Como aprimorar os debates para que eles sejam úteis aos eleitores?

O modelo tradicional de debate passa por uma crise por conta da queda no interesse e na atenção dos eleitores
por
Manuela Troccoli e Pietra Nóbrega
|
23/11/2022

O ano de eleição no Brasil é um momento em que o país todo se junta para exercer seu
direito de cidadão e eleitor em prol da democracia.

Diversas emissoras do país organizam um debate entre os candidatos com o intuito que a
população possa conhecer mais das propostas de cada um e analisar a resposta que ele
apresentará para seu adversário.


Entretanto, quando falamos a respeito dos debates, especialistas afirmam que em vez de
ajudar a fortalecer a democracia, os debates têm contribuído para disseminar fake news e
erosiona-la.


Doutor pela Faculdade de Direito da USP, Fernando Neisser acredita que atualmente os
candidatos não conseguem fugir das mentiras faladas nos debates.


“Não acho que seja possível impedir que os políticos digam mentiras, seria como pedir que
parem de respirar. Obviamente, a mentira na atividade política é mais perniciosa do que
quando respondemos que está tudo bem diante de uma pergunta protocolar.” Além disso,
ele diz que a postura dos deputados nos debates é diferente.


“Acho muito difícil julgar os candidatos pela postura nos debates, uma vez que agem sob
orientação das pesquisas qualitativas, que lhes mostram exatamente o que seu eleitorado
espera deles”, afirma.


Paula Bernardelli, advogada, conta que essa postura reflete o que estavam sendo os
discursos das candidaturas fora dos debates também. Um debate com regras mais estritas
poderia resolver esse problema, mas poderia também tirar a espontaneidade do debate.
Observar quais candidaturas estão dispostas a debater propostas e quais não estão
também é importante para o eleitor fazer sua escolha”.


Entretanto, Neisser acredita que a checagem de fatos pode contribuir positivamente.
“Especificamente para os debates, acredito que as emissoras que os organizam podem
cercar-se de serviços de checagem de fatos para atuar em tempo real. O excesso de leis
sobre o tema impõe que candidatos aceitem as condições de cada debate e, parece a mim
óbvio, que dificilmente gostariam de serem expostos ao vivo.”


Paula concorda com os argumentos de Naisser ao afirmar que deveria haver uma forma
possível de checagem fática simultânea em debates eleitorais. Candidatos podem divergir

sobre diversos temas, mas a disputa de narrativas sobre a realidade é bastante prejudicial
para a democracia.


Para Leandro Consentino, doutor em Ciência Política pela USP e professor do Insper, sua
visão é um pouco diferente; os debates viraram um ringue, uma briga que originalmente
deveria ser uma disputa eleitoral e promover um espaço para conhecer melhor as propostas
dos candidatos.


Um segundo ponto de vista, seria passar um exemplo para a sociedade do que seria uma
disputa democrática, pois os debates acabam se tornando um palco para disseminação de
notícias falsas, entretanto a população deveria se informar o mínimo que seja sobre seus
candidatos e os ideais que eles apoiam, assim cooperando contra as Fake News.


Contudo, para Consentino a realidade atual do país é: “os debates vêm ficando no debate
na mera agressão e revelam a pouca capacidade de pensar propostas importantes para
melhorar o país, e acabam sendo ineficazes do ponto de vista do eleitor, que busca analisar
as propostas”.


Para ele, a maneira de resolver (ou pelo menos, elevar a qualidade) dos defeitos apontados
nos debates seria estabelecer agências de checagem em tempo real.


Assim, confirmando aquilo que foi dito pelos candidatos, e provando para os interlocutores o
que era consistente ou não nas falas dos candidatos: "com uma agência de checagem,
você indiretamente incentiva o candidato a não mentir, uma vez que ele sabe que seria
automaticamente desmascarado, durante ou logo após o debate".


Portanto, o modelo tradicional de debates nas eleições passa por uma crise, que decorre da
perda de capacidade de atenção por longos períodos de tempo, problemática essa que vem
ocorrendo nos tempos atuais. Essa nova realidade afeta os debates, e as emissoras que
contam mesmo com grande audiência entre o público.


Sabendo desse anseio de consumo de pílulas de informação, candidatos têm todo incentivo
em ensaiar frases de efeito, curtas, para chamar atenção com seus públicos, ao transformar
as longas horas do debate em vídeos curtos e memes, posteriormente distribuídos pelas
redes sociais.


Assim, os debates possuem ampla capacidade de repercussão e geram um retorno muito
grande para as emissoras de todo o país, porém parece que tempos atuais tornam ainda
mais difícil que se possa extrair um conteúdo útil ao eleitorado.

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