Por Gustavo Romero
Por natureza, a cerveja artesanal traz uma promessa de autenticidade. Diferentemente das cervejarias industriais, que produzem em grande escala e procuram uniformidade, as microcervejarias se concentram em processos manuais, ingredientes escolhidos a dedo e, frequentemente, preparam receitas exclusivas. Para o cliente, isso é percebido como uma maneira de escapar da uniformização, de se conectar com uma produção mais transparente, que, teoricamente, proporciona mais sabor e a história por trás de cada garrafa. Esta busca pela autenticidade reflete uma tendência mais ampla na sociedade atual, caracterizada pelo anseio por personalização e pelo descontentamento com produtos de consumo em massa, impessoais. A cerveja artesanal, com sua variedade de estilos, sabores e particularidades, parece ser a solução para essa procura por algo singular, manualmente produzido.
Cada rótulo possui uma história, um vínculo com a cultura de uma região específica, algo que não se encontra nas latas padronizadas das grandes empresas. Em essência, ao optar por uma cerveja artesanal, o cliente não está adquirindo apenas uma bebida, mas uma experiência sensorial mais abrangente e, possivelmente, uma maneira de consumir de maneira mais consciente. A fabricação de cervejas artesanais requer tempo, calma e frequentemente um alto nível de experimentação e inovação. Contudo, à medida que as marcas se expandem e a procura cresce, o controle de qualidade se torna mais complexo e a tentação de optar por métodos industriais mais ágeis e econômicos pode se tornar irresistível. Esse fenômeno já foi observado em outros setores, como o do vinho e do café, onde grandes empresas adquiriram pequenas marcas para reformular sua produção, sacrificando parte da qualidade e da filosofia que lhes garantia autenticidade.
Para Gabriel Almeida, dono de uma cervejaria do bairro de Santana, a cerveja artesanal não se trata apenas da bebida em si, mas também da cultura que ela representa. Ele conta que cada tipo de cerveja possui uma história, uma procedência e uma conexão com a tradição de determinados territórios.
Gabriel cita o exemplo do Brasil, comentando sobre a forte ligação com o interior paulista, o que se manifesta em algumas nas receitas. Sempre que possível, utilizamos ingredientes regionais, como milho e cana-de-açúcar, que são bastante representativos do estado. Portanto, a cerveja se transforma em um espelho de um local, de um estilo de vida. Todos estão interligados por essa cultura: a comunidade, o produtor e o consumidor. Ele conta ainda sobre o desafio de se destacar em um mercado saturado, sem perder a qualidade. A competição aumentou muito, com novas cervejarias surgindo, o que torna o cenário mais desafiador para quem está começando. Segundo ele, outro desafio é o custo de produção. A cerveja artesanal exige muito mais atenção aos detalhes, e os ingredientes de qualidade são mais caros. Existe uma pressão para manter o preço competitivo, sem comprometer a qualidade. E, claro, tem a questão da regulamentação. A indústria de bebidas, em geral, tem uma regulamentação muito rígida, e a cerveja artesanal não é exceção. Isso acaba exigindo muito mais tempo e investimento para adequação aos padrões legais.
O futuro da cerveja artesanal no Brasil é muito promissor, segundo Gabriel. Ele acredita que a sustentabilidade será uma grande tendência. Muitos consumidores estão mais conscientes sobre o impacto ambiental dos produtos que consomem, então a indústria de cerveja artesanal vai precisar repensar processos e embalagens para atender a essa demanda. Além disso, os estilos mais exóticos, com combinações inusitadas de sabores, vão continuar crescendo. A cerveja artesanal sempre foi um campo fértil para a inovação, e isso não vai mudar. O importante é manter o foco na qualidade e na história que estamos contando com nossas cervejas.