Com aumento da precarização, motoristas da Uber sofrem com falta de amparo

Aplicativo de viagens explora mão-de-obra e repassa ainda menos ao trabalhador
por
Isabela Mendes
|
22/09/2022

São Paulo, 20/09/2022 - Os motoristas do aplicativo de viagens Uber têm sofrido com o aumento da precarização do trabalho pela plataforma nos últimos meses. Com a elevação da tarifa sobre o valor das corridas e a redução dos direitos, os trabalhadores se veem desamparados pelo do aplicativo.

A falha da Uber em oferecer condições de trabalho dignas a seus associados não é novidade. Em março deste ano, por exemplo, a empresa constava na lista de aplicativos que não provêm boas condições laborativas, ao lado de outras plataformas conhecidas por ofertarem trabalho semelhante, num movimento chamado de “uberização do trabalho”. São elas: iFood, 99, Get Ninjas, Rappi e Uber Eats, ramo da companhia voltado para o delivery de comida. O estudo foi elaborado pelo Oxford Internet Institute em parceria com WZB Berlin Social Science Centre, e foi denominado “Fairwork Brasil 2021”.

No mesmo mês, a plataforma anunciou um reajuste de 6,5% na taxa a ser retida nas corridas e, com o aumento constante no preço dos combustíveis, para muitos motoristas, o trabalho – que já era precário – passou a não compensar mais.

Perguntado sobre as condições para trabalhar oferecidas pela empresa, Marcello Del Vecchio, estudante de geografia na Universidade de São Paulo (USP), metalúrgico e motorista da Uber aos finais de semana, dispara: “Então, ‘mano’, não é o justo, ‘tá ligado’? Pelo menos não era o justo antes da pandemia. Também teve toda essa alta do combustível, e aí muitas pessoas foram deixando de fazer, e eles foram ‘obrigados’ a aumentar a tarifa. E também não tem nenhuma garantia de acidente, roubo… O Uber nada mais é do que um aplicativo de recepção de chamadas”. “A empresa pega um ‘tecão’ de mais de 25% pra ela e você que se vire”, afirma.

No entanto, devido à atual conjuntura econômica do país, marcado por 11,3 milhões de desempregados e um aumento histórico no número de trabalhadores na informalidade, isto é, aderindo à chamada “pejotização” ou à onda forçada dos MEIs (microempreendedores individuais), Marcello confessa ainda ser necessário se submeter às corridas exaustivas e mal-remuneradas para complementar a renda mensal. 

“A Uber nesse momento é o que me salva, ‘tá ligado’? É uma graninha que entra, já dependi muito da Uber para pagar as minhas coisas, pagar meu carrinho...”, explica.

De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possui 38,7 milhões de trabalhadores sem carteira, alcançando uma taxa de informalidade de 40,1%. 

Em dezembro do ano passado, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei (PL)  1665/2020 que garantia seguro contra acidentes e afastamento por infecção pela covid-19 a entregadores de aplicativos como iFood, Loggi, Rappi e Uber Eats, ou seja, plataformas de entregas. O aplicativo de viagens, porém, não foi incluído no projeto. Apesar do aparente avanço, a proposta não configurava vínculo empregatício entre o autônomo e a plataforma, e foi pensada para durar apenas até o fim da pandemia no país, decretado em maio deste ano pelo Ministério da Saúde. 
 

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