Como a Internet viabilizou as ações solidárias e a manutenção dos pequenos negócios

Texto por: Enzo Cury, Filipe Martins e João Victor Capricho
por
Enzo Cury
|
10/09/2020

 

A pandemia do Covid-19 causou impactos severos à economia nacional. Com o PIB sofrendo a queda histórica de 9,7 no segundo trimestre, o país vai sendo arrastado para a recessão. O setor mais afetado foi o da Indústria, com uma retração de 12,3 %, além disso, o segmento de serviços, responsável por 70% do valor do PIB brasileiro, sofreu uma queda brusca por conta do fechamento de estabelecimentos, como restaurantes, bares e lojas. 


Isso causou um aumento expressivo no número de desempregados, com cerca de 9 milhões de pessoas perdendo seus trabalhos também no segundo trimestre.


Com a obrigatoriedade do uso de máscaras em espaço público sendo aderida por diversas cidades do país, uma nova alternativa de negócios surgiu, tanto em grande quanto pequena escala. Com o comércio fechado, esta nova possibilidade de gerar renda foi um alento para empresas do ramo têxtil e para oficinas de costura, que apostam na confecção de máscaras para amenizar os prejuízos causados pela Covid.


A nível de bairro, principalmente em regiões periféricas, onde os impactos do desemprego são nítidos, a prática de costurar máscaras para revenda foi algo que muitos começaram a realizar. Tendo experiência no ramo ou não, diversas pessoas ingressaram neste nicho para ter alguma fonte de renda. 


Pela grande quantidade de máscaras sendo utilizadas diariamente, a produção é alta e a demanda maior ainda, o que transforma a atividade em uma solução viável para quem se encontra em uma situação de necessidade financeira, como é o caso de Dona Cida.


Maria Aparecida Madeira Benevides, conhecida carinhosamente como Dona Cida, reside no bairro do Tremembé, extremo norte de São Paulo, há mais de três décadas. Atualmente, Maria atua no mercado das máscaras, sendo sua principal fonte de renda, além de auxiliar no combate à Covid.


“Desde o início da quarentena comecei a costurar as máscaras e a demanda não para de crescer aqui no bairro. No começo tive que contar com a ajuda dos meus familiares para poder entregar todos os pedidos dos clientes, que eram muitos. Agora eu já consegui um pouco de dinheiro e contratei uns ajudantes para facilitar meu trabalho”.


Quando questionada sobre o alcance regional de suas vendas, ela afirma:


“Antes atendia só o pessoal aqui da Vila Rosa. Hoje em dia eu tenho clientes de vários bairros diferentes que me pedem para fazer as máscaras para eles. Acho que o boca a boca me ajudou muito a aumentar minha clientela. De tanto costurar, até criei novos modelos, para ser um diferencial da minha oficina, modelos personalizados estampas escolhidas pelos clientes”.
 
Ela acredita que a venda das máscaras será uma prática rentável por um bom tempo:

“Acho que pelo menos até o fim da pandemia compensa continuar. Assim eu consigo manter minha casa, além de ser algo que as pessoas precisam nesse momento tão complicado que nós estamos passando”.

imagem de máscara estampada sobre mesa de madeira

 
Ao passo que Dona Cida ingressou neste mercado devido à Pandemia, outra personagem, a artesã Kelsi, já vinha se destacando neste nicho mesmo antes da quarentena.

Para a artesã Kelsi, a produção e venda de máscaras, em meio a pandemia, surgiu como forma de manter sua renda. Através da utilização de grupos de whatsapp, ela conseguiu divulgar e comercializar as máscaras que estava produzindo inicialmente para a família. “Eu acredito bastante que tudo tem um porquê, acredito que a pandemia veio para isso e, para mim, teve esse lado positivo. Foi com as máscaras que eu me resgatei", afirma Kelsi.

A artesã ainda diz que, além da produção de máscaras, ela resolveu se aventurar na gastronomia, produzindo brigadeiros artesanais e também procurando cursos para aprimorar suas habilidades. “Eu até estou tentando inventar outras coisas para embarcar neste meio”, afirma Kelsi.

Para conseguir fazer as entregas, tanto das máscaras quanto dos quitutes gourmet, ela contou que precisou encontrar um valor um pouco mais baixo que, segundo Kelsi, foi um diferencial para manter o conforto de seus clientes. De forma positiva, ela ainda projeta um futuro no qual não precisará confeccionar mais máscaras e poderá retomar a produção dos brigadeiros.

Em diversos momentos da entrevista, a artesã deixa claro que, mesmo com a pandemia, buscou sempre o lado positivo, desde o momento em que retomou as confecções de máscaras e que, dessa forma, tem conseguido enfrentar essa situação pela qual todos estão passando.

Além do nicho das máscaras, a Internet também tornou viável a continuidade do comércio em geral. Outro segmento que está sendo muito explorado no momento, é o e-commerce.

Devido à (quase) impossibilidade de qualquer tipo de contato social, aqueles que não dispunham de plataformas digitais para venda e/ou revenda de produtos acabaram ficando impossibilitados de desempenhar suas funções.

Entretanto, aqueles que já vinham fazendo uso dos meios virtuais foram capazes de enxergar novas possibilidades e saídas frente à esta situação. Obviamente, em nenhum momento, a situação foi fácil, mas com o uso das ferramentas digitais de compra, venda e até de divulgação, foi possível contornar a crise.

“A gente vinha crescendo em relação ao Mercado, as vendas estavam ok. Em março/abril, entramos em uma crise, aonde nosso faturamento foi metade do que era em relação ao meses anteriores. Porém, no mês seguinte, retomamos com um faturamento muito melhor. Analisando o Mercado de Moda, percebemos promoções mega agressivas. Analisando todo o cenário, nossa estratégia adotada com a realização de grandes promoções intercaladas com lançamentos, criando muito incentivo de compra” afirma Flavio Ducca, responsável pela comunicação da La Femme, e-commerce de calçados flat.

De acordo com dados da Istoé, o Brasil, durante o período de isolamento social, registrou um aumento de 400% no número de e-commerces registrados. Isso evidencia que a internet e o meio digital de tornaram a principal saída atualmente.

“A La Femme é de birigui, a “cidade do calçado infantil” e, aqui, existem muitas fábricas de sapatos. Por falta de uma estrutura digital, diversas fábricas fecharam as portas. Então, o fato de termos a vertente do e-commerce foi muito importante, além de uma grande oportunidade. Vimos que ter presença digital e é totalmente necessária, isso não é um plus, não é uma escolha, é uma necessidade” contínua Flavio.

O “novo normal” evidenciou a necessidade da presença online da maneira mais nítida possível quando queremos manter ou até iniciar um negócio. O acesso à internet, no Brasil, ainda é muito elitista, e nem todos o possuem, mas, de certo modo, ela ainda pode vir a ser o meio mais democrático quando se quer empreender.

De todo modo, o meio virtual não auxiliou apenas os lojistas e comerciantes… a internet foi capaz de sustentar uma rede/um movimento solidário que tem crescido cada vez mais em nosso país, como é possível observar no texto!

Quando não podemos agir de maneira física, descobrimos que o meio online é capaz de possibilitar ações e engajar público!
 

Independente da existência de um contexto social pandêmico, ou até mesmo caótico como o que estamos vivendo, está mais que claro que a internet se mostrou a principal via e catalizador para as ações que envolvem engajamento de público geral.

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Economia e Negócios

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