Chuvas fortes devem reduzir colheita de milho, o que pode impactar o preço de frango e porco

As chuvas foram um dos fatores que beneficiaram a boa produção de soja no início do ano pela exata mesma questão que preocupa os produtores de milho
por
Andre Nunes e Flavia Cury
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24/05/2023

As fortes chuvas que atingiram o Estado de São Paulo atrasaram o plantio da segunda safra do milho, por isso, estima-se uma redução de 8% no total colhido. Como o cereal é uma das principais matérias-primas para a produção de ração animal, isso pode levar a um aumento de preço das carnes de frango e porco em cerca de 6%.

Isso ocorreu em razão do atraso na colheita da soja, safra anterior ao grão. Por conta do excesso de chuva, o ciclo da oleaginosa foi alongado, pois o produtor foi impedido de fazer o trabalho de campo.

"Agora que a colheita foi feita, as chuvas deixaram de ser um fator relevante na soja, e passaram a ser um fator importantíssimo para o milho", explica o analista agrícola Pedro Schicchi. 

Com esse adiamento, essa safra corre o risco de ter sua fase final e primordial de desenvolvimento durante um período mais seco do ano, o que leva a espigas com tamanho e volume menores. 

Por isso, a segunda safra está com um calendário mais estreito. “Alguns produtores decidiram  por não plantar milho com medo de sair dessa janela, isso resultou em uma diminuição de 3% na área do cereal”, diz Daniel Rosa, assessor técnico da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho). 

Se as chuvas continuarem, a disponibilidade hídrica para o desenvolvimento do cereal aumenta, mas, o problema é que tende a parar de chover, já que entramos nos meses mais secos do ano. 

Em 2023, a produção de milho do Estado de São Paulo ficará próximo das 4 milhões de toneladas, uma diminuição de 8%, frente às 4,3 milhões de toneladas do ano anterior.

Produção de soja neste ano 

Por outro lado, as chuvas foram um dos fatores que beneficiaram a boa  produção de soja no início do ano, pela exata mesma questão que preocupa os produtores de milho. 

Ela é plantada em setembro e colhida em fevereiro, por isso, recebeu muitas chuvas durante o estágio final de seu desenvolvimento, as quais favoreceram a lavoura do grão.

Além do atraso na colheita, elas trouxeram apenas dois contras: a maior porcentagem de grãos ardidos (aqueles que entraram em fermentação após receberem muita chuva) e o aumento na incidência de mofo branco e ferrugem asiática, já que elas encontraram condições ideais de proliferação, explica Candice Romero Santos, superintendente de Informações da Agropecuária da Conab. 

Esses fatores não causaram impacto significativo, ao contrário do algodão, por exemplo, da qual 600 hectares de terra precisaram ser replantados em razão dos fungos.

Com a boa lavoura de soja, espera-se um cenário positivo para o mercado doméstico e para a exportação, com valores reduzidos e quantidade ampliada. No entanto, a alta no volume de produção pressiona a logística, afetando os preços e a capacidade de transporte. 

Os embarques dos cinco principais complexos exportados pelo país (soja, carnes, cereais, produtos florestais e sucroalcooleiro), saídos de São Paulo, em termos de volume, diminuíram 25% em fevereiro de 2023, comparado com o mesmo mês de 2022. Em relação aos últimos cinco anos, a redução é de 12%.

Santos ressalta que esse recuo nas exportações tem relação com outras variáveis que não apenas as chuvas. Para o complexo soja e o complexo sucroalcooleiro, por exemplo, é importante pontuar que houve redução na produção.

Quando colocado na balança, segundo Schicchi, uma safra ruim de milho é mais sentida pelo bolso do consumidor final do que a soja, pois ele é utilizado na fabricação de ração para frango e porcos.

Com isso, o custo de produção dos pecuaristas aumenta, tendo consequência no preço da carne desses animais nos mercados e açougues. 

Alta das chuvas e previsão para o restante do ano 

Segundo Cleverson Freitas, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), as chuvas ficaram acima da média em grande parte de SP, atingindo até 1194 mm de volume em algumas regiões.

Elas foram causadas principalmente pelos sistemas meteorológicos que já atuam sobre o estado durante esse período, o transporte de umidade vindo da Região Amazônica, sistemas de baixa pressão, e frentes frias que atingiram o estado.

Vale lembrar que todas as regiões do país foram afetadas de alguma forma, já que os volumes de chuva foram maiores que 500 mm em áreas do norte da Região Sul, grande parte das regiões Centro-Oeste e Norte, além do centro-sul da Região Sudeste.

Porém, a previsão para junho - justamente o final do desenvolvimento dessa leva de milho -, indica o oposto desse começo de 2023. O INMET prevê volumes de chuva abaixo da média para os próximos três meses em grande parte da Região Sudeste, principalmente em São Paulo.

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