ChatGPT já impacta na confiabilidade das notícias e nas fake news

Inteligência artificial usada para criação de textos pode ser utilizada para criar desinformação em massa
por
Lucas Munhoz Rossi e Henrique Baptista
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05/07/2023

Os especialistas em desinformação avaliam que os chatbots alimentados por Inteligência Artificial são mais persuasivos que seres humanos, pois não cometem erros gramaticais ou de tradução, o que pode aumentar sua credibilidade. Por isso, vem sendo usados para espalhar desinformação de uma forma mais rápida e competente.

Segundo uma pesquisa da organização NewsGuard, em que solicitaram ao ChatGPT que elaborasse respostas com base em informações falsas e enganosas, o “bot” atendeu a esses pedidos em aproximadamente 80% das vezes.

Em um dos testes, solicitaram ao chat um pequeno artigo sobre como a ivermectina seria um tratamento comprovado e eficaz para a Covid-19, o resultado foi um texto composto por seis parágrafos extremamente persuasivos e repletos de informações falsas.

Em entrevista ao Contraponto Digital, Gilmar Lopes, criador do site “e-farsas” que desmente boatos na internet desde 2002, afirma que a desinformação virtual já vem atingindo um novo nível desde a chegada do programa da Open AI.  “A forma como espalhar conteúdo desinformativo ganhou outro patamar, pois além do alcance, há à disposição dos criadores de “Fake News” um enorme banco de dados que amplia ainda mais as possibilidades”, diz.

Vale lembrar que a base de dados do ChatGPT vai até setembro de 2021, por isso ele ainda não pode fornecer informações mais recentes e atualizadas. Em futuras atualizações, quando esse limite de data for quebrado, o programa terá um potencial ainda maior para a criação de desinformação. 

A injeção desenfreada de informações falsas na internet, vem trazendo consequências notáveis na sociedade e na democracia. Investigações da Polícia Federal indicaram que nas eleições de 2018 grupos políticos de extrema direita utilizaram contas automatizadas para espalhar e impulsionar notícias falsas. Com a ajuda e popularização das novas IAs, essas ações podem voltar a acontecer em escalas maiores nos próximos anos.

A jornalista, apresentadora e criadora do curso “Caminhos para a Sanidade digital em tempos de inteligência artificial”, Rosana Hermann, indica a possibilidade de um efeito de alienação completo da sociedade no futuro. “Pode haver uma banalização, um descrédito geral, com a sociedade sendo exposta a tantas “Fake News” que deixe de achar importante combatê-las”, comenta.

Regulamentação da plataforma

Temendo esse avanço desenfreado, muitos países já estudam regulamentações para o programa. Na União Europeia, o chamado “Ato Europeu de IA”, propõe restrições significativas ao uso da inteligência artificial em áreas como infraestrutura crítica, educação, aplicação da lei e sistema judicial. 

Algo parecido também está acontecendo no Brasil, como é o caso do PL 21/2020, que é um projeto de lei que visa regulamentar o uso das IAs. A proposta legislativa é de autoria do deputado Eduardo Bismarck, presidente da Frente Parlamentar Mista da Inteligência Artificial. No entanto, o projeto aguarda aprovação na Câmara dos Deputados desde setembro de 2021.

Há controvérsias sobre quem deve regulamentar esses programas. Francisco Costa, pesquisador e mestre em desenvolvimento de sistemas com foco em inteligência artificial, acredita que a solução está na união de todas as categorias da sociedade. Para ele, é necessário ter um tripé: legislativo, educacional e social.

“O legislativo para termos uma legislação específica, o educacional para que haja uma prática de cultura da checagem, de proteção de dados pessoais e de uso da internet, e o social para que possamos avançar na agenda de convívio com IA”, afirma Francisco.

O pesquisador também ressalta a importância de uma modernização no julgamento de crimes nesse segmento, já que eles ainda são julgados pela justiça criminal comum, com base em uma legislação que não possui artigos claros e atualizados aos avanços tecnológicos, estando limitado à falsidade ideológica, fraude, calúnia e injúria.

Problemas no presente e preocupação com o futuro

Kenneth Corrêa, Diretor da “80 20 Marketing” e especialista em Inteligência artificial, ressalta a existência de outras plataformas que vão além da produção de textos. “Tecnologias como o DeepFake podem ser usadas para simular áudio e até vídeo de pessoas”, diz.

Um exemplo da utilização dessas tecnologias ocorreu com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky. Na ocasião, circulou um vídeo do governante anunciando rendição às tropas russas. O vídeo viralizou nas redes sociais e em emissoras de TV locais. No entanto, o material havia sido gerado através de DeepFake. 

O contexto social brasileiro vem se mostrando um terreno fértil para a disseminação de mentiras. Segundo Francisco, “há um fomento baixo ao jornalismo e para que a população procure informação em fontes confiáveis e que se informem em mais de um veículo. Existe uma cultura de desconfiança da mídia, e isso só aumenta a vulnerabilidade”.

A tecnologia já oferece um arsenal completo de recursos para a produção de “Fake News”, e à medida que avançamos no desenvolvimento e na implementação dessas tecnologias inteligentes, surgem questões éticas e práticas que exigem atenção cuidadosa. A falta de controle e autonomia das IAs, que podem levar a consequências imprevistas e inéditas tanto judicialmente quanto socialmente. 

No entanto, Rosana Hermann acredita que mesmo com os riscos, não se deve proibir uma ferramenta com tantos benefícios. Para a jornalista, é preciso ter consciência dos perigos, além de ter sistemas que regulamentem, impeçam e punam o uso do programa para fins disruptivos.

Segundo Gilmar Lopes, devemos nos acostumar com o uso das inteligências artificiais, e buscar soluções para amenizar seus perigos. "Deveriam ser criadas comissões para que se criem diretrizes. Isso não deveria passar pelo Estado, mas por entidades educacionais como universidades, institutos de pesquisas e representantes da sociedade”, conclui o pesquisador.

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