Como o Brexit pode afetar o futebol inglês

Das contratações às viagens, as implicações da saída do Reino Unido da União Europeia pode ter no futebol
por
Maria Fernanda Schwartsman
|
27/04/2020

Três anos depois de muitas polêmicas, incertezas e indecisões, o Brexit - termo usado para tratar da saída do Reino Unido da Europa - foi finalmente oficializado no dia 31 de janeiro de 2020.

Alguns cenários da saída estão sendo discutidos, e os termos são de extrema importância para a nova realidade britânica, fora da União Europeia. Um dos cenários, considerado mais “brando”, prevê regras menos rígidas em relação aos direitos do europeu no Reino Unido e do britânico na União Europeia. Outro, considerado mais “brusco”, deve tratar os europeus como estrangeiros dentro do cenário britânico, e vice e versa.

Diversas áreas do sociedade devem sofrer com o afastamento - economia, turismo, comércio, relações exteriores etc. Um dos pontos que deve ser bastante afetado é o futebol.

A Inglaterra possui um dos campeonatos mais importantes e ricos do mundo. Dentro da Europa, briga anualmente pelos títulos continentais - Liga dos Campeões e Liga Europa. Mas com 65% de jogadores estrangeiros - inclusive alguns dos principais -, o futebol inglês poderá ser bastante afetado com a saída britânica da União Europeia.

JOGADORES BRITÂNICOS X EUROPEUS

Foto: Getty Images
Van Dijk é holandês e joga pelo Liverpool da Inglaterra - Foto: Getty Images

A regra que, atualmente, trata os europeus como “comunitários”, deve deixar de existir e, com isso, eles vão passar a ocupar vagas destinadas de estrangeiros dentro do clube.

Além disso, os europeus vão precisar se enquadrar em algumas critérios para pedir uma licença de trabalho - antes só necessária para cidadãos de países de fora da UE.

No futebol britânico, existe um sistema de “pontuação” para a concessão ou não do documento. No caso de o jogador ter disputado um número x de jogos pela sua seleção nacional nos dois anos anteriores à solicitação, a permissão é automática. Posição 1 a 10 – mínimo de 30% de participação nos jogos da seleção

● Posição 11 a 20 – mínimo de 45% de participação nos jogos da seleção

● Posição 21 a 30 – mínimo de 60% de participação nos jogos da seleção

● Posição 31 a 50 – mínimo de 75% de participação nos jogos da seleção

Caso ele não se encaixe neste quesito, um painel de exceções decidirá sobre sua adequação ao trabalho. Entre os pontos a serem levados em consideração estão: o valor da taxa de transferência; o salário e histórico recente, além de apresentações orais, que também podem fazer parte das aplicações.

Foto: Getty Images
Trippier é inglês e joga pelo Atlético de Madrid, da Espanha - Foto: Getty Images

Os jogadores britânicos jogando em países europeus terão o mesmo problemas - também vão passar a ser considerados estrangeiros - e, com isso, a procura por eles pode diminuir.

O futebol, inglês também vai sofrer com o recrutamento dos jogadores menores de 18 anos. Por uma norma da Fifa, os jogadores menores de idade não podem ser protagonistas de transferências internacionais, mas era permitido caos eles fossem europeus. Isso, provavelmente, vai mudar, e os europeus serão igualmente estrangeiros, não podendo se transferir ao futebol inglês antes de completarem 18 anos.

MERCADO E IMPLICAÇÕES FINANCEIRAS

As questões relativas à compra e venda de jogadores e investimentos do clube também pode ser prejudicada, ainda mais se o acordo de saída for menos amigável.

Com o Brexit, a "diversidade" do futebol inglês pode cair de forma significativa, assim como o nível dos campeonatos, justamente pelo maior rigor nas contratações. Assim, é bem possível que os patrocínios, cotas de televisão (principalmente para transmissões para o exterior) e os investimentos, caiam - tanto para os clubes quanto para os campeonatos.

Além disso, a saída menos amigável pode desvalorizar consideravelmente a Libra, diminuindo o poder de compra e espaço dos ingleses dentro do mercado futebolístico.

VIAGENS DE JOGADORES

Por conta de um tratado da União Europeia, todos os cidadãos europeus têm livre circulação no velho continente, com o afastamento, isso não deve mais acontecer.

Por conta da regras bastante duras para a imigração para dentro do Reino Unido, alguns jogadores, que possuem passaporte europeu e, portanto, não tinham problemas para entrar no país, comecem a ter. Lionel Messi, Cristiano Ronaldo, Diego Costa e Marcelo são alguns

dos atletas que podem sofrer com isso. Todos eles têm condenações judiciais - mesmo que suspensas - e podem ter a entrada no Reino Unido negada, afetando adversários em possíveis confrontos com time britânicos.

FEDERAÇÃO X PREMIER LEAGUE

A Football Association (FA) - equivalente à CBF na Inglaterra - e a Premier League - campeonato local - estão travando uma disputa de bastidores.

Enquanto a FA quer regras mais duras, nas quais os jogadores seriam tratados como qualquer outro profissional e sem receber "benefícios" nas novas regras, visando mais espaço para atletas ingleses, a Premier League quer justamente o contrário, quer que as regras aos futebolistas sejam menos rígidas, para proteger o nível do campeonato.

INDEFINIÇÃO

Por enquanto, o Brexit vive um período de transição, no qual as regras ainda não estão valendo totalmente. O prazo, a princípio, é para que no dia 31 de janeiro de 2020 a transição acabe, e que se decida os termos do afastamento - mais brusco ou mais suaves - para, só então, ter a nova realidade do Reino Unido - e do futebol britânico - definida.

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