Thomaz
|
23/03/2021

Segundo o Dicionário Oxford Languages, feminismo é uma doutrina que preconiza o aprimoramento e a ampliação do papel e dos direitos das mulheres na sociedade. Para explicar melhor, o feminismo é um conjunto de movimentos sociais, políticos, ideologias e filosofias que tem como objetivo de criar uma equidade entre homens e mulheres, sem distinção.

O movimento feminista remonta desde a época das revoluções liberais, em especial do período da Revolução Francesa. Olímpia de Gouges foi uma grande ativa na luta pelos direitos das mulheres, lançando em 1971 uma Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, em contraposição à Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.

Foto: Angela Davis (Fonte: Reprodução)
Foto: Angela Davis (Fonte: Reprodução)

As ondas feministas

O feminismo teve várias ondas, sua primeira durante o século XIX e início do século XX. A principal reivindicação era o de seus direitos políticos, as mulheres ficaram conhecidas como sufragistas e inspiraram um filme intitulado “As Sufragistas”.

A segunda onda feminista teve início nas décadas de 1960 e se estendeu até 1970. Influenciada pelo movimento hippie, defendiam a ideia de que as opressões e violências cometidas em local privado estavam relacionadas a uma conjuntura de opressão política.

Já a terceira onda começou na década de 1990 e continua até hoje. Iniciou com discussões acerca de algumas visões imprecisas da segunda onda e o debate foi ampliado com as Organizações Não Governamentais (ONGs). Atualmente, esses desafios são outros.

O feminismo negro

Durante grande parte de sua história, o movimento e as teorias feministas tiveram líderes em sua maioria brancas e de classe média, da Europa Ocidental ou da América do Norte.

O feminismo ainda está longe de alcançar o seu objetivo – o de igualdade iguais entre homens e mulheres, através da libertação do patriarcado. Ainda assim, a própria luta feminista se encontra dentro de uma bolha, sendo excludente por focar apenas nos problemas e nas lutas das mulheres brancas e esquecer da diversidade existente entre elas.

As mulheres negras enfrentam problemas diferentes desde o nascimento. São sexualizadas, objetificadas, usadas e forçadas a trabalhar desde crianças. Uma realidade – em geral – muito diferente das mulheres brancas.

Em seu livro “Quem tem medo do feminismo negro?”, Djamila Ribeiro traz vários textos falando sobre a realidade da mulher negra e como elas são alvos de constantes ataques. Uma de suas frases mais marcantes é “O jeito mais simples de se destituir uma pessoa é contar sua história e colocá-la em segundo lugar.” E é isso que a história fez e a sociedade ainda faz: colocam a história dos negros em segundo lugar, rebaixando-os.

Segundo Lélia Gonzalez, “O lugar em que nos situamos determinará nossa interpretação sobre o duplo fenômeno do racismo e do sexismo.” Sendo assim, é preciso que o feminismo se abra e comece a abranger outras lutas, englobando todas as mulheres e suas necessidades.

Angela Davis é um grande símbolo do movimento feminista negro nos Estados Unidos. É tudo o que o status quo masculino e branco não suporta: mulher, negra, ativa, inteligente, desafiando o sistema opressor.

Em seu discurso na Marcha das Mulheres, após Donald Trump assumir a presidência dos Estados Unidos, ela discursou “Nós representamos as poderosas forças de mudança que estão determinadas a impedir que as moribundas culturas do racismo e do patriarcado heterossexual se ergam novamente.”

Em síntese, a luta feminista tem suas vertentes, porém não pode nunca ser excludente. A inclusão de todas pode e deve acontecer. De acordo com jornalista Letícia Sepúlveda, especialista em textos sobre a luta das mulheres “A quebra dessa bolha é essencial.”

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